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A (ir)relevância do que lemos

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Estamos constantemente consumindo informações e, muitas vezes, nem nos damos conta do conteúdo que a Grande Mídia “soca” em nossas mentes, sem qualquer tipo de compromisso em prover algo que é realmente importante para a vida das pessoas.

Hoje de manhã, acessando o site do globo.com, me deparei com dois exemplos pontuais de noticias que se encaixam nos extremos do que considero relevante ou não.

A primeira delas era sobre o passei solitário do jogador de futebol brasileiro Neymar, na China. É descarado o modo como a globo segue o jovem por todos os lados, faltando somente noticiar quando ele vai ao banheiro. Não é raro ler matérias sobre ele que fogem completamente do universo futebolístico em que ele está inserido. O porquê disso é difícil de entender, talvez pela necessidade comercial de fabricação de celebridades, mas a desnecessidade e irrelevância são óbvias.

A segunda notícia não se tratava de alguém famoso, mas de seres humanos desconhecidos, que, contudo, testemunharam algo que diz muito mais aos leitores, de maneira global.  Ela conta rapidamente o bonito ato de um americano com doença terminal que levou a filha ao altar deitado em uma maca. O testemunho Scott Nagy, no casamento da filha Sarah, na cidade de Strongsville, em Ohio, toca o coração do leitor de qualquer lugar deste planeta, pois acena para uma humanidade em que todos nos encontramos.

O paradoxo entre as matérias acima mostra a falta de critérios na produção de uma informação noticiosa. A humanidade de Neymar não vale menos ou mais que nenhuma outra. Por isso, ela deveria ser notícia, somente quando exprime algo relevante, no caso dele, principalmente, dentro de campo de futebol.

Seria bom se todos os sites fossem obrigados a incorporar um tipo de avaliação, como acontece em blogs e vídeos do youtube, para que as pessoas possam se manifestar, positivamente ou negativamente diante das informações exibidas, auxiliando o “corpo editorial” a escolher melhor o que noticiar. Isso se a Imprensa, de maneira geral, considerar relevante o que os leitores pensam sobre as noticias. Por enquanto, acredito eu, que não.

A retomada do “Homem que Sabe”

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Na sociedade em que vivemos “tudo é visível, mas cada vez menos compreensível”, afirma Dominique Wolton. Isto que nos obriga a sair de uma hermenêutica informacional e tecnocrática da sociedade, em busca do conhecimento verdadeiro das coisas e dos acontecimentos.

A virada do século XIX para o XX foi marcada pelo “ápice” da valorização da ciência como instrumento de desenvolvimento social. Contudo, as poucos, os acontecimentos e as escolhas politicas criaram um contexto em que não bastavam mais funções e operações matemáticas para compreender o mundo. Como afirma Wolton, “o século XXI é a revanche das ciências humanas em relação ao positivismo técnico e econômico do século XX”. Agora, “compreender as sociedades e agir sobre elas é muito mais complexo que compreender a matéria, a natureza e a vida e agir sobre estas”.

A grande oportunidade que parece se esconder na frase do teórico francês é a de da retomada da centralidade do ser humano como elemento de interpretação da realidade, “a revalorização do estatuto das ciências do homem e da sociedade”. É a partir disto que a comunicação torna-se um elemento fundamental de análise, do homem e da realidade. Como disciplina, ela “conhece a dificuldade das relações entre saber, poder e comunicação; sabe da necessidade da coabitação dos saberes e da obrigação da interdisciplinaridade” para vislumbrar de novos caminhos.

Dominique Wolton afirma que “as ciências da comunicação, por sua própria existência, ilustram a necessidade da interdisciplinaridade. Ilustram a importância e a dificuldade do conflito de legitimidade”. Mas para que seja possível uma relação profícua entre as ciências humanas e as “ciências positivistas” é fundamental uma mudança no estatuto do intelectual. Para Wolton , ele “não é mais a única sentinela da democracia e do universal”, sobretudo porque “ao longo do século XX, os intelectuais erraram nos combates essenciais da democracia”. Por isso, hoje, “o intelectual é mais modesto, fala em nome de suas competências e não do universal.

A relação interdisciplinar entre as diferentes ciências, pode convergir para a demanda essencial de não só produzir informação, mas fazer dela conhecimento, isto é, instrumento que concorre para a melhoria da sociedade.

