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Algumas consequências da sociedade do espetáculo

sociedade do espetáculo

Não existe, espero, um estudante de jornalismo do mundo que nunca ouviu o termo Sociedade do Espetáculo (para ler o livro clique aqui), que intitulou o livro do escritor francês Guy Debord em 1967. Com um pessimismo envolvente, emerso no contexto da Guerra Fria, o escritor critica tanto o espetáculo de mercado “ocidental capitalista” (o espetacular difuso) quanto o espetáculo de estado do bloco socialista (o espetacular concentrado).

A importância desta obra é inquestionável, sobretudo pelo seu valor histórico. Além disso, é importante mencionar que os textos de Debord serviram de base teórica para as manifestações do Maio de 68 na França. Mas, considerando o contexto atual em que a sociedade e a crítica da comunicação de massa se encontram, arrisco a dizer que a sua grande obra exprime um anarquismo retrógrado que vai “na contramão” do estimulo em prol de uma reflexão “construtivista”.

Bom. Pensando em uma leitura que “aceita” a “vitória” do modelo econômico capitalista e aplicando este modelo ao universo da comunicação, como afirma Wolton, “é compreensível que a informação e a comunicação tenham se tornado mercadorias”. Contudo, o que precisa ser pensado, urgentemente e de maneira profunda, é “até que ponto o ideal, o normativo (da comunicação como partilha entre diferentes) é respeitado e a partir de quando, inversamente, é instrumentalizado ou mesmo pervertido”.

Seguindo o raciocínio, é fundamental pensar na difusão das diferentes ideologias pela comunicação e, frequentemente, sustentadas por aqueles que as “fazem”: jornalistas, publicitários, as personalidades midiáticas. Para que a comunicação (de massa) preserve a sua essência como “troca entre alteridades” ela, comenta Wolton, “deve atingir todos os públicos e tornar-lhes compreensíveis aos grandes desafios da sociedade e do mundo”, superando a espetacularização e a escolha editorial que expresse unicamente seus interesses ideológicos.

Isso não quer dizer que ela não pode ser simples, para ganhar clareza para um grande número de receptores! Certamente não se pode correr o risco de entediar o espectador, mas do simples ao simplista existem propósitos distintos. Deve-se, porém, exercer um grande zelo para não criar caricaturas em que a forma suplanta o conteúdo.  “Ganha (audiência) quem é mais rápido na invenção de frases curtas e das formulas”, como podemos observar diariamente na televisão. É questionável, porém, se esse modelo tem promovido “encontros”, consciência, desenvolvimento.

Quando as escolhas convêm… tudo bem | Valter Hugo Muniz

escolhas convêm

Escolha. Uma palavra carregada de consequências, às vezes boas para nós e ruim para os outros; ou o contrário; ou boas pra ambos, ou ruins para os dois. Enfim, escolher é vivenciar, ao mesmo tempo, o maior drama e a maior graça da existência humana: a liberdade. Pensei nisso enquanto lia a matéria sobre o jogador hispano-brasileiro, de 25 anos, Diego da Silva Costa.

A polêmica, em resumo, é a seguinte: Em busca do sonho de ser jogador de futebol, Diego deixou o Brasil ainda muito jovem para seguir carreira no futebol da Europa. Depois de jogar em vários clubes de Portugal e da Espanha, ele chegou, com 19 anos, ao Atlético de Madri, time que joga até hoje. Ali, conquistou respeito profissional, fama e dinheiro.

Com gols e jogadas brilhantes, o futebol de Diego começou a despertar interesse da seleção espanhola, que precisa urgentemente de um jogador com as suas características em seu plantel. Não se sabe se por coincidência ou temor, Felipão convocou Diego para os amistosos do Brasil, este ano, contra a Itália e Rússia, mas ele quase não jogou. Essa evidente falta de espaço no grupo brasileiro fez com que a Espanha fizesse uma proposta profissional irrecusável a Diego: sendo naturalizado espanhol ele poderia, em vez de jogar pelo Brasil – algo improvável – optar por atuar pela atual campeã mundial, onde teria espaço praticamente garantido.

E o sergipano Diego Costa escolheu jogar pela Espanha, explicando: “Foi uma decisão bastante complicada porque estive entre o país no qual nasci e o país que me deu tudo, que é a Espanha. Pensei e decidi jogar pela Espanha. Foi aqui que alcancei os meus objetivos e tive um crescimento em minha vida pessoal. Então eu tenho um carinho especial pela Espanha e sinto o carinho das pessoas diariamente”.

