O fim do escrevoLogoexisto?

Há meses eu me pergunto se não é a hora de por um ponto final no meu querido blog. O tempo para refletir e partilhar minhas experiências tem sido constantemente devorado pelo ativismo “das coisas em detrimento das pessoas” que venho desenvolvendo no meu novo país, a Suíça.

Mas aí hoje, após ler o testemunho de um casal de amigos sobre educação e racismo, me senti novamente inspirado a continuar partilhando. Serão novos os canais, simples as estruturas, mas entendi que a minha “plena” existência, de alguma forma, está atrelada ao escrever.

No próximo mês o escrevoLogoexisto completa 10 anos. Difícil para mim acreditar que um projeto universtário despretencioso chegaria tão longe… Foram inúmeras as fases partilhadas que acompanharam boa parte do meu desenvolvimento como individuo que existe pensando, sentindo e que, devido a um misterioso impulso interior, escreve, comunica.

Eu não quero perder esse impulso. Quero resistir a tentação do “só viver” e continuar plenamente existindo… tomara que eu consiga.

Voto: direito fundamental ou habilitação?

voto
Ontem, durante o jantar, tive uma ideia um tanto quanto original a respeito de como podemos tentar recuperar o valor do voto como verdadeiro instrumento de participação política: em vez de considerá-lo um direito fundamental, porque não transformá-lo em “habilitação”, igual à que precisamos tirar para poder dirigir.

Em linhas gerais funcionaria assim. Com 16 anos, um jovem estaria apto a se inscrever , gratuitamente, para adquirir a sua habilitação de eleitor. A partir de então, ele seria obrigado a fazer um “CFC da política”, um curso de uma semana que explicaria os princípios que regem uma democracia; o funcionamento dos partidos políticos; as leis; o parlamento e quais são os instrumentos de participação. Após o curso, o candidato deveria se inscrever para a “Prova Teórica” onde seu conhecimento básico a respeito do que foi ensinado previamente seria avaliado.

Caso aprovado, o futuro eleitor receberia uma “habilitação provisória”, obrigando-o a participar das duas eleições seguintes (depois o voto não seria mais obrigatório). Nessas duas primeiras experiências, o eleitor deveria participar de grupos de debate e aprofundamento, para entender mais a respeito das questões ligadas à atualidade política do país. Após esse período provisório, o jovem finalmente receberia a habilitação definitiva.

Em caso de uso indevido dos direitos políticos, como crimes ligado à corrupção, que deveriam ser estipulados pela Justiça, ele poderia ter a habilitação suspensa ou em casos graves, retirada. Após os 70 anos, o eleitor também passaria a ter seus direitos de eleitor limitados à esfera local ou regional, para que não aconteça casos como o do Brexit, em que uma grande parte da população idosa acabou determinando o futuro – indesejado – da juventude da Grã-Bretanha.

Tenho dúvidas se tudo isso faz sentido. Você acha que seria uma boa ideia? Daria certo no Brasil?

Rir para não chorar: refletindo a crise brasileira

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Graças as maravilhas tecnológicas desse mundo globalizado eu, do outro lado do Atlântico, pude acompanhar a sessão na Câmara dos Deputados que sacramentou o primeiro – e importante – passo para o impeachment da senhora presidenta Dilma.

Não vou entrar muito em detalhes e nem quero discutir a metodologia extremamente questionável adotada pela Oposição, mas nesse momento turbulento, considero necessário que a Dilma e o partido que a sustenta sejam afastados do governo Federal. No entanto, a maneira ridícula e vergonhosa como a votação em prol do impeachment se desenvolveu no último domingo me fez rir. Rir para não chorar.

Rir porque, em nome de Deus, da família, do cachorro, do neto, do ditador, dos médicos, agricultores e etc, os nossos parlamentares perderam uma excelente oportunidade de explicar o porquê acreditam que a presidenta deve ser investigada; porque o impeachment não é golpe, pelo fato de estar previsto na Constituição, e de que forma o afastamento dela é, para eles, um avanço no que eles chamam de democracia. Eu juro que estava curioso e esperançoso para ouvir alguém com uma boa explicação, que clareasse esse momento sombrio em que o Brasil se encontra.