A herança de Francisco para o Brasil

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Desculpo-me com os leitores pelo post “católico” demais, obrigando-lhes a colher este aspecto “privado” da minha existência. Porém, eu acredito, sem dúvidas, que esta dimensão “comunicada” seja capaz, como qualquer outra expressão religiosa, de iluminar a vida de todos. Por isso achei pertinente, hoje, escrever sobre o livro que acabei de concluir: “Palavras do Papa Francisco no Brasil”, editado pelas Paulinas.

Falar sobre a presença “profética” de Francisco no Brasil seria “chover no molhado”. Sempre que o Papa visita o Brasil, especialmente quando encontra os jovens, renova-se a alegria e a coragem de testemunhar o tal Cristo, exemplo de um amor nada ideológico, porque aberto ao outro; um amor  livre e acolhedor.

As inúmeras mensagens, algumas, doces como o abraço materno, outras duras como conselhos paternos, transformaram as vidas não só daqueles que foram encontrar o Papa no Rio. Graças aos meios de comunicação, televisivos ou não, a Luz de Francisco ressoou pelo Brasil, chegando também a todos os cantos do planeta.

Mas por que o que o Papa diz é importante? Porque suas palavras estão carregadas com a força do seu testemunho e, por isso, transformam. Da comunidade na favela, ao hospital, à basílica, em cada discurso uma mensagem de encorajamento humilde, sem sermões clericais, mas como conselhos de um Amigo, um companheiro na Viagem da vida, que caminha com os pés no chão e os olhos no Céu.

Para entender o que eu digo é fundamental ler, conhecer, o que Francisco disse, mesmo um não católico, pois a linguagem deste “sucessor do apóstolo Pedro” é capaz de tocar o coração de todos, é universal, como era a mensagem do Cristo. O Papa Francisco não veio ao Brasil promover o catolicismo, mas deixar uma mensagem de Amor, Esperança, que pode ser vivida por todos, com simplicidade e, especialmente, no serviço aos marginalizados da sociedade.

O Papa viu nos brasileiros um povo “tão grande e de grande coração; um povo tão amoroso” e, quando deixou o nosso país, sentiu saudade “do sorriso aberto e sincero, do entusiasmo”, convidando todos a mostrar, COM A VIDA, “que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizando a dignidade de cada ser humano”.

Francisco se foi, mas deixou seu testemunho e palavras, que podem ser meditadas, dia após dia, graças à publicação de seus discursos. Altamente recomendado.

Quem quiser comprar o livro, ele custa R$6,00 e pode ser adquirido online, clicando aqui.

O genocídio de professores no Brasil

professores doentes

Talvez eu vá me cansar (e cansar os leitores), mas não consigo deixar de protestar contra a truculência da Polícia Militar que, sistematicamente, tem agredido os cidadãos do país. A minha revolta não é (toda) contra o elemento singular, o policial mal pago que está na linha de frente dos protestos, mesmo ele tendo o “dever moral da desobediência”. O que mais me entristece é aceitação social de uma corporação corrupta, assassina e centrípeta como a Polícia Militar, que não existe para servir o povo, mas para a manutenção dos próprios interesses corporativos.

É uma vergonha, ainda maior, ver alguns policiais militares baterem, descaradamente, na cara dos (poucos) professores que ainda restam nesse país e que lutam por essa classe tão marginalizada. O que foi feito com os profissionais da educação na Câmara Municipal carioca é mais um episódio que nós, brasileiros, deveríamos nos envergonhar.

Como um país vai se desenvolver sem educação? Sem valorizar seus professores? Como tem sido até agora, na malandragem, no jeitinho.

O mais triste é que há anos vem diminuindo potencialmente o número de jovens interessados na profissão de professor.  De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a educação básica brasileira (que inclui a educação infantil, a especial, o ensino fundamental, o médio e a educação de jovens e adultos – o EJA), em 2007 havia 2.500.554 profissionais atuando em sala de aula. No ano de 2009, esse valor baixou para 1.977.978.

Esse verdadeiro “genocídio” de profissionais da educação, fruto das políticas públicas que parecem concorrer para a ignorância coletiva, pode ter consequências ainda mais drásticas do que aquelas que estamos vendo crescer na sociedade brasileira.

Aceitar a violência histórica contra os professores do Brasil é ser cúmplice da falta de consciência cidadã e da desvalorização dos valores morais que estão na base de qualquer Estado-Nação.

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