Assustei-me com a decisão, pois como disse o Felipão, “ele virou às costas para um sonho de milhões de jovens jogadores brasileiros”. Isso é fato. Só que a afirmação do técnico brasileiro soou ridícula, porque ressaltou o dilema, sem que se fosse pensado no Diego que existe ALÉM do profissional do futebol.

Não existe causalidade direta no fato do jogador ter optado em representar outra seleção (que não tem valor diplomático qualquer), com a renúncia de sua cidadania ou negação/menosprezo de seu país. Seguindo esse raciocínio, devemos incluir nesse “bando de renegados” todos os profissionais das mais diferentes áreas que trabalham em multinacionais estrangeiras (dentro e fora do Brasil), que vão morar em outro país por motivos vários, como fez também o próprio Felipão.

Diego é e nunca deixará de ser brasileiro. Mas o jogador, Diego Costa, pode jogar por qualquer time, qualquer seleção, pois é um profissional e o futebol é um esporte, nada mais. Ele não define quem somos ou a nossa nacionalidade. Como também não é “traidor da nação” quem decide imigrar por trabalho, estudo ou até mesmo por condições melhores de vida.

Na verdade, o que deveria ser discutido, é se a Espanha trata bem ou valoriza, como está fazendo com Diego Costa, os outros jogadores e profissionais brasileiros que atuam no país. O que acho mais triste, e isso acontece em quase TODOS os países europeus, é a instrumentalização desses jovens jogadores. Se são bons, são suíços, alemães, franceses, holandeses, espanhóis… se não, são senegaleses, argelianos, brasileiros, argentinos, kosovares e etc.

A decisão e a liberdade de decidir é toda do Diego e deve ser respeitada. O que deve ser discutido é o tratamento que os profissionais estrangeiros, do futebol ou não, tem sido praticado pelas instituições e povos que os recebem. Para refletir ainda mais, fundamental a entrevista deita pela UOL esporte com o comediante e ex jogador na Espanha, Marco Luque e o caso dos médicos cubanos no Brasil que escrevi neste post.

O individualismo dos protestantes

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O título desse comentário não quer, de forma alguma, relacionar os seguidores das religiões consideradas Protestantes, com a temática que será abordada. A escolha é, na verdade, uma crítica à onda de protestos que se instalou no Brasil e que, de uma expressão legitima de atenção pública aos direitos de determinados grupos, têm se tornado banais, beirando a ridicularizarão.

Pois bem. Como o professor Sakamoto escreveu em seu blog, eu também sou contra os maus tratos com qualquer tipo de animal, principalmente filhotes. Sobre os testes de medicamentos em animais, acredito que chegaremos a um ponto em que a tecnologia conseguirá simulações eficazes, mas, também creio que o uso de cobaias AINDA seja necessário (mas um especialista poderia certamente calibrar os “chutes” da opinião pública).

Contudo, a verdadeira reflexão proposta por Sakamoto, a respeito do descaso com o ser humano, precisa MESMO ser levada a sério. Aqui, não quero dissertar a respeito dos inúmeros casos de escravidão que ainda existem no Brasil e no Mundo, porque esse grave problema, mesmo constantemente silenciado, conta com um movimento de pessoas que já trabalham em prol da sua extinção.

Na verdade,  quando penso nos adeptos da “causa animal”, o que me causa mais revolta, é a capacidade de eles igualarem os direitos dos animais com ao dos seres humanos, ao ponto de humanizá-los, sem se dar conta de que a tal igualdade se limita à dignidade comum partilhada como “filhos da natureza”. Não nego a importância de salvaguardar a vida dos animais. Nesse mundo doente, talvez seja realmente necessário institucionalizar essa proteção. Mas, como também acenou Sakamoto, é necessário, antes de tudo, comover-nos com a exclusão dos direitos dos seres humanos. Sem que uma coisa, anule à outra.

Basta caminhar pelas ruas do centro de uma metrópole como São Paulo, para ver crianças (indefesas como os filhotes de Beagles) fumando pedra, limpando vidro de carro, jogadas pela calçada como lixos humanos e lembradas só quando cometem crimes. Diante da miséria dessas pessoas (parece que) pouca gente se move, se escandaliza, vai para rua protestar. Em vez disso, os “protestantes” gritam exigindo direitos individuais, para si mesmo, com pautas desarticuladas.

