Engaiolado

Vivo engaiolado e

muitas vezes queria não ter aprendido a voar.

Assim não teria descoberto o quão belas são as árvores no outono,

ou o como é lindo o jardim de rosas que desabrocham na primavera.

Voar me fez ver um mundo novo,

Construiu em mim novas certezas,

Reestruturou meu DNA, com combinações cross over,

Tornando-me um novo indivíduo, sem resquícios das raízes naturais.

Muitas vezes queria não ter aprendido a voar.

Assim não seria tão difícil voltar, depois de contemplar as montanhas de Mendoza.

Ou maravilhar-me cada vez mais com abraços, beijos e sorrisos das mais belas moças.

Voar me fez ver um mundo novo,

Emancipou tão bruscamente a minha alma,

Que não consigo mais acreditar que o mundo é somente a árvore onde está despojado meu ninho.

Assim, muitas vezes procuro, para não machucar meus irmãos, seguir adiante sozinho.

Muitas vezes queria não ter aprendido a voar,

Pois voar me fez ver um mundo novo,

E descobrir que não posso mais voltar para trás,

Pois não é mais aqui, nas redondezas, que se limita o meu povo.