É verdade ! Nós brasileiros precisamos nos liberar do tal « Complexo de Vira-Lata » quando nos comparamos aos países considerados desenvolvidos. Todo país tem problemas e o caminho rumo ao bem-estar social é muito menos linear do que a maioria pensa. Mudanças culturais não podem ser impostas « verticalmente », mas devem ser internalizadas de maneira transversal por cada cidadão. Claro que o Governo tem um papel importante em liderar e orientar essas mudanças, mas a aceitação e a adoção cotidiana delas dependem de cada um de nós.

Esse parágrafo introdutório é fruto de uma reflexão feita nos últimos dois dias. Vivendo na Suíça, um dos países mais ricos e desenvolvidos da Europa, tenho a oportunidade de observar as decisões políticas de outro ângulo. O caso mais curioso é a greve dos funcionários públicos do « estado » de Genebra esta semana. O motivo é simples: precisando economizar aproximadamente 700 milhões de francos (2,6 bilhões de reais), o Governo local apresentou orçamento para 2016 com cortes drásticos que afetarão particularmente a vida dos funcionários públicos, que discordam com veemência da decisão. Ontem, cerca de 11 mil pessoas tomaram as ruas do centro da cidade de Genebra exigindo uma revisão e um diálogo aberto com os trabalhadores.

Conheço bem esse filme: em momentos de crise que impulsionam uma expressiva diminuição dos gastos, quem são os primeiros a pagar a conta no Brasil? Os professores. Claro que, no caso da crise de Genebra, o corte de 5% dos funcionários se estende a todo o setor público, mas incluir os profissionais da educação nesse processo pode gerar consequências dramáticas a longo prazo.

É importante também ressaltar que, comparado aos outros « estados » Suíços, os funcionários públicos de Genebra ganham mais e trabalham menos. Por outro lado o custo de vida, impulsionado pela presença da comunidade internacional (funcionários da ONU e diplomatas, que têm privilégios fiscais) é extremamente alto.

A conclusão é simples. Com menos entradas e mais custos, as contas não batem e o Governo precisa tomar decisões impopulares. A minha pergunta, porém, é a seguinte: Porque em vez de empurrar esses custos « goela abaixo » da população, o Governo não estuda uma diminuição dos benefícios fiscais das agências da UN e representações diplomáticas?