Month: January 2010

Vamos todos esquecer o Haiti

Demorei para esboçar um raciocínio, o menos emotivo possível, a respeito da catástrofe que estamos vivendo nos últimos dias, junto aos haitianos.

A notícia do desastre foi uma péssima “boas vindas” após 25 dias de descanso no Recife.

Claro que seria muito mesquinho, beirando a estupidez, reclamar meu desconforto diante da situação, por preferir ter chegado em São Paulo com ares mais tranqüilos.

Mas como não podemos fazer escolhas deste tipo, acabei precisando engolir, em doses homeopáticas, a desconfortante cobertura da imprensa desse que foi considerado pela ONU “um desastre histórico”.

Imediatamente coloquei-me a pensar nos desastres que venho observando desde o meu primeiro lapso de consciência. Na cabeça vinha… El Niño, Katrina, Etna e como esquecer do Tsunami?

Este último, pude ver com meus olhos a dimensão da catástrofe. Sim! Os estudos geológicos afirmam que aquela zona de choque entre placas tectônicas está sujeita a catástrofe como a que dizimou algumas regiões praianas, sobretudo a província de Aceh, em um dos pólos da ilha indonésia de Sumatra.

A porta voz da ONU, Elisabeth Byrs, disse estes dias em Genebra, na Suíça, que “nunca antes na história das Nações Unidas enfrentamos um desastre deste tamanho. Não é comparável a nenhum outro”.

Ler essa afirmação me incomodou… primeiro porque quase imediatamente vinham as recordações daquele mês vivido no sudoeste asiático, testemunhando a fragilidade do ser humano perante a natureza.

Depois, claro, porque desta vez estou aqui, sentado no meu computador, no conforto do meu lar, enquanto apodrecem milhares de corpos (já são estimados, provisoriamente 50.000 mortos, 250.000 feridos e 1,5 milhão de desabrigados).

Ta e aí? Devem perguntar os poucos interessados que chegaram até esse ponto da minha explanação. O que eu posso fazer?

Bem… sinceramente eu estou cansado de algumas coisas, mas principalmente em ver que grande parte da Imprensa, sobretudo A GRANDE, faz uma apuração tão desconfortante, tão absurda, que em vez de nos aproximar daquela realidade, em vez de concentrar esforços para fazer uma análise profunda desse acontecimento, procurando dar sentido para nós, brasileiros, fica constantemente mostrando números e números, situações de salvamento, mortos, confusão, transformando a catástrofe em fenômeno, quase um filme, enquanto lá, naquele país, existem histórias que terão um desfeche desolador.

Será que isso pode ser um motivo para continuar aqui sentado na minha cadeira, mais incomodado que sensibilizado com a situação desses nossos irmãos “americanos”?

Não sei.

Sei que um desastre tem a excelente capacidade de nos fazer esquecer outros. Já nem lembro mais com clareza o que aconteceu em Angra, no Ano Novo e aposto que grande parte das pessoas não sabe que, até agora, o número de mortos por causa da chuva, no Brasil, é já o dobro do ano passado (hoje morreram outras pessoas por conta de deslizamentos na Grande São Paulo)

Mas, na verdade, o que mais me preocupa é justamente essa distância que sinto do povo Haitiano. Convivi por um ano com um senhor daquele país… alegre, sorridente, como tenho no meu imaginário o povo da América Central.

Será que as pessoas sabem que no Haiti se fala Francês? Que o país conta com um pouco mais de 8 milhões de pessoas? Que tem dez departamentos (estados) e que é o país que rivalizou com o Brasil no Sec. XVII, junto com as Antilhas, no período da exportação de açúcar?

Bom… muitas coisas a respeito do país eu não sabia, não sei. Pior, provavelmente, daqui há alguns meses, como aconteceu no pós Tsunami, a maioria das pessoas não vai nem lembrar do que está acontecendo agora nessa ex colônia francesa.

Agora todo mundo se mobiliza, faz isso ou aquilo, dá dinheiro, mas não consigo imaginar se as pessoas têm noção de que, para recuperar um país de um desastre como esse, é necessário mais de uma década. Quem não vai esquecer disso?

Como fazer com que não vivamos tapando buracos, mas cuidando dos lugares por onde passamos? Como fazer com que as pessoas entendam que TODOS temos culpa desse terremoto, que é muita covardia dizer que é um fenômeno natural, enquanto diversos estudos mostram que grande parte das catástrofes podem ter origem no nosso modo de viver que vem ocasionando o “entediante” AQUECIMENTO GLOBAL?

Claro, ficar sentando aqui não vai resolver muita coisa, foi por isso que decidi escrever. Assim quem sabe podemos nos ajudar a não esquecer de que a solução começa em nós.

29 dias no país do Tsunami – Parte 21: Minha casa do outro lado do mundo

Todas as vezes que me sento para escrever como vivemos um dia aqui tenho a impressão de poder escrever um livro.

Acordamos cedo com o barulho de músicas e gritos. Porém consegui dormir bem, descansei bastante e me levantei as 8:30h.

Depois formos fazer algumas fotos de Patrick e Andrew ensinando inglês para as crianças e logo em seguida fui tomar café. Comemos e logo em seguida fomos trabalhar.

Como não me sentia muito útil ali, com os peões, naquele momento, fui jogar com os e as crianças da escola. Diverti-me um bocado. Demos muitas reisadas e eu até aprendi um jogo novo com as meninas.

Fomos almoçar e depois fui conversar um pouco com Ago e descansar. Quando acordamos fomos novamente convidados para um banho de mar.

Desconfiado da última (e traumatizante) experiência perguntei em inglês se era o mesmo lugar que havíamos ido no dia anterior. Disseram que não, que era muito longe e deveríamos até ir de caminhão para chegar até lá.

Procurando manter a tranqüilidade e confiar no que havia dito subi na caçamba do caminhão, acompanhado de uns 20 meninos, 4 freiras e meus companheiros de viagem! Uma aventura!

Era interessante saborear aquele céu, aquele vento no rosto, uma sensação de liberdade que só a natureza e uma alma desapegada podem resumir!

É difícil explicar o lugar maravilhoso que fomos hoje a tarde. O Paraíso. Nunca estive num lugar tão bonito. A praia maravilhosa, limpíssima e deserta. As palavras nunca poderão descrever a beleza do lugar

Nadei um pouco, joguei futebol com as crianças e fiz algumas fotos. Tenho já a impressão de ter nascido aqui, de ser um deles. Não entendo uma só palavra de Bahasa (a língua local), mas sinto o forte o amor desse povo.

Ler o livro da historio do Movimento dos Focolares (Il Popolo nato dal Vangelo) durante essa aventura me faz ser outra vez apaixonado pelo Ideal e pelas pessoas…

Page 2 of 2

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén