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Desejo… vontade…

Porém, que bendito desejo era esse que me levou a tantos pequenos milagres e me trazem até aqui, há um mês da minha formatura?

O mesmo desejo que me fez escolher jornalismo. O mesmo desejo que me faz querer ter uma família, ser ético, viver pelas pessoas.O desejo de ver um mundo melhor.

Claro, isso é uma ideologia. Como o marxismo, o capitalismo e todos os “ismos” que levaram a civilização para frente ou para trás. Olhando mais ou menos para o ser humano.

Em muitas das discussões durante o curso fui chamado de existencialista. Mas como viver nesse mundo caótico, permeado de indiferença, sem acreditar nas potencialidades e no protagonismo dos seres humanos? Tudo bem, eu admito, sou sim existencialista.

Foi partindo desse pressuposto que pensei, pela primeira vez, no meu projeto de conclusão de curso.

Queria fazer algo de concreto e transformador. Não algo pretensamente grande, mas essencialmente útil e que fosse também um dom em retribuição a Deus, aos colegas, professores e também à faculdade.

A minha primeira idéia foi fazer um Portal na internet de instrução e formação de comunidades sobre a importância da comunicação como ferramenta de transformação das realidades.

Pensei em um trio de trabalho, tinha já algumas pessoas em mente, mas me vi diante de dificuldades técnicas que talvez fossem impossíveis de serem superadas.

Aí me questionei a respeito do que mais me faltou como formação na faculdade. Durante esses quatro anos na PUC percebi que não tive um aprofundamento na “arte” de transformar informação em imagem. Textualmente a dificuldade é já bem menor no final do curso, mas em vídeo as deficiências só não foram maiores por conta da aula de telecine e do estágio que fiz na TV Cultura.

Bom, era isso, vídeo. Queria fazer um documentário. Mas para falar de que?

Novamente o desejo de fazer algo útil me motivou a me questionar sobre isso. Entendi que deveria falar sobre a experiência de mergulhar no mundo da comunicação, de me transformar em jornalista, ainda mais em tempos de desregulamentação, escassez de ética e conformismo profissional.

Assistindo “Santiago”, do excelente João Moreira Salles, entendi que teria que partir daquele modo de conceber as idéias de maneira visual, de ver a si mesmo, por meio do discurso e da vida dos outros.

Foi assim que pensei nos meus quatro personagens. Estudantes, jovens como eu e que, em diferentes universidades, origens, experimentam na essência aquilo que ainda hoje me questiono. Do que valeram esses quatro anos?

Não pensei nessa empreitada sozinho. Pensei em fazer em trio, para dividir idéias, para construir algo “junto”. Porém, quis as casualidades da vida que isso não acontecesse. Por conta do estágio na TV Cultura, acabei perdendo a possibilidade de participar de algum grupo e mesmo de convidar alguém para entrar no meu.

Assim estava eu, cheio de idéias, projetos, mas sozinho. “É possível fazer jornalismo sozinho?” Questionou uma das minhas entrevistadas. Definitivamente não, é a minha resposta. E não o fiz.

Mesmo sofrendo para me organizar, trabalhar, estudar, namorar, jogar bola no time da faculdade, fazer tudo isso sem perder a vida social que sempre foi prioridade para mim, decidi encarar o desafio.

E, aos poucos, entrevistando um, conversando com outros, vi os caminhos se abrirem e chegar àquilo que posso apresentar, certo de duas coisas: fidelidade aos 99% de transpiração e ao desejo de fazer algo útil.

Encontrei discordâncias, desafios técnicos, limites pessoais, intelectuais, mas uma grande alegria e motivação em desenvolver um aspecto profissional que a faculdade não pôde me dar e que eu considero estratégico para o meu futuro como jornalista.

Enquanto essa fase se conclui, começa uma outra, com os mesmos desafios e impossibilidades que a vida apresenta, mas aquela certeza, fruto do desejo transformador, existencialista, que carrego, me dá a plena serenidade de que, o que me espera, são COISAS GRANDES.