Category: [O outro] Page 12 of 64

O estatuto do receptor

O-padrão-Globo-de-manipulação

As reflexões a respeito da obra “É preciso salvar a comunicação” de Dominique Wolton, comunicólogo francês que faz uma leitura brilhante da comunicação, continuam, mesmo depois de uma longa pausa. Enquanto partilho questionamentos em torno deste livro que concluí, continuo me deliciando com outra obra “Informar não é comunicar”, que, de certa forma, é um complemento sintético do pensamento do autor.

Um dos aspectos mais importantes levantados por Wolton, na minha singela opinião, trata do estatuto do receptor. Nele, o autor discute o significado da alteridade, da aceitação do outro, essencialmente diferente.

Existe uma corrente de “comunicólogos”, principalmente de leitura marxista, que vê o receptor de uma mensagem (informação) como um indivíduo profundamente manipulado pela mídia, que produz as informações de acordo com seus próprios interesses.

Mesmo sendo uma questão complexa, eu me coloco “ao lado” de Wolton, acreditando na inteligência e autenticidade do receptor da mensagem-informação. Os indivíduos aprendem a resistir e até podem ser dominados pela comunicação e pelas mensagens, mas não são alienados. O receptor, afirma Wolton, “conserva a sua capacidade de dizer não, ainda que de maneira silenciosa”.

Essa questão, de certo modo polêmica, esbarra justamente no modo como o indivíduo é visto, dependendo dos interesses de quem promove uma determinada ideologia. Quando simples receptor de uma mensagem, ele é visto como passivo e manipulado, mas se é consumidor de um produto ou serviço, ou se a sua opinião conta em uma pesquisa IBOPE, o indivíduo é inteligente e ativo.

Dessa forma, seguindo as “trilhas” de Wolton, é fundamental redescobrir o importante papel do receptor dentro dos processos comunicativos (que não são exclusivamente relacionados à recepção da informação, mas também englobam as diferentes formas de participação política).

Nossas sociedades redescobrem a identidade de maneira relacional, isto é, no olhar para si mesmo e na abertura (e no respeito) para o outro e para o mundo. Assim, repensar o papel do receptor das informações, das imagens, dos dados, das mensagens é discutir por quem, para quem e com qual respeito à alteridade cultural eles são feitos. É repensar a democracia. Segundo Wolton, “o receptor dos países menos avançados é o contestador de amanhã. Hoje ele quer menos desigualdade; amanhã, desejará, com razão, mais respeito à diversidade”, tanto no aspecto sócio-político, quanto no aspecto cultural.

Mudando os paradigmas da guerra

mideast-syria_fran-2

Enquanto as atenções da comunidade internacional estavam no Egito, diante do conflito entre aqueles que são pró e os contra o presidente deposto, Mohamed Morsi, um acontecimento escandaloso e sem precedentes atingiu o subúrbio de Damasco, na Síria. Ainda sem saber o autor e, muito menos, o motivo, os sírios estão chorando pelos milhares de mortos vítimas de um suposto ataque com armas químicas, na periferia da capital do país.

A tragédia do dia 21 de agosto passado me recorda outro triste acontecimento, no mesmo mês de agosto, mas há 68 anos. No dia 6, após seis meses de intenso bombardeio em 67 outras cidades japonesas, a bomba atômica “Little Boy” caiu sobre Hiroshima.

As estimativas do primeiro massacre por armas de destruição maciça sobre uma população civil apontam para um número total de 140 mil mortos só em Hiroshima, porque, alguns dias depois, outra bomba foi jogada na cidade de Nagasaki. Além das muitas vidas perdidas, o que se viu, na verdade, foi uma mudança de paradigmas em relação aos conflitos mundiais. A ação do exercito dos Estados Unidos criou uma tensão e insegurança que se estendeu até os dias de hoje, principalmente se pensarmos que líderes políticos, como o jovem ditador norte coreano Kim Jong-um, poderiam possuir armas de destruição em massa.