Ri também porque, na verdade, o problema maior está «no dia depois». Em quais mãos o meu amado país vai estar com a saída da Dilma? Do Temer? Do Cunha? Do Aécio? Do Maluf? Do Tiririca? Do Bolsonaro? As coisas podem sim piorar, por outro lado, isso não pode servir de desculpa para acharmos que do jeito que está, está ótimo.

Eu quero que a situação do país melhore. Ponto. Por mais que reconheça e, de certa forma, admire a coragem e o pioneirismo do olhar social promovido pelo velho PT, acho que uma mudança agora é fundamental para o bem do país. Não dá para garantir que quem vai vir será muito melhor do que quem está. Em certos aspectos sim, outros não. Mas a mudança sempre traz esses dois lados: o positivo e o negativo (Eu seria muita prepotente em achar que só um lado é capaz de ter bons projetos para o desenvolvimento do país).

Infelizmente, hoje, o argumento da idoneidade moral dos políticos brasileiros está fora da discussão. Se, ao mesmo tempo, tento acreditar que nem todo político é ladrão, por outro lado tenho a impressão de que grande parte dos corruptos estão, neste momento, se digladiando pelo poder em nossos governos. Por isso, creio que o foco agora é saber quem é capaz de administrar melhor o país na atual crise. Quem está disposto a encontrar formas de trabalhar com/para todos, ricos e pobres, maiorias e minorias, religiosos ou ateus. Sei que não é o Temer, ou o Cunha, o Aécio e os que são réus da Lava Jato. Sei que também não é a Dilma, pois ela teve a chance dela e, aparentemente, falhou feio.

Uma das grandes descobertas que tenho feito, vivendo em uma outra cultura, com uma democracia menos complexa e mais consolidada, é a importância do ambiente pluripartidário. Um governo que dá espaço para diferentes vozes é enriquecido pelas diferentes ideias, estratégias, mas, sobretudo, é obrigado a trabalhar constantemente pela busca do consenso, visando o bem de todos. É esse o meu maior desejo para o Brasil. Um país onde seus governantes busquem o melhor para todos, respeitando as diferentes ideias e estratégias. Acreditar nisso parece bem distante depois do show bizarro promovido pelos nossos deputados. Mas, tudo é caminho e precisamos ter coragem de, juntos, percorrê-lo.

COP21: A primeira vez que experimentei um mundo unido

Raríssimas vezes eu tive a possibilidade de presenciar, fisicamente, um momento histórico. Entretanto, daqui a alguns anos, quando olhar para o passado, vou lembrar com um sorriso gostoso o dia 12 de dezembro de 2015, dia do Acordo de Paris em relação as mudanças climáticas. A COP21 foi a primeira ocasião na história moderna que se chegou a um acordo realmente global.

A preocupação internacional em relação ao futuro do planeta levou os representantes de quase todas as nações da terra a se reunirem na Cidade Luz em ocasião da  21a Conferencia do Clima. Há exatamente um mês Paris chorava as vítimas de um terrível atentado. O que parecia ser o começo de um período de « sombras », um mês depois se transformou em alegria, entusiasmo, esperança de um melhor melhor. Um precedente histórico fundamental em um ano marcado pela violência e o descaso com as vidas inocentes.

12339468_10153716831764831_5517811692552098286_oE eu estava lá, com a delegação da ACT Alliance , organização que tinha como principal objetivo garantir que o acordo respeitasse as pessoas mais vulneráveis, principais vítimas das mudanças climáticas. Vídeos e mais vídeos, entrevistas, partilhas. Sei que a minha participação não foi a grande responsável pelo inédito consenso, mas nenhuma ação individual bastaria.

Um dos meus professores de mestrado dizia que uma verdadeira revolução necessita de duas coisas: líderes com vontade e coragem de mudar e uma sociedade civil consciente e participativa, capaz de dar legitimidade as possíveis mudanças politicas. Foi isso o que aconteceu nas ultimas duas semanas em Paris. O clima na minha delegação, mas também em toda a Conferência era de uma serenidade alegre, de respeito e escuta, elementos-chave que, segundo eu, nos levaram ao tão sonhado acordo.

