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Pensando os modelos de Ensino e de Comunicação

humanistaHoje, por meio de uma rede social, debati com caros colegas de estudo algumas questões a respeito do cenário educacional brasileiro.

Mesmo tendo abordagens e leituras diferentes, mais por conta das nossas histórias pessoais, do que  por qualquer outro motivo, pudemos pensar juntos sobre a importância da distinção da escola com os outros “espaços” da sociedade, para que ela recupere algumas dimensões de caráter filosófico e, porque não, religiosos, que o modelo de ensino funcional perdeu. Essa distinção não é, contudo, um rompimento de relações, mas a redescoberta da identidade específica da escola, no favorecimento de um processo de ensino global.

Dominique Wolton, ao analisar o ambiente pedagógico, essencialmente “transmissor de conhecimentos”,  com o universo comunicacional, por ele analisado, é categórico:

“No campo da educação é preciso transmitir os conhecimentos… mas, hoje, os professores estão muito mais atentos às condições de recepção. Ensinar sempre foi comunicar, isto é, pensar nas modalidades que permitem ao receptor, o aluno, compreender aquilo que lhe é dito, e ao professor, por sua vez, levar em conta as reações de seu aluno”.

Conhecer as dificuldades e, principalmente, os ruídos, em prol de uma comunicação autêntica necessita, essencialmente, do encontro fundamental com o Outro (e seus limites). Essa metodologia relacional e, por que não, pedagógica, permite que a “partilha” seja “aceita” pelo receptor de uma informação/conhecimento.

Assim, tanto o comunicar, como o ensinar, em uma dinâmica relacional, promove modelos mais eficazes, no que diz respeito aos resultados funcionais e, principalmente, redescobrem a riqueza de uma metodologia que nasce da fadiga do “Encontro entre “Outros”.

“O indivíduo que aprendeu a melhor se conhecer e a se expressar  (e eu acrescentaria aqui, na metodologia que se fundamenta no Encontro entre Outros) é também mais critico”, afirma Wolton.

Onde estão os nossos modelos? – Revista Cidade Nova – Junho 2010

SOCIEDADE Jovens apontam personalidades que consideram modelos verdadeiros, mesmo diante de fatores que impulsionam a exaltação de nomes que incentivam o consumismo. Especialistas explicam como esses modelos são construídos

“Definir alguém como modelo de valor não é muito simples, mas admiro muito o cantor brasileiro Seu Jorge, que, na sua simplicidade, mesmo depois de ter entrado no mundo dos famosos, voltou ao seu bairro de origem para ajudar nas necessidades dos amigos”, diz Leandro Henrique Silva, 19 anos, de Vargem Grande Paulista (SP).

“Gosto do Bono Vox, vocalista da banda U2, porque ele se preocupa em ajudar nações pobres com alimentos e remédios, principalmente na África. Isso fez com que ele tivesse o reconhecimento da ONU e também deu a ele o Nobel de ‘Homem da Paz'”, aponta Felipe Oliveira Gutierrez, 28 anos, de Salvador (BA).

“Para mim, um modelo de amor, humildade, força de vontade, coerência, sabedoria é o papa João Paulo II. Ele promovia o amor ao próximo, o diálogo entre as pessoas e propunha tudo isso de maneira coerente, demonstrando com seus atos”, acena André Lima, 28 anos, do Rio de Janeiro (RJ).

Durante um mês, Cidade Nova convidou jovens de todo o Brasil a apontarem, na mídia, modelos que eles consideram importantes. Apesar da consciência de que grande parte dos nomes propostos não são capazes de responder completa-mente às suas exigências de felicidade e de realização pessoal, os jovens entrevistados souberam reconhecer em alguns personagens midiáticos, comportamentos que apontam para um mundo mais humano e solidário. Trata-se de atores, cantores, apresentadores, jogadores de futebol, personalidades religiosas, entre outros, que sabem utilizar a fama ou a própria riqueza para ajudar os outros.

Contudo, a necessidade de refletir antes de dar uma resposta imediata ao que foi proposto e a diversidade de nomes apresentados – entre os 32 entrevistados, vieram à tona 28 nomes diferentes -, demonstram a dificuldade de encontrar nomes de consenso entre os jovens e a dificuldade de entender como os modelos exaltados pela mídia são construídos.

