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Lugar de fala, dever de escuta

Se apoderar do lugar de fala do outro não é só injusto, mas mentiroso”

Não me lembro bem ao certo onde ouvi essa poderosa citação, mas sei que ela mexeu muito comigo. Tenho visto nos últimos anos, tanto no micro quanto no macrocosmo em que vivo, um movimento de pessoas ditas “de bem” que têm sistematicamente se apoderado do”lugar de fala”de outras pessoas.

Grupos de incidência majoritariamente brancos, de perfil sócio- econômico privilegiado têm populado as arenas globais e outros espaços de expressão política com a intenção de “defender” os direitos dos excluídos. O que pode parecer um ato benévolo, na verdade reforça a desigualdade. A ocupação do lugar de fala alheio acaba calando ainda mais a voz dos oprimidos e delega aos cidadãos privilegiados o direito de expressão que gera somente pseudo-soluções.

Uma solução que eu considero legítima para enfrentar essa questão é a promoção da educação como ferramenta de empoderamento, juntamente como ampliação dos espaços de expressão para os “sem voz”.

Em vez de usar a nossa energia para levantar bandeiras que não são genuinamente nossas, deveríamos lutar para assegurar a inclusão dos que não são ouvidos. Sem a presença deles nos espaços de debate, de reflexão, em todas as esferas da sociedade, continuaremos a viver em uma pseudo democracia, iludindo-nos ao acreditar que as nossas boas intenções são suficientes na luta contra a desigualdade.

Voto: direito fundamental ou habilitação?

voto
Ontem, durante o jantar, tive uma ideia um tanto quanto original a respeito de como podemos tentar recuperar o valor do voto como verdadeiro instrumento de participação política: em vez de considerá-lo um direito fundamental, porque não transformá-lo em “habilitação”, igual à que precisamos tirar para poder dirigir.

Em linhas gerais funcionaria assim. Com 16 anos, um jovem estaria apto a se inscrever , gratuitamente, para adquirir a sua habilitação de eleitor. A partir de então, ele seria obrigado a fazer um “CFC da política”, um curso de uma semana que explicaria os princípios que regem uma democracia; o funcionamento dos partidos políticos; as leis; o parlamento e quais são os instrumentos de participação. Após o curso, o candidato deveria se inscrever para a “Prova Teórica” onde seu conhecimento básico a respeito do que foi ensinado previamente seria avaliado.

Caso aprovado, o futuro eleitor receberia uma “habilitação provisória”, obrigando-o a participar das duas eleições seguintes (depois o voto não seria mais obrigatório). Nessas duas primeiras experiências, o eleitor deveria participar de grupos de debate e aprofundamento, para entender mais a respeito das questões ligadas à atualidade política do país. Após esse período provisório, o jovem finalmente receberia a habilitação definitiva.

Em caso de uso indevido dos direitos políticos, como crimes ligado à corrupção, que deveriam ser estipulados pela Justiça, ele poderia ter a habilitação suspensa ou em casos graves, retirada. Após os 70 anos, o eleitor também passaria a ter seus direitos de eleitor limitados à esfera local ou regional, para que não aconteça casos como o do Brexit, em que uma grande parte da população idosa acabou determinando o futuro – indesejado – da juventude da Grã-Bretanha.

Tenho dúvidas se tudo isso faz sentido. Você acha que seria uma boa ideia? Daria certo no Brasil?
Unidade

Unidade indispensável: O que aprendemos com as eleições?

Unidade

Como outros 50 milhões de brasileiros que votaram almejando a tal « mudança », eu também não fiquei satisfeito com o resultado das eleições. Sinceramente, eu achava que esse era o momento propício para uma mudança de estratégia, que não seria, de jeito algum, cancelar projetos de assistência social, fundamentais para a diminuição da desigualdade. Acredito que o Brasil precisa se focar no desenvolvimento estrutural e econômico, recuperar a confiança dos investidores, para crescer como as outras economias emergentes, e, assim, dar ainda mais possibilidades a todos.

Contudo, como acontece em uma democracia, a maioria escolheu outro caminho. Isso mostra que existem, sim, outras demandas importantes que não podem ser descartadas, mas respeitadas. A minha conclusão racional é que os séculos de exclusão e indiferença em relação ao norte e o nordeste ainda fazem da assistência social uma necessidade proeminente.

O bom e o ruim dessas eleições

Tenho procurado colher o bom de todo esse período eleitoral no Brasil. Somos uma democracia jovem SIM, e cidadania se aprende “na prática”, com erros e acertos. Não me lembro de uma eleição vivida com tanta intensidade, sobretudo pela juventude. Isso deve ser festejado.

Por outro lado, muitas vezes senti vergonha do que vi e li, principalmente no modo como as diferentes opiniões foram manifestadas. O desrespeito, a incapacidade de ouvir, são “fracassos” que não devem ser ignorados. Não acredito que os desvios morais são uma questão de ausência de educação intelectual, pois muito dos meus amigos nas redes sociais, intelectuais, mostraram a mesma incapacidade de elevar o debate para o campo das ideias e projetos. Ideologias e polarização tornaram essa eleição uma verdadeira briga de torcidas organizadas, movidas mais pela emoção revolucionária (de vermelhos ou azuis) do que pela consciência de que, independente do vencedor, o presidente deve governar para TODOS.

Unidade indispensável

O Brasil não é só o sul e o sudeste, não é só o norte e o nordeste. O Brasil somos todos nós. Não sejamos inconsequentes! Não deixemos que as ideologias e as paixões nos dividam. A união é a nossa força.

UnidadeAqui na Suíça, nesta nova nação em que vivo e que me acolhe, também existem diferentes ideologias, forças contrárias, que muitas vezes criam um choque de ideias e projetos políticos, mas que, independentemente disso, parecem buscar preservar o desejo comum de um país unido, forte, social e economicamente. A lição que tenho aprendido, vivendo em uma “outra” democracia, é que a unidade de uma nação nasce, antes de tudo, da vontade de estarmos juntos. Esse precisa ser o princípio regente da nossa forma de “fazer” política.

O que a mídia e os candidatos fizeram nessa eleição foi um crime contra a nação! Foram eles que, principalmente, potencializaram a polarização do debate. Foram eles que usaram o maniqueísmo para dividir. Foram eles que criaram um ambiente de intolerância que levou amigos de longa data a trocarem ofensas e em alguns casos, agressões. Eu mesmo fui vítima desse absurdo.

As consequências desse processo eleitoral ainda estão por vir. Conseguiremos entender que política não é só uma batalha pelo poder? Que democracia não é só o participar com o voto? Vamos continuar fiscalizando, questionando, criticando, sendo efetivamente oposição (respeitosa)?

Vejo o futuro como uma grande oportunidade. O equilíbrio evidente das vontades do eleitorado pode, para mim, ser um grande impulso para o diálogo, abrindo a possibilidade para concessões que o PT de Dilma deverá fazer.

Ninguém governa um país sozinho, de maneira uniforme. É preciso ouvir quem pensa de maneira diferente. Esse é o meu desejo. Com os votos de que a presidente reeleita tenha a humildade de fazer um passo de abertura à oposição, para que possamos crescer, preservando a nossa indispensável unidade.

 

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