Contudo, não foi nem Kim Jong-um, nem o polêmico governo iraniano, que chocou o mundo cometendo um grave crime contra a humanidade. O uso de armas químicas aconteceu em solo Sírio, nação que, há anos, enterra os corpos de seus cidadãos, mortos na guerra civil que assola o país e agora vive uma experiência horrenda.

As fotos dos corpos, sobretudo de crianças, são um sinal visível da gravidade do acontecimento, mesmo sem apontar as consequências trágicas que podem vir em decorrência. Os membros do Conselho de Segurança da ONU estão se movendo e uma intervenção militar parece iminente. O governo Sírio já avisou que uma intervenção externa no país poderia “criar uma bola de fogo que inflamaria o Oriente Médio”.

O meu questionamento, talvez com certa ignorância, é sobre a maneira como a Organização das Nações Unidas age em relação a um conflito. Já é sabido que o Conselho de Segurança é ineficaz e não representa a visão e os interesses comuns da Comunidade Internacional. Enquanto morrem centenas no Egito, milhares na Síria e milhões no continente africano, a ONU se perde em interesses políticos e econômicos do Norte. As vidas dos Sul parecem ter um peso menor.

Difícil imaginar um desfecho pacífico, impossível prever qual a melhor saída diante da incapacidade de um governo estabelecido dar segurança aos seus cidadãos. Do lado de cá é fácil falar. Do lado de lá parece existir uma omissão proposital “no fazer”.

S.O.S. Egito

1080265_10153117896625398_1368910373_n

Procuro entender uma maneira eficaz de, a partir do meu testemunho pessoal, transformar, aos poucos, lugares e relações. Diante desse desafio “vitalício” eu sinto a “dor” ao perceber que existem muitas tragédias da humanidade que estão longe do alcance das minhas forças.  Não tenho nenhum tipo de idealismo fútil ou crença de que, se estivesse nesses lugares, às coisas poderiam ser diferentes. Na verdade, o que mais me incomoda é o fato de que, afastado geograficamente de um acontecimento, sou vítima da leitura factual mediada (ou manipulada). Assim, não sei nem mesmo por quê orar. É assim que tenho me sentido em relação ao Egito.

Diante de um conflito que, dia após dia, tem tirado a vida de inocentes, fomentado a perseguição religiosa e afastado qualquer tentativa respeitosa de diálogo e reconstrução do país, fica difícil encontrar um “lado bom”.  Aparentemente, alguns dos meus amigos egípcios, diretamente “envolvidos” no conflito, “apoiam” a ação do exército que retirou do poder o presidente islamita Mohammed Morsi para estabelecer uma nova ordem que, contudo, parece utópica em curto prazo. Por outro lado, após a divulgação do numero oficial de mortos, vítimas dos confrontos entre os que apoiam e os que são contra o ex-presidente Morsi, os EUA e a União Europeia criticaram fortemente o governo interino egípcio, afirmando que existe uma repressão do exército em relação aos protestos.

Diante das incertezas sobre os fatos, o assessor presidencial Mostafa Hegazy acusou a imprensa do Ocidente de ignorar atos de violência atribuídos aos ativistas islamitas, como ataques contra a polícia e a destruição de igrejas cristãs. “Nós, como egípcios, sentimos profunda amargura ante a cobertura dos eventos no país”, disse ele. (by BBC Brasil)

Posso afirmar, com segurança, que, as mesmas incertezas em relação aos relatos dos manifestantes presentes nas passeatas ocorridas no Brasil, há alguns meses atrás, se propagam entre as ruas e praças do Egito. As mesmas dúvidas a respeito da manipulação da mídia no #vemprarua brasileiro, se multiplicam após cada reportagem lida sobre a situação no Egito.

Entre as possíveis verdades, prefiro aquelas não ditas, pois são as que mais denunciam a omissão escandalosa da Comunidade Internacional, principalmente da ONU, imersa em um colapso estrutural que impede uma verdadeira colaboração na resolução de conflitos internos de uma nação em perigo.  

Enquanto isso, a única esperança de um “final feliz” cai sobre os corações generosos do povo egípcio que, mesmo não aparecendo nos principais jornais do mundo, soma inúmeros exemplos de solidariedade. A foto deste post mostra o cinturão de muçulmanos protegendo algumas igrejas cristãs no país.  