As respostas dos jovens evidenciaram também que a mídia, apontada como fator determinante na criação de modelos para a juventude, desempenha um papel específico na promoção destes. Mas, além dela, existem também outros fatores relevantes nesse processo, dentre os quais destacaram-se, nas entrevistas, a ideia de felicidade ligada ao êxito financeiro, apoiado pelo sucesso profissional, e a ideia de sucesso e realização ligada ao conceito da perfeição e da beleza vendido pelo mundo da moda.

A falta de consenso entre os jovens em relação aos modelos que eles escolhem para a própria vida suscitou outra pergunta que dirigimos a alguns especialistas: “A ausência de modelos de referência está ligada a que fatores?” Para o professor de filosofia Felipe Müller, responsável pelo Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, a dificuldade de identificar modelos na mídia está mais relacionada à questão dos valores que eles representam do que à quantidade destes, visto que a mídia continua produzindo e reproduzindo modelos de comporta-mento numa velocidade enorme.

Segundo o professor, o que falta são referências mais consolidadas de comportamento. “Os jovens se movem de acordo com o fluxo de imagens produzidas. Por isso, faltam modelos mais estáveis. Hoje, têm um; na semana que vem, já é outro. São modelos rápidos e superficiais”, analisa Müller. Além disso, “há uma diferença entre exemplos e modelos: Madre Teresa é um exemplo, mas nem sempre um modelo para os jovens. Uma coisa é considerá-la um exemplo, outra coisa um modelo para ser seguido. Nesse momento, muitos jovens dizem: isso não é para mim!”, esclarece o professor Müller.

Já para o sociólogo Fábio Bento, responsável pelo Departamento de Sociologia da Universidade do Pampa, em Santana do Livramento (RS), outro fator que pode contribuir para a dificuldade que os jovens enfrentam na escolha de suas referências é uma “espécie de desencanto com os modelos”, o que os leva a afirmar: “Eu sou o líder de mim mesmo”. Por um lado, segundo o professor, “isso é bom, porque não existem mais cabrestos, mas pode gerar um individualismo tremendo”.

Sucesso financeiro

Homens de terno e gravata desfilando por avenidas movimentadas em carros importados; empresários de sucesso desfrutando os confortos de uma vida regada com os luxos assegurados pela riqueza. O ideal de realização no âmbito financeiro tem ganhado proporções alarmantes nas últimas décadas. Como consequência disso, muitos jovens espelham suas atitudes em personalidades que enriqueceram por sua capacidade no mundo dos negócios.

Perseverança, superação, ambição e audácia no campo profissional são valores cada vez mais admirados pelos jovens, até mesmo por aqueles que buscam outros referenciais de vida, uma vez que todos estão inseridos na lógica do sucesso individual que rege a nossa sociedade.

Este aspecto ficou evidente em alguns dos 32 relatos colhidos. O empresário e apresentador, Roberto Justus, e o dono do SBT, Silvio Santos, foram alguns dos nomes lembrados. Rafael Almeida Lima, 21 anos, de Itapecerica da Serra (SP), indicou como modelo a ser seguido o empresário Eike Batista, apontado pela Forbes, revista norte-americana de negócios, como o homem mais rico do Brasil. “Ele representa muito trabalho, ousadia, tato, visão, em-preendedorismo, genialidade, responsabilidade social, empatia. É um gênio nos negócios”, justificou.

Na opinião do professor Felipe Müller, o sucesso profissional tem assumido, nos últimos anos, a função de termômetro para medir o grau de realização pessoal. E uma das consequências disso é a grande sensação de fracasso causada por um eventual revés no âmbito do trabalho. “As pessoas buscam alcançar o sucesso, mas não se preparam para a frustração, para o trabalho contínuo. Não há disposição para lidar com o sofrimento. Eu serei o Justus. Mas quantos Justus existem? Só um”, ressalta o professor.

Típico da vida em grandes centros urbanos, esse fenômeno, que traz consigo a pressão social e familiar para que o sucesso seja alcançado, também podem produzir outros efeitos colaterais nos jovens. “Eles podem perder a visão do esforço cooperativo. Só um é premiado, há um incentivo ao individualismo. A cooperação é sempre em favor de um objetivo pessoal”, analisa Müller.

A atração que esses personagens de sucesso no campo profissional exercem sobre muitos jovens tem sido usada até mesmo na publicidade de instituições de ensino, que se apresentam como meio para alcançar o sucesso econômico. “O modelo, hoje, tem uma imagem administrativa. Basta olhar para panfletos de instituições de ensino. Os jovens das fotos estão sempre vestidos como alguém realizado em sua área”, pontua o professor Müller.

