Falta uma semana para o segundo turno de mais uma eleição presidencial do Brasil da qual participo do exterior. Como de praxe, recebo milhares de vídeos de pessoas completamente desconhecidas e aleatórias partilhando acusações de ambos os lados. Os temas são basicamente: discursos fundamentalistas, abuso de poder, fake news e liberdade de expressão. Sem contar os inúmeros ativistas on-line que usam as próprias redes sociais para convencer sei lá quem de que um candidato é consideravelmente melhor do que o outro.

Confesso que, por não morar no Brasil, não tenho uma ideia ampla e detalhada do que está acontecendo. Mas será que meus compatriotas conseguem dispor de algum tipo de clareza estando imersos em um ambiente extremamente polarizado e autorreferente?

Por morar fora, acredito poder olhar o atual contexto político do Brasil de um ângulo diferente, marcado pela moderação. Sinto também uma grande responsabilidade de, por meio de minhas palavras, qualificar o debate, evitando propagar fake news ou mensagens sem fontes ou informações checáveis e, principalmente, pontos relevantes para reflexão.

É saudável estar emocionalmente distante dessa batalha irracional entre “torcedores” do partido amarelo contra o vermelho. Mesmo que seja importante recordar que a polarização não é um fenômeno novo no Brasil. Antes era o time azul contra o vermelho. Com as mesmas acusações e ataques na luta pelo poder, sobretudo durante o período eleitoral.

O Brasil parece viver um bloqueio coletivo que inibe a capacidade de seus cidadãos de dialogar de maneira respeitosa. Só que a democracia é feita de uma tensão constante e saudável em que somos convidados a “respirar fundo” para a negociar a nossa existência com outro que pensa completamente diferente de mim.

Permanecemos no esdrúxulo, ou somos propositalmente levados a ele, e ali, manipulados por forças opostas, pouco interessadas no bem comum, no debate entre ideias, projetos. Muita emoção e zero razão.

E o pior, por trás se esconde um mecanismo diabólico, capaz de controlar todo candidato eleito. Uma vírus chamado “Centrão” que contamina qualquer um disposto a propor mudanças estruturais.

Mais uma vez, nesse processo eleitoral, saímos todos derrotados, não importa quem for eleito. Pois haverá um perdedor humilhado e um vencedor vingativo. Só que, para mim, política é feita de colegialidade, respeito, caminho coletivo e inclusivo.

Já faz tempo que a dicotomia partidária tomou rumos ainda mais dramáticos. A intolerância entre candidatos agora extrapola cotidianamente em violência que fere a todos. Basta simplesmente divergir do interlocutor que nos aborda.

Faltam sinais claros de mudança para o bem e vontade coletiva de encontro. Mas prefiro continuar me agarrando na esperança, no futuro e na certeza de que é preciso perseverar no diálogo e na reconciliação.