Fragmentos

Hai de mim! Se tivesse que contar todas as migalhas que o despedaçar cotidiano do meu pão, derrama sobre o gélido chão.

Pois são nas perdas, no perder-me, que reencontro esses fragmentos comestíveis, fruto inestimável de tantas vitórias, graças incontáveis.

Aí, nesse exercício de não ser mais um todo, mas pequenos pedaços de um processo contínuo de desfazer-me, por Amor, perceberia que sou a resenha de tantos relacionamentos, o lead da mais bela notícia chamada Felicidade.

Enganam-se aqueles que reconhecem as vitórias ignorando os fracassos, as tantas perdas e sofrimentos, que fazem valer cada sorriso límpido, cada forte abraço, fresca manhã.

Cada vitória tem sempre um custo proporcional, em cada sorriso meu estão embutidas muitas lágrimas, senão seria tudo teatro.

E assim, a migalhas não são só fragmentos que compõem o meu ser, são também o reflexo do “esfarelar” constante das minhas certezas, das minhas idéias, sentimentos, (não dos meus valores), mas um renunciar-me para ser nada.

Hai de mim! Se acreditasse que é em meu todo que guardo a essência do que sou.

Na verdade sou os fragmentos “recolhíveis” do pão disforme que enfim se despedaçou.