O Mercadofobismo e o Efeito Viral

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Por que existe tanto problema em vislumbrar a possibilidade de haver uma tentativa de desenvolvimento do senso crítico, dentro da esfera mercadológica? Passei a noite tentando dormir pensando nessa pergunta.

Sim, o Mercado vive imerso numa dinâmica entre “gerar necessidades de consumo” e “satisfazer demandas”, mas será que tudo isso gera determinismos maléficos? A comunicação não pode se desenvolver a partir desse contexto?

Em vez de pensar na possibilidade de encontrar algo que possivelmente exista “fora do mundo capitalista”, acho mais coerente descobrir formas de desenvolver “brechas” dentro do Sistema, da mesma forma como agem os vírus.

Não cabe mais discutir a falta de “visão” do comunicador, pois o que se vê são profissionais que sequer “olham” a realidade. De acordo com Roanet “para ver é preciso olhar. Mas, o que existe é uma escassez de demanda crítica que impulsione a busca desse olhar que precede “a Visão”, vinculada diretamente às verdades deterministas divulgadas pelos detentores do poder e que são retransmitidas pelos meios de comunicação.

Mas, dentro desse ciclo de reproduções é preciso algum mecanismo propulsor que redirecione a sociedade pela busca do pensamento crítico que denominei Efeito Viral.

O Efeito Viral parte do pressuposto que, através de organismos extremamente simples, monocelulares, pode-se desencadear uma “doença” que contamine diversas células e termine por eliminar a vida de um Sistema. Dessa forma, por iniciativa individual, que contamine o maior número de pessoas (células) – e isso é imprescindível – pode-se estimular o crescimento da demanda do desenvolvimento do senso crítico, que acarrete na emancipação do “olhar” para uma “visão”, sem os conceitos e preconceitos determinados pelo Sistema.

A transformação social não depende exclusivamente do modo de organização econômica. Existe uma grande parcela de “mudanças” que surgem de iniciativas individuais e que se transforma em ideologias, que podem mudar os rumos da Sociedade como um todo.

Preocupar-se demais com a “Mercantilização da cultura e do senso crítico” pode nos fazer esquecer da força protagonismo. Martin Luther King, Che Guevara, João Paulo II, Nelson Mandela são exemplos POPs de indivíduos que não perderam tempo se preocupando tanto em transformar a estrutura socioeconômica e colocaram a mão na massa, a fim de buscar humanizá-la, começando pelas práticas individuais.

Claro, o mundo aparentemente não mudou nada. Continuamos cotidianamente lidando com os nossos infinitos dilemas e paradoxos. Mas, sendo protagonistas da história, fica difícil contemplar qualquer tipo de mudança social pequena, que só é percebida com o desenrolar do tempo.

O que me parece evidente é que o comunicador tem um papel importante no desenvolvimento social por meio da divulgação da informação. Esse simples atos de “relatar os acontecimentos” de maneira transparente (no sentido de estar livre de si) possibilita a sociedade analisar os movimentos realizados, os passos dados.

A busca da imparcialidade “divinifica” o trabalho jornalístico, pois dá a liberdade para que o leitor tenha elementos para tirar as próprias conclusões sobre um fato. Para isso existem as ferramentas técnicas: pauta, apuração, redação e edição, que justificam a necessidade de profissionalizar dessa prática, diferencial de qualquer tipo de produção “não jornalística”.

Portanto, o desenvolvimento do senso crítico pode partir, inicialmente, do protagonismo jornalístico, gerando um Efeito Viral que aumente a demanda de senso crítico e possibilite a emancipação do olhar, buscando “VER”. Mas, essas transformações devem nascer de “dentro para fora” do Capitalismo e “não de fora para dentro”.

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4 Comments

  1. Caramba… Se o Che Guevara não tentou transformar a estrutura socioeconômica, não sei quem mais tentou. Acho que essa é uma das poucas questões em que capitalistas e comunistas concordariam.

  2. Bom, difícil contra argumentar sem saber o quanto vc realmente conhece da história do Che, ou se é uma simples reprodução do senso comum, como a maioria dos conceitos que giram em torno da ideologia comunista, mas enfim, pode ser que tenha sido um exemplo infeliz, mas o que quis dizer com a minha afirmação é que não é necessário esperar uma revolução econômica para lutar por melhorias no campo da atuação do comunicador.

    André, Gosto muito das suas críticas, mas parece que vc não procura entender a essência do que escrevo. Acaba se prendendo em comentários que vc discorda e os polemiza, às vezes sem deixar algum tipo de contribuição concreta. Pergunto-me se realmente existe um esforço de quem lê “outras opiniões” em entender aquilo que se quer dizer, de maneira “desarmada”. – Isso também me serve de “exame de consciência”.

    Esse texto surgiu de muitos questionamentos a respeito da necessidade que muitas vezes os estudantes e profissionais de comunicação têm de “encontrar desculpas” para não agir individualmente de maneira ética e visando mudanças na própria prática profissional.

    • Vixe, não tinha visto essa sua mensagem na época. Cheguei aqui por acaso, pela ferramenta do WordPress que exibe as discussões de que participei. Vou marcar a opção de receber notificação de atualizações por email.

      Bom, esclarecendo:

      O que eu quis dizer é que o Che tentou, de fato, mudar a estrutura. Capitalistas geralmente dizem que isso é ruim; comunistas, que é bom e necessário. Cada um com base em seus próprios valores. Análises menos radicais ponderarão pontos positivos e negativos, levarão em conta suas motivações, etc. Dificilmente, porém, se poderia incluí-lo no rol dos que tentam modificar a cultura de dentro pra fora. Daí a minha crítica.

      Bom, de qualquer forma, acho que a sua consideração tem sentido. Não que meu objetivo fosse polemizar (apenas acho essencial apontar o que julgo inconsistente), mas acho que realmente fui muito incisivo e não ressaltei os pontos positivos. Desculpe o negativismo.

      Bom, não tenho opinião formada sobre muito do que trata o texto. Posso dizer que concordo, particularmente, com sua postura de tentar resgatar o que há de bom no mercado e com a preferência por fazer uma revolução de dentro para fora.

      Abraços

  3. Daniel Fassa

    Fala, Vart!!!

    Esse foi o melhor texto seu que eu já li! Reflexões fantásticas. Compartilho com você essa visão de que podemos fazer a revolução de dentro para fora, aproveitando as brechas existentes no sistema e a própria conscientização que, pouco a pouco, começa a se disseminar.

    Um exemplo disso é a idéia de desenvolvimento sustentável, abominada pelos radicais. Há muita gente séria e inteligente que já percebeu a necessidade de a humanidade mudar radicalmente seus hábitos de consumo e seus métodos de desenvolvimento. Pouco a pouco, empresas têm despertado para isso. Embora seja algo incipiente, vejo esse movimento como algo bastante positivo.

    grande abraço

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