Continuemos a nos escandalizarmos com todas as injustiças existentes? Claro. Mas que ela suscite uma indignação que não se limite aos bichinhos de quatro patas, pois, enquanto isso, muitos de nossos irmãos “homo sapiens” continuarão marginalizados pelas ruas do país.

Continuamos inseguros

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Depois dos casos de espionagem contra políticos e empresas brasileiras, tenho lido bastante sobre o assunto e refletido muito sobre a segurança (ou a ausência dela) dentro do espaço público virtual.

As verdades aprendidas na escola que acenavam aos benefícios da, ainda recente, globalização, na medida em que o tempo passa, se transformam em receios, geram desconfiança. Mas será que é possível dar um passo para trás em relação a ela? Acredito que não.

O fato é que a nossa atuação no universo “ONLINE” está cada vez mais sujeita à observação. Aquilo que compramos, baixamos, visitamos e  escrevemos; tudo pode ser controlado, espionado.

Os motivos são, majoritariamente, econômicos e políticos. A internet tornou-se, não só, um espaço de troca, que redimensiona os limites geográficos, mas ela é também um “ambiente” passível de manipulação de informações que, talvez, pareciam sigilosas. Tudo é controlado também em prol da “personalização” das ofertas de consumo.

Até aí, nada de novo. Mas e eu? Eu sempre me pergunto se existe realmente um interesse “especial” em saber aquilo que faço (ou deixo de fazer) na internet.

Acredito que, enquanto eu for alguém politica e economicamente “insignificante”, pouca coisa me espera. Claro que os e-mails ou “posts” nas redes sociais podem ser interceptados e manipulados por hackers. Também meu cartão pode ser clonado e as transações bancárias interceptadas. Mas isso é, fundamentalmente, sinal de segurança diminuída? Sim, mas sem exageros.

Todo cuidado é pouco para aquilo que se faz na internet, mas é o mesmo cuidado que temos que ter circulando pelas ruas de uma grande metrópole, onde o risco de perder a vida é mais literal.

No final, continuamos inseguros.

Luto pelos professores do Brasil

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Hoje, de maneira especial, sinto uma profunda dificuldade em escrever algo de bom sobre a situação dos professores brasileiros.

Impossível, porém, não me orgulhar de ter sido alfabetizado por um membro dessa classe sofrida. Sou parte de uma pequena parcela da população que pode desfrutar dos privilégios de ser educada por uma professora “de verdade”. Crescendo, me dei conta de que a “maldição pedagógica” havia contaminado toda a minha família: primas, primos, tios e tias, muitos deles são professores, a maioria da rede Pública. Pior: acabei também me casando com uma filha de professora.

Cresci ouvindo muitos absurdos a respeito do que se passa dentro do Ensino Público, no Estado de São Paulo. Talvez por isso use, de maneira injusta, a palavra “maldição” para falar de um dos profissionais mais basilares de uma sociedade que se diz “desenvolvida”. Mas, não é preciso um olhar muito apurado para perceber que o cenário atual do professor brasileiro, justifique o emprego de “maldição”.

Acho que a festa pelo dia dos professores deveria ser levada mais a sério. Não bastam abraços dos discentes, os parabéns de diretores, secretários da educação, prefeitos, governadores e nem mesmo da “presidenta”. É preciso um olhar humano e estratégico em relação a esse profissional. Pois, o sucateamento das estruturas em que os professores trabalham e o descaso cultural que existe em relação a eles estão nos levando, como nação, para o fundo do poço.

Engana-se o “romântico” que pensa que a consciência coletiva tem crescido porque fizemos uma dezena de protestos exigindo “tudo”. Sem um projeto que coloque a educação (e seus profissionais) como um dos pilares do desenvolvimento da nação, nós não teremos nem passado, nem futuro.

O dia dos professores, até que a situação aspire uma mudança real, deveria ser lembrado com tristeza, um dia de LUTO, de reflexão, pelo que cada um de nós, cidadãos, NÃO tem exigido pela educação no Brasil.

Somos, como povo, incapazes de perceber que os valores de uma pátria têm na educação seu principal aliado. Por isso, estamos nos transformando, cada vez mais, em um país privo de Valores. Não somos o país da educação. Somos o país do futebol, das mulheres frutas, do pancadão, do PCC. E parece que está tudo bem.

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