Estudando a vida de Paulo de Tarso, principal responsável pela difusão da Nova Vida em Cristo, que poderia ter sido facilmente ofuscada pela tradição judia que colocava a Lei de Abrão (Torah) superior ao anúncio evangélico do Filho de Deus semeado na Judéia, comecei a refletir sobre a vida do cristão contemporâneo.

Com a vinda de Jesus ao mundo surge um novo fundamento da Lei: o amor. Colocar a Lei como caminho de salvação, era para Paulo, fonte de pecado, pois fazia do cristão escravo da Lei. Por isso, a proposta evangélica, universal, submetia a Lei ao seu fundamento, Cristo morto e ressuscitado, que não veio ao mundo por outro motivo que dar uma compreensão nova (trinitária) as relações intrínsecas da Criação.

Entender o amor além de preceitos hierárquicos, da submissão autoritária (muitas vezes imposta pela Fé) é um processo de reconhecimento cultural complexo, difícil e foi assim também para a igreja primitiva que tinha que unir o universo pagão –  helenista e os judeus convertidos.

A figura de Paulo de Tarso mostrou-se imprescindível para essa união eclesiástica e para a mudança cultural epistemológica e metodológica que inclui toda a humanidade à salvação e não somente o Povo Eleito.

Sem ignorar a mesma atitude da Igreja Católica medieval que vinculava Salvação a Fé em Cristo, disposta a assassinar “hereges”, surge a necessidade de refletir sobre uma possível re-evangelização dos cristãos do Sec. XXI (no que diz respeito a compreensão dos preceitos de fé) para seja evidenciada, não a normatividade acinzentada, mas o fascínio que a Fé em Deus (vida religiosa) comporta.

Esse fascínio, para os cristãos, é personificado no martírio de Cristo, que ao dar a própria vida, redimensionou o conceito de amor e o apresentou como caminho único para a verdadeira felicidade, não como busca primária, masoquista, mas como acolhida alegre  e fiel às adversidades, fatalidades da vida terrena, inúmeras permissões para a descoberta daquele mesmo amor que Cristo testemunhou.

Ser cristão não se baseia a uma restrição cega à regras impostas por uma instituição conservadora – como pensa grande parte do mundo niilista – mas é sobretudo uma experiência cotidiana e verdadeira do amor comunitário que, quando olha para a sua instituição (Vaticano) à serviço da Palavra (cf. Dei Verbum), encontra sustento e orientação para permanecer nesse amor sobrenatural.

“O fim da Lei é Cristo” (Rm 10,4)