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Um ano em que a Menina que perdeu o assovio encontrou com Deus

Paulinha e sua mãe, Telma

Paulinha e sua mãe, Telma

Eu e a Menina que perdeu o Assovio éramos muito amigos. Encontramos-nos pela primeira vez em frente à universidade em que estudo. Aquele sorriso, de uma fragilidade…

… só menor que o meu desconhecimento a respeito da Fibrose Cística, doença que a levou há um ano atrás.

Com a Ju demos gostosas risadas. Uma amizade verdadeira, instantânea, como esses macarrões que matam a fome de gente apressada e preguiçosa de comer coisa que realmente sustenta.

Mas o que mais me sustentou depois que ela partiu,  foi ver que saber conviver com a dor é uma arte, uma graça que poucos conseguem lidar. Nisso a Menina que perdeu o Assovio era imbatível.

Poucos acreditavam que as suas recaídas a faziam frágil, que os desmaios preocupavam.. Todo mundo achava que poderia ser manha… as vezes eram, mas a sua alegria contagiante era o que ocultava a sua doença.

Por ela, conheci a maravilhosa Telma. Mãe e mulher de força guerreira, de cuidados de enfermeira profissional. Conselheira, amiga… doce quando a Menina que perdeu o Assovio precisava de mimo e dura quando precisava de coragem.

Deliciosos pães de queijo (mineiros, claro), saborosas conversas, inesquecíveis comunhões.

Bom… Viver a “passagem” de alguém machuca, sobretudo uma alma despreparada como a minha. Principalmente sabendo que o final da sua vida, a Menina que perdeu o assovio precisava enfrentar sozinha.

E aí, o desespero da impotência. De abraçar sua mãe, ouvir: “Eu me sinto a Desolada” (Maria, mãe de Jesus, que viu o filho morrer) e simplesmente chorar e assumir aquela dor, como minha. Afinal de contas as dores, como as alegrias, precisam ser compartilhadas SEMPRE.

Já faz um ano e eu não consigo esquecer da minha despedida, não consigo esquecer do Adeus, mas mais que tudo isso, não esqueço as risadas, os “gansos”, as broncas, as poesias e a certeza que o nosso reencontro será tão festivo, como o curto período de convivência.

Texto em homenagem à Paulinha Bichara que, no dia 23 de julho, fez seu primeiro aniversário ao lado de Deus

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A menina que perdeu o assovio

Para sempre Paulinha – Revista Cidade Nova – outubro de 2008

A palavra que transforma – by Paulinha Bichara

 

A menina que perdeu o assovio

Era uma vez a menina que vinha da terra do pão de queijo. Na sua cidade ela era conhecida por ser a menina do assovio.

Quando foi descoberta, tinha quatro ou cinco anos, em uma das festas da quermesse em que a banda mais famosa da região tocava músicas típicas.

Durante a apresentação de um dos maiores sucessos do conjunto, a menina se desvencilhou de sua mãe, correu pro microfone e assoviou a mais doce melodia que o povoado havia sentido. Todos ficaram maravilhados com a capacidade da menina, tão nova, ninguém assoviava como ela.

Passou sua infância sendo convidada para acompanhar os mais variados grupos cover, típicos da terra do pão de queijo, até Rock ela assoviou. Era realmente muito boa. Porém, um dia ela acordou cansada, deveria fazer uma participação especial no aniversário da cidade, assoviando diante do prefeito e o delegado, além de todos os amigos da escola e familiares.

A música começou lenta e na hora em que a menina deveria assoviar o som saiu fraco, destoado com a música. Ela tentou uma, duas, mas na quinta vez desistiu e correu chorando.

Depois de alguns meses foi descoberto que a menina ia perder o assovio. Aquilo foi um choque pra menina. Era aquilo que a fazia mais feliz, aquilo que a tornava especial diante de todos os habitantes da terra do pão de queijo.

Passou semanas em casa, trancada no quarto chorando. Culpava Deus de tamanha injustiça, até que a sua querida avó, talvez a pessoa que a menina mais gostava, bateu na porta e pediu pra entrar pra conversar com ela.

A avó, sempre doce, paciente, começou a dizer pra menina todas as coisas boas que aconteceram na vida dela depois que ela havia descoberto que sabia assoviar como ninguém. Que tinha se tornado famosa, que era querida por todos, mas que aquilo era um Dom de Deus. Que da mesma forma que ele havia dado, tinha o direito de tirar e dar a outras pessoas. Desta forma, a menina deveria agradecê-Lo por ter sido agraciada com aquele Dom, por tanto tempo.

Depois daquela conversa a menina saiu do quarto. Tinha redescoberto o sentido da vida, mas mais que tudo, tinha entendido que as graças são passageiras, mas a felicidade em vive-las servia de força para o momento em que elas se fossem.

Correu para a igrejinha que ficava perto da sua casa e agradeceu a Jesus por tudo, por ter sido presenteada e que agora queria continuar vivendo e procurando oferecer cada passo, cada momento, como agradecimento por ter uma família tão maravilhosa, por morar em um lugar tão gostoso e ter tantos amigos.

Assim ela voltou a viver normalmente, a ir pra escola, estudar muito, porque queria fazer medicina, querendo provavelmente descobrir uma cura para recuperar o assovio.

Até que um dia, em uma festa, em meados de fevereiro, começou a dançar. Não parava nenhum momento, estava com seus grandes amigos, era um momento muito feliz. Depois conversaram, riram, comeram juntos e ela descobriu outro jeito gostoso de ser feliz: Ter amigos e curti-los.

Aquela foi uma grande descoberta e desde então ela nunca mais pensou no assovio, deixou-se levar, deixou Jesus fazer essa surpresa e um dia ela veio, mas é uma outra história.

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