Pistões naturais

Com movimentos ritmados os pistões naturais me levam todos os dias ao trabalho

E não é um caminho curto, nem mesmo longo,

mas é por meio deles que posso ver o mundo de uma ótica incomum,

imperceptível aos meus iguais.

Enquanto de carro existe só o eu,

no transporte público o nós,

sobre a bicicleta o foco é o mundo.

E nos movimentos ritmados de pernas vejo motociclistas burlarem as regras de trânsito

O taxista passar veloz ao meu lado, sem preocupação com a minha segurança

Ônibus, carros, todos apressados para buscarem o seu espaço na Grande Máquina.

Eu, não.

Uso os pistões naturais para exercitar-me, o corpo, a alma e os olhos.

Para ver que no mundo existem mais que carros, que a poluição, que o tempo.

Existe uma vida que passa, quase no mesmo ritmo decidido dos pistões naturais.

Mas que, se não vivo, o tempo leva embora.

E continuo infeliz, ou comodamente igual aos meus iguais.

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1 Comment

  1. Gostei muito desse! Menos do final, do último verso… Uma pessoa de bike deveria ser mais feliz, ora pois é a nossa esperança (do verbo esperançar e não do verbo esperar). Quando vou de patins por aí, vou bem feliz. Mas não é rotina. Vou como ia quando criança no interior patinava até gastarem todas as rodinhas. Olha que engraçado, ser feliz era rotina. A felicidade agora nos patins vem de estar sobre rodas diferentes das dos carros em São Paulo, porém, se com os patins nos pés eu não estivesse ali, pensasse em outros lugares, outras coisas… Não teria tanto espaço assim para essa felicidade. Patinar é bom porque acaba sempre me colocando no presente. Quando se está no presente é difícil ser infeliz. Com bike deveria ser o mesmo.

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