Author: Valter Hugo Muniz Page 127 of 240

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

29 dias no país do Tsunami- Parte 15

Depois de esperar um pouco, entramos no navio que nos levaria a Nias. Não poderíamos esperar um lugar tão bom.

O navio, no inicio parecia estranha, superlotada, perigosa, mas quando entramos no nosso quarto, quase não acreditávamos: duas camas (com colchão) maravilhosas. O “miltiplo” (mil vezes recompensável) depois de uma viagem de carro tão cansativa.
Chegando em Nias...
Chegando em Nias…

Fomos imediatamente descansar e ali ficamos até hoje cedo, quando finalmente chegamos em Nias.

Uma visão fantástica…. a praia… tudo. Parecia que estávamos chegando em um pequeno paraíso.
Vista matinal do alojamento das irmãs franciscanas
Vista do alojamento das irmãs franciscanas
Fomos para os nossos alojamentos. Uma bela casa de irmãs franciscanas que acolhem todos os voluntários que vêm à ilha. O quarto é maravilhoso e a visão inesquecível.

Tomamos banho (aos moldes indonésios) e depois fomos conhecer a cidade.

Impressionante.

Não acreditava naquilo que meus olhos viam. Uma cidade toda destruída pelos terremotos. Casas, escolas, tudo “no chão” o parcialmente arrasado.

Primeiro contato com a destruição

Primeiro contato com a destruição

Foi o meu primeiro contato com a destruição daquele país e me veio uma grande tristeza pensar quais perspectivas teriam os sobreviventes num lugar extremamente pobre como aquele e me dou conta do quanto terei que trabalhar aqui.

Voltando para os alojamentos fico pensando no que vi, enquanto espero o almoço.

H1N1

Imagem de microscópio electrónico do vírus da gripe A (H1N1) rearranjado

Imagem de microscópio electrónico do vírus da gripe A (H1N1) rearranjado

Aos poucos o ocidente vai virando oriente.
É culpa da gripe do porco
Parece mesmo que ta todo mundo louco.

Cumprimentos serão como as reverências japonesas
E eu já sou adepto, com certeza.
Finalmente uma saída pra crise.

Não tinha mais guerra pra resolver o problema econômico.
Então chegou a gripe para matar e a gente entrar em pânico.
E vamos virar oriente, logo.

Tem empresa que não deixa o pessoal se cumprimentar
E na Igreja nem a paz de cristo é permitido dar
Tudo culpa da gripe do porco.

E a situação vai piorando a cada dia.
E isso me faz lembrar o sábio canastrão que dizia.
Aos poucos o ocidente vai virando oriente

E é tudo culpa da gripe suína
Que vai afastando menino de menina
de pouquinho e já é um pouco.

Um ano em que a Menina que perdeu o assovio encontrou com Deus

Paulinha e sua mãe, Telma

Paulinha e sua mãe, Telma

Eu e a Menina que perdeu o Assovio éramos muito amigos. Encontramos-nos pela primeira vez em frente à universidade em que estudo. Aquele sorriso, de uma fragilidade…

… só menor que o meu desconhecimento a respeito da Fibrose Cística, doença que a levou há um ano atrás.

Com a Ju demos gostosas risadas. Uma amizade verdadeira, instantânea, como esses macarrões que matam a fome de gente apressada e preguiçosa de comer coisa que realmente sustenta.

Mas o que mais me sustentou depois que ela partiu,  foi ver que saber conviver com a dor é uma arte, uma graça que poucos conseguem lidar. Nisso a Menina que perdeu o Assovio era imbatível.

Poucos acreditavam que as suas recaídas a faziam frágil, que os desmaios preocupavam.. Todo mundo achava que poderia ser manha… as vezes eram, mas a sua alegria contagiante era o que ocultava a sua doença.

Por ela, conheci a maravilhosa Telma. Mãe e mulher de força guerreira, de cuidados de enfermeira profissional. Conselheira, amiga… doce quando a Menina que perdeu o Assovio precisava de mimo e dura quando precisava de coragem.

Deliciosos pães de queijo (mineiros, claro), saborosas conversas, inesquecíveis comunhões.

Bom… Viver a “passagem” de alguém machuca, sobretudo uma alma despreparada como a minha. Principalmente sabendo que o final da sua vida, a Menina que perdeu o assovio precisava enfrentar sozinha.

E aí, o desespero da impotência. De abraçar sua mãe, ouvir: “Eu me sinto a Desolada” (Maria, mãe de Jesus, que viu o filho morrer) e simplesmente chorar e assumir aquela dor, como minha. Afinal de contas as dores, como as alegrias, precisam ser compartilhadas SEMPRE.

Já faz um ano e eu não consigo esquecer da minha despedida, não consigo esquecer do Adeus, mas mais que tudo isso, não esqueço as risadas, os “gansos”, as broncas, as poesias e a certeza que o nosso reencontro será tão festivo, como o curto período de convivência.