Rezar, por acaso, muda o mundo?

man_praying_center_for_biblical_counseling

Eu vivo um período de questionamentos sobre a tal da “oração”. Não é que eu perdi a Fé no “meu” Deus, mas é que, sempre mais, penso que é melhor rezar com as minhas atitudes, minhas forças, minha vida.

Contudo, aos poucos, venho descobrindo que a oração nada tem a ver com raciocínios materialistas; não é um ação que incute uma reação imediata, um resultado. Rezar é colocar todo o nosso ser em relação com o Divino, com as foças “sobrenaturais” que acreditamos, independente de quais e quantas elas sejam. Dessa relação nasce a Luz capaz de iluminar nossas ações (e as dos outros), nossos caminhos, em prol do bem.

Cada vez mais, me dou conta de que existe uma fase (ou dramas) da vida aonde as forças físicas, a saúde, não permitem a construção “braçal” de uma sociedade mais justa, como ocorre na juventude. Assim, a Fé por meio da oração, dá a esperança de continuar contribuindo, em um “outro plano”, para o bem comum.

Sempre vi com “maus olhos” a ausência massiva da juventude nos bancos das igrejas católicas que frequento. Nada contra os idosos, mas acho que são os jovens, sobretudo, que precisam conhecer as palavras e os ensinamentos do Cristo, para darem uma “direção” às revoluções que eles defendem e lutam. Porém, depois de descobrir que a oração realmente tem uma força, mesmo que imensurável materialmente, percebi que é bonito que ainda existam muito “velhinhos” frequentando as igrejas, mas sobretudo rezando e potencializando às boas energias sobre o mundo.

Rezar também é aquilo que, muitas vezes, nos resta quando vivenciamos algo que não podemos mudar com as próprias mãos. O massacre que está ocorrendo no Egito é um exemplo atual. Tenho amigos naquele país africano que, há tempos, tem procurado se reerguer, começar um caminho que respeite a grandeza do seu povo. Mas, o que vejo é, sempre mais, uma polarização de projetos, uma radicalização religiosa (muitas vezes promovidas pela mídia) e assim, vidas são perdidas e o bem comum se dissolve, como também vão se dissolvendo os sonhos de um país melhor.

Por isso ainda rezo. Rezo e acredito. Porque o mesmo Deus que me faz profundamente FELIZ, mesmo diante das dificuldades da vida, deseja que cada ser humano goze dessa “tal felicidade”.

Políticos gostam de pizza?

pizzas-2

Praticamente todo brasileiro cresce ouvindo que no país, quando se trata fazer exercer a Justiça perante um crime feito por políticos, “tudo termina em pizza”. A partir de hoje, dia que se inicia o julgamento dos recursos dos chamados “mensaleiros”, essa história pode mudar.

Os escândalos envolvendo membros do Partido dos Trabalhadores foi para mim um golpe forte na esperança e na admiração que eu, e grande parte do povo brasileiro, nutria pelo partido. Admito que me emocionei quando, em 2002, Lula conquistou a presidência. Naquele momento acreditava que começava uma nova era da política brasileira. Era alguém “vindo de baixo”, um trabalhador, operário, nordestino, que ia guiar os rumos dessa imensa nação da qual faço parte.

Os muitos benefícios sociais promovidos pelo governo petista são indiscutíveis, mas os escândalos de corrupção e a ideologia promovida pelos membros do partido, de pouco diálogo com a oposição, levaram o governo do partido para o “buraco”. A incapacidade de promover um trabalho conjunto, uma escuta verdadeira, construtiva, tornou o Partido dos Trabalhadores igual (ou pior) aos demais. E, pois bem. O Mensalão está aí para mostrar que a corrupção não é privilegio da “direita”.

O que realmente pode mudar a história depende da firmeza do Supremo Tribunal Federal, que não pode permitir que os 25 réus escapem da punição estabelecida. Seria um evento vergonho para a política e para o povo brasileiro… mais um.

Page 12 of 64

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén