Duas realidades que aparentemente não se misturam, jornalismo e teologia têm na própria essência o estudo da relação e reciprocamente podem coexistir e iluminar um a “verdade” apresentada pelo outro.

Estudar a relação é encontrar como pressuposto a necessidade de um modelo. A história do pensamento ocidental percorreu um caminho partindo de Aristóteles e seu “Principio de não contradição”, passando pelo cientificismo kantiano, a dialética hegeliana, entre outros modelos racionais que buscaram entender e explicar a ontologia relacional do ser humano.

Entre esses, provavelmente o dualismo dialético foi o modelo que mais se “encarnou” na nossa sociedade, servindo como justificativa à destruição e o auto movimento perceptível no observar a realidade.

Eu, pessoalmente, estudando e conhecendo-a cada vez mais, encontrei na teologia o meu modelo de ler as situações, que não se expressam por meio de um dualismo, mas na dinâmica trinitária que envolve a expressão de si mesmo, do “outro” e do Mistério.

Um acontecimento visto da prospectiva dialética não pode aceitar a verdade do outro, para existir precisa eliminá-lo. As determinações do que é verdade nascem sem considerar a pluralidade. Verdade é aquilo que se expressa a partir da dinâmica dialética em vez de uma conclusão costruída a partir do dar-se “fenomenológico” das coisas.

Por outro lado o modelo trinitário considera que a relação é, antes de tudo, expressão pessoal da leitura de um acontecimento, impossível para quem vive de destacar-se, manter a neutralidade.

Mas além disso ela é também encontro com “um outro” (humano ou não), suas motivações e porquês, que tantas vezes superam a nossa capacidade de compreender totalmente. Somos muito condicionados pelos nossos valores, ideais. Por isso, exprimir esse “outro” exige um “movimento direcionado” à ele, que depois ajuda no aperfeiçoar a compreensão dos fatos.

Finalmente é necessária a dimensão do Mistério em todos os acontecimentos. A Racionalidade não tem todas as respostas aos porquês do homem. O cientificismo não considera “verdadeira” à transcendência que nos envolve como seres do Cosmo, ignora o fato de que qualquer acontecimento possa ter em si um “algo” de inexplicável, inexpressível.

A prospectiva trinitária dos acontecimentos, porém, é também articulada em uma “forma determinada”, uma unidade (roubando a definição guardiniana) que nos permite estarmos imersos em uma infinita mudança (movimento) permanecendo porém nós mesmos.

A cotidianidade dos acontecimentos é esse consecutivo movimento, mas que precisa ser lido em maneira trinitária, que é em si também unitária, onde esta última serve como “direção” a fim de que o modelo trinitário não se transforme em dualismo dialético.

Entendo que para quem não adere à fé cristã considerar a trindade um modelo de relação é quase uma ofensa. O curioso é perceber que, por outro lado, é possível para os “anti religiosos” acreditar e estudar a mitologia grega, indígena e etc. A fé é principalmente um movimento antropológico de abertura em relação ao Mistério, dimensão (felizmente) impossível de ser excluída na nossa humanidade.