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ÁFRICA DO SUL A Copa do Mundo não tem apenas o desafio de mostrar ao mundo a riqueza cultural e humana do continente africano, mas deve também levar benefícios econômicos e sociais à população do país que a sediará

A Copa do Mundo não é só mais um campeonato de futebol como costumamos acompanhar pela televisão. O evento esportivo mais popular do planeta se apresenta, sobretudo, como uma importante oportunidade de captação de investimentos para o desenvolvimento da infraestrutura, aumento na oferta de trabalho e, consequentemente, crescimento econômico para o país-sede.

Todos esses benefícios socioeconômicos se apresentam como solução paliativa, principalmente, para a África do Sul, a maior economia do continente africano, que sofreu uma retração de 6,4% no ano passado por conta da crise mundial.

Mas a pergunta que também interessa a nós brasileiros por conta da Copa do Mundo de 2014 no Brasil é: como fazer com que toda a riqueza depositada no país, durante essas grandes manifestações esportivas, seja efetivamente “partilhada” com a população local?

Como resposta concreta a esse questionamento, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, junto com o ex-presidente sul-africano, Thabo Mbeki, e em parceria com a União Europeia, criaram o projeto “Win in Africa, With África” (Vença na África, com a África). “A iniciativa tenta garantir que a Copa do Mundo da FIFA 2010 deixe um legado duradouro para a África do Sul e para o continente africano”, explica o presidente da principal organização do futebol mundial. A proposta faz parte de um grande projeto da FIFA, o “Futebol por um Mundo Melhor”, que tenta fazer do esporte um recurso para o desenvolvimento social.

Além de construir diversos campos de futebol em todas as regiões do continente, a FIFA tem feito parcerias com universidades africanas, que oferecerão cursos de gestão esportiva e organização de eventos, além de promover o desenvolvimento da medicina do esporte.

Na área da comunicação, o “Win in Africa, With África” fez uma parceria com a Fundação AFP, da agência France-Presse, para realizar um treinamento a fim de formar centenas de jornalistas africanos para a cobertura da Copa do Mundo deste ano. “Graças à nossa parceria com a Fundação AFP, cerca de 300 profissionais de mídia de todas as regiões da África estão sendo treinados em cursos de jornalismo de alta qualidade nos últimos 12 meses”, afirmou o presidente da Fifa, Joseph Blatter.

Outro importante legado social para o continente e para os outros países participantes foi a primeira Copa do Mundo de Meninos de Rua. (www.streetchildworldcup.org). Organizado por diversas ONGs, o projeto levou oito times de crianças de rua vindos da África do Sul, Brasil, Índia, Ucrânia, Nicarágua, Tanzânia, Reino Unido e Filipinas para participarem de um evento em Durban, cidade sul-africana localizada na costa do Oceano Índico.

Durante o evento, além das atividades esportivas, foram feitas oficinas de vídeo onde os meninos contavam suas histórias por meio da arte, além de uma conferência com diversos representantes políticos e personalidades envolvidas nas ações em prol das crianças de rua. No final do encontro, foi criado o Manifesto da Criança de Rua, assinado por todos que lá estavam. A próxima edição da Copa do Mundo de Meninos de Rua acontecerá em 2014, no Brasil.

Ações de formação, trabalhos de infraestrutura e de educação. Todo esse massivo investimento na África tem, por outro lado, a necessidade de continuidade. Uma das principais preocupações parte justamente da geração de milhares de empregos temporários para, por exemplo, a construção de estádios, que pode gerar um grave problema social após o fim dos jogos. Durante os últimos anos, esses milhares de trabalhadores conquistaram um padrão de vida que não será mantido depois do evento.

Outro problema está nos chamados “Elefantes Brancos”, expressão usada para obras que só têm utilidade específica e temporária, sendo que em grande parte dos casos, ao final do evento, acabam abandonados pelo alto custo de manutenção, como é o caso dos modernos estádios construídos para sediar os jogos da Copa.

Copa para os africanos

Todos os trabalhos e o legado que a Copa do Mundo quer deixar para os africanos não exclui a preocupação para que o povo do continente também possa desfrutar diretamente do evento propriamente dito.

Porém, de acordo com o Comitê Organizador da Copa, a procura por ingressos pelos africanos tem sido muito baixa, mesmo diante do fato de que a África do Sul sediará um dos Mundiais mais baratos da história para a população local. Na categoria 4, reservada apenas para sul-africanos, o custo será de 140 rands (moeda local), o equivalente a pouco mais de 30 reais, enquanto os ingressos para estrangeiros variam de 80 dólares (cerca de 140 reais) nos lugares mais baratos para os jogos da primeira fase, até 900 dólares (mais de 1500 reais) no lugar mais caro da final.

A fraca presença de público foi um dos principais pontos negativos da Copa das Confederações, evento “pré-Copa, realizado na África do Sul em julho de 2009. O único jogo que teve lotação total foi o confronto entre Brasil e Itália, ainda pela primeira fase.

As dificuldades sociais são uma das muitas justificativas para a pouca participação da população na compra dos ingressos. Por isso, para amenizar esse problema foi criado o Fundo de Ingressos, uma iniciativa inédita nos 80 anos de história da Copa do Mundo da FIFA que, como primeira medida, prometeu que cada um dos 20 mil operários receberá dois ingres-sos para uma partida no estádio que estiver ajudando a construir.

“O objetivo do Fundo de Ingressos é tornar as partidas da Copa do Mundo da FIFA 2010 acessíveis àqueles que não teriam meios ou outra forma para adquirir ingressos. Os bilhetes não serão doados gratuitamente, mas concedidos como uma forma de recompensa ou incentivo, especialmente para os jovens sul-africanos que participam ou contribuem em atividades de desenvolvimento humano e social”, explica o site oficial da FIFA (www.fifa.com).

Também as crianças poderão adquirir um melhor conhecimento de questões ambientais, como a importância da reciclagem, aprenderão sobre a prevenção contra o vírus HIV, entre outras questões importantes, que são projetos apoiados pelo Fundo de Ingressos e estão se realizando nas escolas sul-africanas.

“A Copa ajudará o nosso país, principalmente em alguns negócios. Muitas pessoas, de modo especial aquelas com um espírito empreendedor, se beneficiarão, mas não é um segredo que, com suas políticas de negócio e licenças, a FIFA monopoliza as oportunidades e acaba sendo a mais beneficiada” – contrapõe João Ladeira, sobre o trabalho social realizado pela FIFA na África do Sul.

Assim, quando o apito soar, no próximo dia 11, para a partida inaugural entre os anfitriões e a seleção mexicana, não estará em jogo só o título de campeão da Copa do Mundo de futebol, mas também será possível observar a capacidade de fazer de um evento de entretenimento uma oportunidade de prover bem-estar para a população, carente não apenas de reconhecimento no campo esportivo, mas principalmente de recursos para o desenvolvimento como país.