O ideal da perfeição e a moda

Alguns jovens entrevistados apontaram o mundo da moda como um dos mais fortes construtores de modelos. Pa-ra eles, a moda se apropria do ideal de perfeição física, que é indicada também como fonte de realização pessoal e de felicidade. Mas os modelos de perfeição estética apresentam-se sempre ligados a certas grifes ou bens de consumo. O resultado disso é que os jovens são levados a relacionar felicidade à possibilidade de ter acesso a certos produtos.

Nesse sentido, a moda cria constantemente novos modelos e novas tendências, porque precisa ser reinventada sempre. A necessidade de inserção em grupos com os quais os jovens se identificam, faz deles os principais reféns da criação constante e efêmera desses modelos.

Segundo a educadora de Igarassu (PE), Corinne Elisabeth Raboud, que, há mais de 20 anos, trabalha com a educação de jovens, “a moda nos apresenta produtos por meio de pessoas bonitas, esbeltas, felizes, ricas ou famosas no mundo da música ou do esporte, passando a ideia de que, adquirindo determinado bem de consumo, a pessoa vai se igualar ao modelo”.

Porém, segundo Raboud, adaptar-se aos padrões preestabelecidos pela moda leva a uma perda gradual¬ da identidade, especialmente dos jovens, que acabam fazendo as próprias escolhas de acordo com aquilo que é considerado o modelo ideal do momento. “Não me visto, não faço, não compro o que é necessário, mas me uniformizo”, ressalta a educadora.

Esse comportamento tem, no parecer da educadora, uma consequência muito negativa na vida das pessoas, “por-que sufoca a individualidade delas e as leva a não cultivarem os valores essenciais, como o altruísmo, a espiritualida-de, a solidariedade”. “Mas, nas dificuldades da vida, a pessoa acaba não tendo os elementos interiores para enfrentá-las e, daí, decorrem muitos distúrbios psicológicos do nosso tempo”, explica Raboud.

Holofotes do relativismo

As altas somas em dinheiro trazidas pelo sucesso profissional e a perfeição estética a qualquer custo são anseios típicos do nosso modelo de sociedade e ganham projeção ímpar nos meios de comunicação. Heróis produzidos em reality shows; atores exaltados por encarnar o bem ou o mal em novelas que comovem telespectadores em horário nobre; músicos que lançam moda. Tudo isso é amplificado pela mídia.

O excesso de informação transmitido diariamente por TVs, rádios, jornais e portais de internet concorre para a criação, a reciclagem e o descarte constante de modelos, como afirma o professor Felipe Müller. Um dos efeitos disso é a preferência conferida a modelos individualistas, nos quais as escolhas pessoais devem pautar-se pelo senso de liberdade de referenciais estabelecidos: é o que muitos estudiosos chamam de modelos relativistas.

Para a pesquisadora e especialista em questões familiares, Maria Scotto, da Itália, a mídia reproduz esses modelos relativistas de modo intencional. “Quando não existem valores de referência, é mais fácil convencer as pessoas a assumirem um estilo de vida individualista”, opina.

A respeito do condicionamento que a mídia é capaz de gerar, Scotto vai ainda mais longe ao afirmar que, com a exposição de modelos que encarnam o relativismo, “até mesmo os desejos pessoais se extinguem e se vive como todo mundo, com a convicção de exprimir, deste modo, a própria liberdade, mas, na verdade, está se assumindo uma nova forma inconsciente de escravidão”.

Para Scotto, “os valores de referência são um incentivo para melhorar, para superar dificuldades e para desenvolver um espírito crítico diante do mundo”.

Mas, efetivamente, qual a influência que esses modelos têm na vida dos jovens? O psicólogo pernambucano, Diviol Rufino – que, há mais de 30 anos, trabalha com a formação de jovens -, é da opinião de que não há como mensurar o nível de influência que os assim chamados modelos podem exercer sobre os jovens. “Depende” – explica ele – “da estrutura funcional familiar da qual o jovem é oriundo”. “Quanto mais a estrutura interna familiar é sólida, mais as referências externas perdem sua força de pressão. O contrário também é válido”, conclui Rufino.

