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abraço lula e fhc

A falta que um abraço me faz

Vivendo do outro lado do Atlântico me vejo muitas vezes com saudade de um abraço. Naquela que considero uma cultura do respeito – de gentilezas e de muros – os abraços estão limitados a parentes próximos e amizades de longa data.

Um abraço sempre foi para mim sinônimo de alegria e proximidade. Abraçando me exponho ao outro e partilho, gratuitamente, um pouco do “calor” que nos faz, todos, humanos, a despeito das diferentes proveniências e das ideias que defendemos.

O efeito da escassez de abraços me tornou mais sensível diante do ato de ver pessoas se abraçando. Por isso fiquei tocado ao ver a foto do abraço entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique. Lendo as notícias relacionadas ao acontecimento, entendi que o mesmo abraço de conforto oferecido por FHC em consequência do iminente falecimento da esposa de Lula, Marisa Letícia, foi também oferecido pelo petista em 2008, quando a esposa de Fernando Henrique, Ruth Cardoso, havia falecido.

Afeto, respeito, gentileza são alguns dos gestos que precisam voltar a ganhar espaço em uma sociedade do embate. A humanidade precisa triunfar, independente da oposição de ideias ou escolhas. Não que isso atenue a busca pela justiça e a luta contra a impunidade. Entretanto, o amor e a fraternidade precisam conduzir todos os nossos atos.

Sinto falta cotidianamente de abraços. Fico triste ao ver a quantidade de pessoas, mesmo as ideologicamente próximas, gastando energia contribuindo para a construção de muros, promovendo as diferenças, enfatizando o negativo e condenando o erro alheio sem uma reflexão dos próprios atos.

Temos optado diariamente pela desumanização, pela divisão, abrindo mão de buscar aquilo que nos une. É uma escolha cotidiana e individual. Porém, não nos esqueçamos de que somos todos cúmplices das consequências globais dela.

O beijo de Deus na alma

beijo de Deus

 

Alguns minutos após publicar a mensagem acima, tive meu perfil do Facebook invadido com centenas de curtidas e dezenas de mensagens de amigos de todas as partes do planeta. Fiquei espantado com as palavras de carinho até mesmo de gente que não vejo há muito tempo.

Viver pelos outros tem sido o projeto de vida da família que eu e minha esposa Flavia estamos construindo juntos. Foi esse o grande fundamento das nossas escolhas até aqui. Foi também o motivo que nos levou a casar e começar nossa vida em família no Brasil. Dois anos depois, fez com que deixássemos tudo para uma missão de três meses na Costa do Marfim e em seguida voltar para Suíça para estarmos próximos da “outra” família e para que a Flavia fizesse o mestrado dela e assim poder servir melhor a sociedade.

Através dos nossos trabalhos e em família optamos pelas pessoas. Porém, vivenciar o desenvolvimento de uma “pessoinha”, fruto do nosso amor, no ventre da minha esposa tem sido algo tão incrivelmente maluco que eu só consigo pensar em uma palavra quando tento traduzir essa experiência para as pessoas próximas: milagre.

Estou procurando me preparar para viver bem esse período. Sou do tipo de pessoa que gosta de ler, ouvir o testemunho de outros casais, para que tudo transcorra da melhor maneira possível. Contudo, a falta de certezas e também o fato de ainda não poder sentir fisicamente a presença da minha esperada filha obriga-me a confiar Naquele que sempre conduziu os nossos passos.

Uma lembrança marcante não tem saído do meu coração ultimamente. Há quase um ano, tivemos o privilégio de estar próximos de um casal de amigos-irmãos brasileiros no momento em que eles se tornaram pais. No dia seguinte ao nascimento, ainda no hospital, nos encontramos com o novo pai que, com lágrimas nos olhos, traduziu aquela experiência com a seguinte expressão: “um beijo de Deus na alma”.

Olhando para os rostos daqueles amigos tão amados e sua filha senti uma onda de felicidade indescritível. No fundo eu sabia que só entenderia tudo aquilo quando fosse a minha vez. Falta pouco, mas não vejo a hora de eu também ser beijado na alma.

 

De volta à Ásia

Mais uma viagem. Mais um país. Mais uma cultura.

No percurso em direção à Bangkok, onde eu e meus colegas de ACT Alliance de todo o mundo estávamos reunidos para o nosso encontro anual, foi difícil não sentir o coração apertar ao sobrevoarmos Iraque e Síria.

Desde que comecei a trabalhar nessa ONG que se ocupa, entre outras coisas, de responder ao clamor dos povos mais vulneráveis do nosso tempo, tenho relativizado novamente muitas coisas na minha vida. Não me basta mais a ingênua satisfação de ter uma vida equilibrada e estável, é preciso também fazer algo para aqueles quer tiveram a dignidade roubada pela guerra.

