Month: November 2020

Racismo no Carrefour

Racismo no Carrefour

É doloroso ter que voltar a falar de racismo depois do que aconteceu em Porto Alegre com o João Alberto Silveira Freitas (40), dentro do estacionamento do supermercado Carrefour. Diante das imagens de violência perversa, como desenvolver um discurso conciliador? Pensando na dor de mais uma família órfã de pai fica quase impossível defender a misericórdia pois “a misericórdia sem justiça conduz à ruína”, como diz Santo Tomás de Aquino.

Três meses atrás eu participei de um bate papo do canal do YouTube Papo Objetivo, onde conversamos sobre Racismo Estrutural. Mais uma vez vem à tona o mal que é a principal causa do genocídio sistemático do preto no Brasil e que precisa ser combatido por todos.

Das pessoas assassinadas no país entre 2008 e 2018, 75,5% são negras, segundo o Atlas da Violência. Uma pesquisa da ONG Rio de Paz, mostrou que entre 2016 e 2019, 91% das crianças mortas por “balas perdidas” no Rio de Janeiro, eram negras.

Só com o endurecimento das leis para crime de racismo, oportunidades iguais para os e as jovens pretas e, sobretudo uma política de reparação histórica, é que podemos tratar uma sociedade adoecida pelo racismo, como é a brasileira. Porém, o diálogo também nesse âmbito acabou polarizado, banalizando o fato de que todas as vidas importam, inclusive as vidas pretas. 

Sem uma resposta incisiva e transversal continuaremos limitando a nossa luta à busca de uma justiça esvaziada de significado porque incapaz de olhar o todo e transformar as estruturas da nossa sociedade.

unprecedented time

Innovation in an unprecedented time

When we hear “innovation”, it’s uncommon to associate the word with the religious environment. Yet, after the COVID-19 pandemic outbreak, every organisation was forced to look at new ways to function. Those who didn’t move fast enough struggle to survive in this unprecedented time.

The challenge of giving visibility to the work of a global organisation that has the mandate to go and physically meet people and communities around the world seemed gigantic for our communication department at the World Council of Churches (WCC).

One question resonated all the time in my heart: How do we continue to offer a platform for encounters in times of pandemic, when we can’t physically meet? 

Since early April, I’ve been dealing with dozens of online events that we started producing to give visibility to the work of WCC. As soon as my colleagues began to voice their needs concerning these online events, I realised that we needed to find technical solutions that would match the requirements. But where to start?

A lot of time spent on research and I started to look at videos of those who are the biggest users of live stream services: gamers.  I’ve watched hundreds of videos to understand which tools they use, how is the setup, the technical needs and step by step I’ve developed a concept that could potentially work for WCC. 

After two months of test sessions and adjustments, I’ve finally managed to create a workflow that allowed our productions team to offer a range of solutions to the broad needs we have. 

What a joy when we provided all the technical support for a webinar with sign language interpretation, focusing on people with disabilities! As I shared with my colleagues, that was “the best example of the type of connection webinars can create”. It became a “space for encounter”.

The challenge we now have is to stay true to our identity, even with the growing demands for online events. However, the journey we went through this year has shown that this unprecedented time is an invitation to innovate, also for faith-based organisations. 

Reconectar, Brasil

Voltar ao Brasil para reconectar

Eu nunca fiquei tanto tempo sem voltar ao Brasil. A culpa é da pandemia de COVID-19. Essa situação excepcional criou uma desconexão entre o “helvetismo” que cultivei como imigrante nos últimos seis anos e a brasilidade que carrego dentro de mim.

Na minha terra natal, eu sempre sou convidado a ver o mundo na perspectiva dramática do outro, muito por presenciar diariamente a miséria, a privação e o desamparo dos mais vulneráveis. Há muito tempo esses elementos não fazem mais parte do meu cotidiano.

A diferença entre realidades não só me afastou das dinâmicas constitutivas de quem eu sou, mas também me distanciou de alguns dos meus compatriotas. Para eles, sem a vivência, eu perco um componente chave para analisar a situação sócio-política brasileira. 

Daqui a exatas duas semanas, se tudo der certo, estarei de volta ao meu país. Mas dessa vez o mundo não é mais o mesmo. Estamos todos conectados pelas realidades impostas pela pandemia de COVID-19. Contudo, as feridas e o vazio que essa experiência tem causado de maneira diferente em cada um de nós precisam encontrar significado no desejo profundo de reconexão, de reencontro. Mesmo se com máscaras e distância física.

Crises são sempre oportunidades incríveis de avaliação interior. Foram nesses exercícios que eu entendi o quanto o outro é parte de mim e eu sou fruto do outro. É essa reconexão que estou indo buscar no Brasil para, quem sabe, me sentir novamente completo.

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