416Chico Bento passou toda a sua infância na roça. Típico caipira brasileiro, daqueles que anda descalço, com chapéu de palha, ele sempre se divertiu pescando ou nadando no rio. Porém, com o passar dos anos essas coisas sagradas que mais o divertiam, começaram a se tornar perigosas, devido a poluição dos rios, que causou as mortes peixe e a devastação decorrente do crescimento do Agronegócio.

Seus pais: Seu Bento e Dona Cotinha, não conseguiam explicar para o então adolescente Chico o que estava acontecendo com a Vila Abobrinha. Agora Chico Bento só encontra paz ao lado de sua namorada, Rosinha, e com seu primo Zé Lelé. O Nhô Lau, dono da fazenda em que ele e seus amigos adoravam roubar goiaba, virou político e se mudou pra Brasília.

Porém, foi o seu primo da cidade Zeca que se tornou a maior pedra no sapato de Chico. Ele, que sempre morou num apartamento na Capital e se dedicou aos estudos, vivia brigando com o caipira por ele estar quase sempre alienado aos problemas do mundo…

_ Chico, você é burro? – dizia Zeca quando ia visitar o primo e o ouvia resmungando que a indústria tinha acabado com o Rio e as plantações de soja com a diversidade de frutas, sem saber a origem desse grande problema.

_ Mais purqué Zeca? Num to intendendo essas ofensas primo! – dizia Chico.

_ Chico você ficou matando as suas aulas quando era moleque e agora não entende que o Capitalismo tem alguns mecanismos próprios e que essa devastação é fruto disso. – explicava o primo.

_ Vixi Maria, se eu encontrá esse tar di Capitalismo vo enchê ele de porrada!

_ Meu… como você pode ser tão inteli-jégue? Deixa que eu te explico. Desde que o Capitalismo, que é o modo como a sociedade vem se organizando economicamente, foi instaurado no ocidente, tivemos ciclos de crise que comprometeram o futuro de todos. Porém, as primeiras crises eram mais polarizadas nas grandes economias e mais espaçadas, mas com a globalização todo mundo passou a estar interligado e assim não só podemos estar mais em contato com as pessoas de outros países, mas também acabamos compartilhando, mesmo sem querer, os problemas. Além das crises serem bem mais constantes.

_ Ah! Agora to começano a intendê. Tem a ver com a tar da internet que o Russo vive cantando nos comerciar di TV, num tem?

_ Tem Chico, tem… mas é algo bem mais grave, não é só isso. Em dois momentos da historia houve grandes crises: Em 1.929 e em 1.973. A primeira foi nos Estados Unidos e gerou uma grande depressão no país, porque eles estavam produzindo mais que consumindo e esse excedente virou uma grande divida praticamente impagável. Assim, muita gente estava envolvida com o mercado financeiro, a tal bolsa de valores, perderam todo o dinheiro que haviam, à medida em que as empresas faliam.

_ Meu Deus do Ceu! Que triste! Qui nem quando aquele presidente ladrão confiscô os dinheiro das aposentadorias do pessoar aqui no Brasil? Safado… meu pai também perdeu um bocado.

_ Mais ou menos. No caso do Collor o problema era outro, que não vou explicar agora tá?. Então… voltando… O problema da Crise de 29 só foi resolvido com a Guerra Mundial. Pois os países da Europa ficaram todos destruídos e assim os Estados Unidos voltou a produzir bastante coisa e vender pra eles.

_ E pessoar esperto ein! Só ganhando em cima dos otros!

_ Pois é Chico, mas em 1973, outra crise atingiu o mundo. Só que mais grave e parecida com a que estamos vivendo hoje. No Brasil, depois daquele período chamado Milagre Econômico, em que o pais estava crescendo bastante, o mundo começou a atravessar uma fase de queda do bem estar econômico e como principal medida, decidiram aumentar o preço do petróleo.

_ Aquele negocio preto pros trator andá?

_ Isso Chico, o diesel é feito a partir dele. Então, mas o mais engraçado é que também naquela época achavam que a crise não ia atingir os países subdesenvolvidos como o Brasil.