Modelos midiáticos

O grande fluxo de imagens pode dificultar, segundo declarou o professor Müller, a identificação de modelos de comportamentos diferenciados na mídia, porém, isso não impede que os jovens identifiquem modelos positivos também nesse ambiente. De fato, alguns entrevistados ressaltaram nomes de celebridades que se destacam pelo empenho em causas humanitárias e pelos princípios de vida. São atores, cantores, apresentadores e jogadores de futebol, entre outros.

No entanto, para a jovem Chiara Moreno, 23 anos, de Bauru (SP), é preciso saber distinguir um exemplo de comportamento de um modelo de vida. Mesmo apontando o jogador de futebol Kaká como um modelo “é somente a postura dele” que ela considera admirável, no entanto, o atleta “não chega a ser um modelo a ser seguido”.

Nessa mesma linha, Leandro Azevedo, 21 anos, de Maceió (AL), apresenta o ator norte-americano Sean Penn como um exemplo. “Apesar de ele ter uma vida pessoal conturbada, está constantemente envolvido no socorro de vítimas de desastres naturais, como o terremoto no Haiti, mesmo depois que a mídia não se interessa mais”, declara o estudante.

Já Leandro Silva, 19 anos, de Vargem Grande Paulista (SP), chama a atenção para o exemplo de vida dado pelo cantor brasileiro Seu Jorge. “Mesmo achando que eu não tenha tanto talento para música, seguiria o Seu Jorge, se fosse para mudar a sociedade por meio da música. Entraria de cabeça. Talvez não fosse necessário deixar a família ou o trabalho, mas se fosse preciso, com certeza faria”, explicou Leandro.

Ana Carolina Muniz, 24 anos, concorda com Leandro e chama a atenção para o fato de que também o próprio mundo da moda, que estipula padrões, acaba destacando pessoas “fora do padrão”. “Veja a Gisele Bündchen. Ela não só se destaca por se encaixar no ideal de modelo estético, mas também pela simpatia, pelo próprio jeito. Isso, contraditoriamente, acaba sendo um diferencial”, explica a estudante.

Outro artista citado por alguns entrevistados foi Bono Vox, o vocalista da banda U2. Segundo Felipe Oliveira Gutierrez, 28 anos, de Salvador (BA), ele pode ser apresentado como exemplo pela sua preocupação em ajudar nações pobres com alimentos e remédios, principalmente na África. “O que, inclusive, lhe fez merecer o reconhecimento da ONU e o Nobel de ‘Homem da Paz”‘, explica Felipe.

Nina de Paula, 23 anos, de Niterói (RJ), que presenciou recentemente a tragédia causada pelos deslizamentos de terra em sua cidade, acredita que é preciso valorizar o que as pessoas fazem de bom, independentemente de sua posição na sociedade. “Não podemos ficar olhando a vida pessoal de quem ajuda, porque existem os beneficiados atrás disso tudo”, justifica ela.

Valores de vida

Essa identificação de modelos de vida também na mídia depende, segundo o psicólogo Diviol Rufino, da sensibilidade que os jovens têm a valores verdadeiros como a responsabilidade, a solidariedade e a paz. Ele explica: “O jovem atual, pelo idealismo que lhe é típico, geralmente, busca quem lhe ofereça um comportamento merecedor de credibilidade, imitável, propositivo e construtor de uma sociedade pacífica, justa e igualitária”.

Rufino é da opinião de que o “jovem busca incessantemente pessoas ou grupos com os quais se identifica, com objetivos comuns ou movidos por princípios éticos, religiosos, morais ou mesmo para simples entretenimento, para formar aquilo que se poderia denominar de grupo ou pessoa referência”.

Esse ponto de vista de Rufino coincide com a opinião de muitos dos entrevistados. Leandro Silva, por exemplo, declara que deseja ser um ótimo profissional e fazer o que ele gosta, “mas sem esquecer de ajudar as pessoas que me rodeiam, pois ninguém mais pensa nos outros”, afirmou o jovem, ressaltando a importância de valores de referência para a vida.

A percepção de Leandro Silva parece exprimir, inclusive, um sentimento não só dos jovens, mas da maioria das pessoas, como demonstra a campanha “Mostre seu valor” (www.mostreseuvalor.org.br), que faz parte do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Com o mote “Não basta olhar para valores econômicos e esquecer valores de vida”, a iniciativa surge a partir do resultado de uma pesquisa feita no Brasil, na qual mais de 500 mil pessoas de todas as idades responderam ao questionamento: “O que precisa mudar no Brasil para a sua vida melhorar de verdade?”

