Com movimentos ritmados os pistões naturais me levam todos os dias ao trabalho

E não é um caminho curto, nem mesmo longo,

mas é por meio deles que posso ver o mundo de uma ótica incomum,

imperceptível aos meus iguais.

Enquanto de carro existe só o eu,

no transporte público o nós,

sobre a bicicleta o foco é o mundo.

E nos movimentos ritmados de pernas vejo motociclistas burlarem as regras de trânsito

O taxista passar veloz ao meu lado, sem preocupação com a minha segurança

Ônibus, carros, todos apressados para buscarem o seu espaço na Grande Máquina.

Eu, não.

Uso os pistões naturais para exercitar-me, o corpo, a alma e os olhos.

Para ver que no mundo existem mais que carros, que a poluição, que o tempo.

Existe uma vida que passa, quase no mesmo ritmo decidido dos pistões naturais.

Mas que, se não vivo, o tempo leva embora.

E continuo infeliz, ou comodamente igual aos meus iguais.