Poder doar meu tempo, energia e talentos para diminuir um pouco do sofrimento desses povos, me faz sentir – talvez egoisticamente – orgulho. Quero pertencer a um grupo de pessoas que procura fazer algo de bom para os outros, mesmo se, no fundo, quase irrelevante de tão pequeno.

11 anos depois visito novamente o continente asiático e, de novo, tragicamente, presencio meus irmão de Aceh (Indonésia) chorar mais vidas perdidas devido a uma catástrofe natural. Esse e outros acontecimentos de 2016 não têm me deixado esquecer que a vida é uma dádiva. Cabe a cada um vivê-la plenamente, não só para si mesmo, pois estamos todos de certa forma ligados uns aos outros.

Reflexões pós COP22

Daqui a pouco pego o avião de volta para casa após ter vivido minha segunda COP (conferência global onde governos discutem as estratégias para combater as mudanças climáticas). Diferentemente da primeira experiência, dessa vez estava mais por dentro das negociações e da importância em dar prosseguimento ao processo potencializado pelo Acordo de Paris, no ano passado. Porém, como grande parte dos jovens da minha geração, tive dificuldade de não projetar minhas expectativas de sucesso nos negociadores reunidos em Marrakesh.

As conferências organizadas pelas Nações Unidas são em si mesma uma excelente escola. Esses espaços políticos de diálogo permitem SIM decisões importantes, mas eles não passam do terraço de um edifício que precisa ser construído com as bases nas comunidades e no protagonismo individual de cada cidadão desse planeta.

Recentemente escrevi em um blog para organização em que trabalho onde enfatizei que, quando você entra em contato direto com as comunidades que já estão sendo afetadas pelo pelos efeitos da mudança climática, é bem mais fácil entender o senso de urgência, pois se tratam, acima de tudo, de seres humanos como todos nós. Consumir desenfreadamente, acumular, não partilhar, desperdiçar, são verbos que têm construído a preocupante narrativa que estamos escrevendo para o nosso planeta. Contudo, a natureza não perdoa e, cedo ou tarde, ela vai nos obrigar a mudar nosso estilo de vida.

Novos paradigmas precisam nascer do indivíduo, encontrar força na comunidade local/regional, até chegarem aos governantes como parte de um movimento crescente. Não dá para achar, burramente, que o mundo vai mudar graças a boa vontade de alguns engravatados reunidos por duas semanas em algum canto do mundo. Coexistência sustentável é um processo difícil e desafiador. É uma luta que exige o esforço conjunto de todos, onde ninguém pode ser deixado para trás.

Volto para casa mais consciente do meu papel individual, mas também da minha responsabilidade comunitária. Quero continuar trabalhando na sensibilização de pessoas e governos para alertá-los que a mudança climática ainda vai ter um impacto dramático em nossas vidas. Agora é uma questão de justiça para com as comunidades mais vulneráveis. Em alguns anos será uma questão de sobrevivência para todos nós.

Voto: direito fundamental ou habilitação?

voto
Ontem, durante o jantar, tive uma ideia um tanto quanto original a respeito de como podemos tentar recuperar o valor do voto como verdadeiro instrumento de participação política: em vez de considerá-lo um direito fundamental, porque não transformá-lo em “habilitação”, igual à que precisamos tirar para poder dirigir.

Em linhas gerais funcionaria assim. Com 16 anos, um jovem estaria apto a se inscrever , gratuitamente, para adquirir a sua habilitação de eleitor. A partir de então, ele seria obrigado a fazer um “CFC da política”, um curso de uma semana que explicaria os princípios que regem uma democracia; o funcionamento dos partidos políticos; as leis; o parlamento e quais são os instrumentos de participação. Após o curso, o candidato deveria se inscrever para a “Prova Teórica” onde seu conhecimento básico a respeito do que foi ensinado previamente seria avaliado.

Caso aprovado, o futuro eleitor receberia uma “habilitação provisória”, obrigando-o a participar das duas eleições seguintes (depois o voto não seria mais obrigatório). Nessas duas primeiras experiências, o eleitor deveria participar de grupos de debate e aprofundamento, para entender mais a respeito das questões ligadas à atualidade política do país. Após esse período provisório, o jovem finalmente receberia a habilitação definitiva.

Em caso de uso indevido dos direitos políticos, como crimes ligado à corrupção, que deveriam ser estipulados pela Justiça, ele poderia ter a habilitação suspensa ou em casos graves, retirada. Após os 70 anos, o eleitor também passaria a ter seus direitos de eleitor limitados à esfera local ou regional, para que não aconteça casos como o do Brexit, em que uma grande parte da população idosa acabou determinando o futuro – indesejado – da juventude da Grã-Bretanha.

Tenho dúvidas se tudo isso faz sentido. Você acha que seria uma boa ideia? Daria certo no Brasil?

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