Texto em homenagem à Paulinha Bichara que, no dia 23 de julho, fez seu primeiro aniversário ao lado de Deus

Mais textos para conhecê-la:

Outros textos

Um ano em que a Menina que perdeu o assovio encontrou com Deus

Saudades da Menina que perdeu o assovio

O encontro do Pequeno – alegria com a Menina que perdeu o assovio

O dia em que a menina que perdeu o assovio se foi

O último encontro com a menina que perdeu o assovio

A menina que perdeu o assovio

Para sempre Paulinha – Revista Cidade Nova – outubro de 2008

A palavra que transforma – by Paulinha Bichara

 

Inácio de Loyola: quando o amor é feito mais de obras que em palavras

inacioGrandes homens mudaram o mundo… Eistein, Galileu Galilei, Gandhi, Buda e, na minha opinião, Inácio de Loyola.

Tudo bem, um dos feitos desse santo da Igreja Católica, foi criar a Ordem dos Jesuítas, que, infelizmente (e porque é feita de homens) massacrou muitos indígenas, exterminou culturas milenares, em prol de uma má interpretação da disseminação da Fé católica.

Por outro lado, hoje, muitos missionários estão espalhados por diversas partes do mundo, inclusive no Norte do Brasil, lutando para salvar as populações locais da exploração, da miséria, da morte.

Não me cabe julgar algo que nem mesmo Inácio conseguiu controlar. A religião sempre foi usada como forma de garantir o poder, por criminosos travestidos de portadores do cristianismo. É uma chaga que eu como cristão devo assumir e suportar.

Contudo, são outros motivos que me fazem admirar tanto esse grande homem que é Inácio de Loyola.

Iñigo Lopez de Loyola  era o seu nome de batismo. Ele nasceu numa família cristã, nobre e muito rica, na cidade de Azpeitia, da província basca de Guipuzcoa, na Espanha, no ano de 1491.

Como um bom rico optou pela carreira militar, mas feriu-se em uma guerra e teve que voltar para a casa. Passou um longo período de recuperação lendo livros para passar o tempo e dois em particular o transformaram: “Vita Christi”, de Rodolfo da Saxônia, e a Legenda Áurea, sobre a vida dos santos, de Jacopo de Varazze.

A partir destas leituras cresceu nele a ideia de começar uma vida dedicada a Deus, tendo como inspiradores outros grandes homens, como Francisco de Assis. Em seguida, largou tudo o que tinha para percorrer o caminho de santidade.

Considerando-se incapaz, infiel, Inácio não parou de buscar seus objetivos, mesmo enxergando seus limites. Para alcançar um forte relacionamento com Deus desenvolveu os «Exercícios Espirituais» (Ejercicios espirituales), que iriam adquirir uma grande influência na mudança dos métodos de evangelização da Igreja e o levou a tão almejada Santidade.

A sua contribuição para a Igreja e para a humanidade foi a visão pessoal do catolicismo, fruto de sua incessante busca interior e que resultou em definições e obras cada vez mais atuais e presentes nos nossos dias.

Num mundo onde os cristãos, cada vez mais, esquecem que o amor não é feito de blá blá blá, mas de ações concretas, Inácio é um exemplo. “O amor deve consistir mais em obras que em palavras”, palavras dele.

Oração de Santo Inácio

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

29 dias no país do Tsunami – Parte 14: um banheiro diferente

O primeiro banho a gente nunca esquece

O primeiro banho a gente nunca esquece

Imagine-se do outro lado do mundo.

Depois de ter viajado 11 horas de avião, sofrido com comidas no mínimo estranhas em um país vizinho. Chegado num país com outra cultura, dormido a primeira noite da vida no chão e enfim, ter viajado embaixo de um calor de 40 graus, por 10 horas. O que você mais iria querer pra relaxar?

Um bom banho.

Foi a primeira coisa que pensei assim que chegamos a Sibolga. Cumprimentei os muitos familiares de Ponty e logo perguntei onde poderia tomar um banho.

Entramos numa espécie de Bar e, ao fundo, meu amigo me mostrou uma portinha e disse que ali poderia me lavar. Peguei minhas coisas… toalha, sabonete… estava feliz, finalmente poderia tomar uma bela ducha, mas assim que entrei no banheiro, levei um bom susto.

Os azulejos de um vermelho escuro cobriam o chão do local de paredes brancas, bem sujas. Um buraco no chão em que eram feitas as necessidades fisiológicas e a minha direita, um grande tanque com água parada e uma vasilha.

Demorei alguns segundos para entender que seria ali e daquela maneira que deveria tomar banho. Após os segundos de asco pessoal tomei coragem e fui me despindo.

Ensaboei-me procurando estar atento aonde pisava, era uma sensação nova, estranha, curiosa e, por que não, “de aventura”.

Com o corpo ensaboado, mergulhei a bacia naquela água turva e comecei a me lavar. Naquele momento já estava até me divertindo. A água renovava também o meu espírito e a minha vontade de estar ali para me doar aquelas pessoas.

Meus pudores ocidentais começavam a se desfazer a cada “baciada d’água”. Era como um batismo necessário para quem quisesse mergulhar profundamente na pobreza e na dor daquele povo que encontraria na ilha de Nias.

Saí do banho sorrindo, contente e pela primeira vez, naquele país, redescobri o verdadeiro sentido de “estar na essência das coisas” e não me deter nas dificuldades vãs.

Só que essa era só a primeira delas…

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