_ Pois é, eu me alembro que no Jornal Nacional o Lula disse que a onda da Crise era uma marolinha.

_ Sim, mas ele errou, talvez por não ter estudado bem a história do Capitalismo. Mas não tardou muito e como agora, também em 1973, a crise chegou e se desenvolveu de maneira rápida. Muita gente perdeu o emprego por conta das alternativas que os países ricos traçaram para sobreviver.

_ É isso que eu num intendo. O que qui os trabaiadô tem a ver cas histórias? Eles num tem dinheiro nas tar di Bolsa di Valores que tão caindu, num tem dólares e ainda ganham poquinho!

_ Então Chico, é isso que diferencia essas duas grandes crises da de 29. As economias hoje são muito interligadas. As empresas multinacionais estão por todo lado. Descobriram que, para crescer, precisavam buscar locais aonde poderiam pagar menos os trabalhadores e não pagar o uso das terras. Como essa indústria que está poluindo o rio que você nadava quando era criança.

_ Num credito!!

_ Sim, bem assim. Para piorar, essas empresas buscaram se desenvolver tecnologicamente e substituir pessoas por robôs e outras máquinas. Com isso, você pode imaginar: mais desemprego.

_ Eta pessoar marvado esses gringos não?

_ Pois é, mas como também está acontecendo agora, em 1973 eles viam como solução para eles, expulsar os estrangeiros que tinham ido para ajudar na construção do país, como os mexicanos nos Estados Unidos, e assim aumentar a quantidade de emprego e também mandar todo o dinheiro que ganhavam nos países em que estavam as suas multinacionais para voltar a enriquecer as empresas matrizes.

_ Cumé qui podi isso? Ele vêm, robam nossa terra, distroem a natureza e pegam todo o dinheiro, botam nu borso e levam pra fora?

_ Bem isso. O que é solução para os países ricos vira um problema muito sério para os pobres. Você lembra que eu disse que a Crise de 29 só foi resolvida com a Segunda Guerra Mundial, não lembra.

_ Mas… o que qui ocê qué dizê cum isso primo?

_ Que, como também aconteceu em 73, teremos períodos difíceis pela frente.

_ Mas num tem uma solução diferente pra esse problema?

_ Olha, em 1973 já tinham percebido que a crise não era só um problema econômico, precisava de mudanças estruturais sérias. Principalmente no que diz respeito à divisão do trabalho. Mas nada foi feito. Como agora. O discurso dos políticos é sempre: CONSUMAM!! CONSUMAM!! CONSUMAM!! E eles não percebem que isso não resolve absolutamente NADA!

_ Mais que terrível. Que qui nois vai fazê?

_ Olha Chico, para ser bem sincero com você ninguém ainda sabe. Em 1973 a crise levantou questões importantes: a ecologia, o impasse energético, a consciência dos limites do modo de vida americano, a auto-imposição social das minorias culturais e éticas, a valorização das raízes culturais do Terceiro Mundo e a pregação de uma ciência ética. Tudo isso voltou a ser dito com a nova Crise, mas novamente o mais importante é entender que não dá para pensar que o dinheiro vale mais que as pessoas. O número de desempregados está aumentando absurdamente e gente desocupada é já um grande alarde social.

_ E é isso que eu num intendo. Esse pessoar da cidade não sabe o comé importante estar com as pessoas. São tudo istressado pra ganhá dinheiro e morrem antes do tempo. Num sei o qui fazê, mas entendi que num posso mais ficá fartando nas aulas da escola, porque a gente precisa di gente preparada pra mudá essa bagunça que é a política econômica.

_ É esse o espírito Chico. Mas chega de conversar sobre isso. Eu vim aqui para andar a cavalo, comer pamonha e bebê leite de verdade. Não agüento mais leite desnatado de caixinha… o coisa sem sabor!

_ Hahahahha… nunca pensei que ocê um dia ia preferi o interior qui a sua capitar. Não é só o mundo qui muda, mas as pessôa tamém.