Ele não é perfeito. Ninguém esperava que fosse, mas é uma vitória que não pode ser desprezada. Fiquei emocionado ontem ao ouvir os discursos e sorrisos dos representantes dos países ao final da COP21. De alguma forma me senti parte daquela conquista. Doei meus talentos, energia e horas de sono porque acredito no diálogo como instrumento em prol do bem comum. Por duas semanas pude experimentar, pela primeira vez fora do ambiente religioso, que um mundo melhor é possível. No entanto, ele vai sempre depender da vontade de cada um querê-lo e buscá-lo.

Paris: Talvez eu estaria entre as vítimas

Ontem foi difícil dormir. E não foi porque estava atordoado com a repetição exaustiva das mesmas imagens, à lá Cidade Alerta, pela televisão francesa. Também não foi porque estava com medo, mas por me dar conta de que, se os atentados tivessem ocorrido duas semanas mais tarde (quando estarei em Paris para o COP21), talvez eu estaria entre as vítimas.

Dar-me conta dessa possibilidade tornou o drama dos mais de cem mortos na capital francesa, um pouquinho mais “meu”. Seria eu a deixar a esposa viúva, os familiares com o coração dilacerado, os amigos revoltados. A dor dos meus iria além dos números. 20, 30 50, 100 mortos. Entre eles estaria o Valter Hugo, brasileiro, 31 anos, funcionário de uma organização internacional de Genebra, repleto de sonhos, mas com um fim triste.

Com esse exemplo gostaria de mostrar que no instante em que a tragédia alheia ganha um rosto, uma história, uma identidade, conseguimos imediatamente nos sensibilizar, não importa quão distantes estamos dela. Ouvir que centenas de refugiados estão morrendo diariamente na desesperada travessia do Mediterrâneo não nos comove, até que, entre eles, vemos o corpo de uma criança, pequena, frágil, inerte em uma praia grega. Isso nos faz sentir mal.

Refugiados, imigrantes, muçulmanos fundamentalistas… parece que toda generalização desumaniza. Não são 150 corpos em Paris, 40 em Beirute, além dos milhares na Síria, na Palestina, no Burundi… são seres humanos, com histórias, família e amigos, como todos nós.

O que acontece é que, infelizmente, muitas sociedades decidiram abrir mão dos laços comunitários que ligam efetivamente os indivíduos em um mesmo espaço físico. Família e religião, por exemplo, dois guardiões dos valores fundamentais da pessoa humana são atacados pelos “fundamentalistas do Estado Laico”, que como os grupos terroristas, não admitem nenhuma forma de diálogo com quem não compactua com as suas meias verdades.

Governos e governantes que se consideram embaixadores dos direitos humanos, mas que fecham os olhos para os seus “iguais” que estão morrendo diariamente tentando fugir das guerras promovidas pela ganância desses mesmos “guardiões da humanidade” não podem simplesmente se fazerem de vítima. Quem está vendendo as armas para os grupos terroristas? Quem está explorando o petróleo de suas terras? Quem está sustentando ditaduras em troca de benefícios comerciais? Quem está impedindo a liberdade de culto dos não cristãos? Quem está humilhando outras culturas, defendendo-se com a incorruptível liberdade de expressão?

Não quero ser insensível nesse momento de comoção mundial, mas é hora de olhar para essas tragédias, não só as europeias, mas as mundiais, com a maturidade necessária. Sem um exame de consciência pessoal e comunitário não dá para resgatar a Humanidade perdida no processo de desenvolvimento econômico, que exterminou o valor do outro, essencialmente diferente.

E, finalmente, enquanto continuarmos querendo enfrentar o terrorismo com mais ódio, armas e declarações de guerra ou mesmo com a “indiferença do dia seguinte”, vamos estar arriscando tudo, nosso futuro e a Paz.

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