Os dados recolhidos foram compilados em um relatório, segundo o qual a população opinou que as mudanças devem ocorrer no âmbito dos “valores de vida”, termo estabelecido pelo PNUD para reunir os conceitos de respeito, responsabilidade, tolerância, humanidade, entre tantos outros. A necessidade desses valores foi considerada mais importante, pelas pessoas entrevistadas, do que até mesmo o combate a problemas endêmicos, como a corrupção e a desigualdade.

Modelos do cotidiano

E, afinal, onde mais se pode encontrar os modelos de vida?

Para a pedagoga Corinne Raboud, os verdadeiros modelos estão presentes fora da mídia, bem mais próximos das pessoas, nos ambientes em que elas vivem. Ela afirma que encontra esses modelos na escola em que trabalha. “Encontro pessoas que, nas condições mais adversas, agem com dignidade e sabem dividir o pouco que têm: a mãe de família que, sem condições econômicas, consegue criar os seus filhos e dar-lhes uma vida digna; o líder comunitário que não aceita vantagens pessoais; o jovem que, apesar de ter uma família desestruturada, vivendo na pobreza e sem perspectiva de futuro, resiste ao dinheiro fácil do tráfico e pensa em ajudar o próximo”, esclarece Raboud.

Essa ideia é partilhada por muitos jovens entrevistados, que chamaram a atenção para a importância de mirar a pessoas que estão mais próximas deles e que se pautam por valores de vida.

Guilherme Moura, 25 anos, de Recife (PE), conta que “a perseverança, a inteligência e a humildade” são algumas das muitas motivações que encontra em seus modelos para “ser uma pessoa melhor e assim poder também ajudar mais os outros”. Segundo ele, a resposta para a felicidade não pode estar ligada somente à satisfação dos próprios desejos.

“Tudo faz parte de um jogo entre me doar aos outros e a minha realização pessoal, como uma árvore que tem uma raiz que penetra, cada vez mais profundamente, no solo e, ao mesmo tempo, tem ramos que se espalham para os lados”, explica Guilherme.

A constatação de Guilherme coincide com o modelo de realização pessoal apresentado por Diviol Rufino. Segundo o psicólogo, todo ser humano é, por sua própria natureza, um ser relacional, gregário. “Ou seja, é da própria índole de cada ser humano viver em relação com. Talvez seja por isso que ainda é válido o ditado popular que diz: ‘Ninguém é uma ilha'”, conclui o especialista.

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Em busca de um sentido

Individualismo, consumismo, hedonismo, egoísmo. Palavras encontradas com frequência no discurso de muitos psicólogos, filósofos, sociólogos, como tentativa de explicar os motivos que levaram a humanidade a essa difícil situação social em que se encontra.

Assim, é quase natural associar esses comportamentos do ser humano ao aumento do chamado vazio existencial que, segundo o filósofo alemão do século XIX, Friedrick Nietzsche, trata-se de uma desvalorização e morte do sentido da vida, ausência de finalidade e de resposta aos questionamentos de cada ser humano.

“Como solução, Nietzsche propõe um ideal que venha do próprio homem e que supere a moral cristã, indo além de regras preestabelecidas que não permitam experiências máximas”, destaca o filósofo Diego Klautau, da cidade de São Paulo.

Mas qual o sentido de relacionar problemas contemporâneos com explicações filosóficas antigas sobre o ser humano?

Em tempos em que o heroísmo é relacionado à capacidade de pessoas sobreviverem ao confinamento em troca de quantias milionárias; em uma sociedade em que aumenta exponencialmente a comercialização sexual no mundo da internet; repercute-se cada vez mais na mídia casos de pais que matam seus filhos e filhos que matam seus pais, como não concluir que a sociedade chegou ao seu limite, sem pensar que tudo isso é fruto justamente dessa falta de um questionamento existencial convincente?

É esse, segundo Klautau, o problema apontado por Bento XVI na encíclica Deus caritas est, que dialoga com o pensamento de Nietzsche. “Segundo o papa, a proposta do filósofo de buscar um ideal de realização no próprio homem gera a dissolução da pessoa, com consequências graves para a sua vida”, esclarece Klautau.

A resposta clara a esse questionamento que leve a uma felicidade plena é buscada por todo ser humano, in-dependente da idade, mas quando se trata de um jovem, para quem o grande desejo é enxergar caminhos em direção a ela, em uma vida que está apenas começando, uma resposta convincente pode nortear suas escolhas por toda a vida.

Valter Hugo Muniz

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