Category: [O outro] Page 29 of 64

[Eleições 2010] Quanto vale um voto? – por Luigino Bruni

Porquê as pessoas vão votar?

A ciência econômica ainda não pode nos dar respostas a esta questão de forma convincente. Se seguirmos somente o critério de racionalidade puramente econômica, isto é, aquele que nos leva a fazer escolhas em termos de custos e benefícios para o indivíduo, nenhum cidadão racional deveria ir às urnas. De fato, o impacto que um único voto tem sobre o resultado final de uma votação política está muito perto de zero, enquanto que o custo (em tempo, especialmente) está todo sobre o indivíduo. Se, em outras palavras, cada pessoa se perguntasse “o que o meu voto acrescenta na política nacional?” e agisse de conseqüência, deveríamos nos encontrar com as sessões eleitorais desertas.

Mas porque então, não obstante a teoria econômica e os economistas, ainda muitas pessoas vão votar? Talvez porque quando participamos da vida civil e política não olhamos somente aos benefícios e aos custos individuais e materiais, mas atribuímos também um valor intrínseco ou ético à participação política em si. Quando Franca deve se decidir se ir ou não votar, se o custo material do voto é 2 (tempo, gasolina…) e o benefício é 0,1 (isto é, quanto vai influenciar o seu voto no êxito eleitoral), se ela não considerasse outros tipos de benefícios, ficaria tranquilamente em casa ou iria passear. Se, ao invés, a participação política lhe traz por si mesma bem estar ou felicidade, é como se àquele 0,1 se acrescentasse um valor material que, se bastante elevado, a faz ir às urnas ao invés de gozar de um repouso dominical. O que podemos dizer então, a partir desta prospectiva, sobre o declínio da afluência? Antes de tudo, deduzir que este declínio é também resultado de um número crescente de pessoas que pensam em termos puramente individualistas e “econômicos”.

Mas podemos dizer ainda algo mais. Quando a qualidade do debate político e a moralidade dos políticos decaem, aquele valor intrínseco e simbólico da participação se reduz nas pessoas. E quando decaem abaixo do limiar crítico (para Franca é de 1,9 e cada um tem o seu “limiar crítico”) pode-se não ir mais votar: “não vale mais a pena”, é uma expressão que diz em extrema síntese tudo isso. E mesmo se Franca ignora qual seja o seu “limiar crítico”, se este ano não foi votar, com esta sua escolha nos revelou que o seu valor intrínseco da participação política decaiu. Neste caso até mesmo um ‘não voto’ é um sinal de mal-estar e talvez um pedido por uma melhor qualidade da vida política. É claro, existem cidadãos para os quais o valor ético da participação política é muito alto, mas muitos outros gravitam ao redor daquele valor “limiar” e a crise moral da política pode ter induzido muitos destes a renunciar ao voto.

O que concluir então? Se quisermos que as pessoas continuem a votar, a exercitar este direito-dever príncipe em uma democracia, é preciso preencher de ideais e de moralidade a política e fazer com que aquele valor simbólico, mas muito real, seja sempre alto e que “valha a pena”.

[Seminario NetOne 2010] Comunicar amanhã

confecom balões coloridos

Post original: http://netonebr.wordpress.com/2010/06/14/comunicar-amanha/

“Quantos de vocês estão preocupados com o futuro do jornalismo? E com os futuros jornalistas?”

Essas foram as perguntas que abriram o meu discurso, a experiência que tive o privilégio de apresentar aos participantes do Seminário Internacional “Prove di Dialogo”.

A Europa está em crise.

Essa constatação é perceptível simplesmente se procuramos acompanhar o noticíario de algum telejornal do país. Porém, o que não é tão fácil de assimilar estando “fora” dessa realidade particular, específica, é o reflexo que essa crise sócio-política vem causando na Itália de Berlusconi.

Mas qual a relação entre as perguntas provocativas feitas no início da minha experiência com a situação sócio-política da Itália?

Bom… nessas duas últimas semanas vividas em solo europeu encontrei uma realidade bem diferente daquela em que me defrontei 5 anos atrás.

Especificamente, na Itália, os problemas econômicos e o mau estar político vem servido de alerta por grande parte da imprensa local para o perigo iminente de uma ditadura.

Semana passada o Senado italiano aprovou uma lei que restringe a atividade da imprensa, proibindo grampos telefônicos ou a revelação de material audiovisual que apontem supostos crimes, até que o processo jurídico seja concluído, além de outros pormenores que consideram a lei uma censura explícita à atividade dos jornalistas e um escandaloso favorecimento as ações criminosas da Máfia.

Estando em meio a essa quente discussão política, olho ao meu redor e me pergunto: aonde estão os jovens neste debate? Qual a participação política tanto nos protestos, quanto na produção de informação, que mostre a importância do protagonismo deles nesse momento particular?

Não se pode “tentar” o diálogo sem que as novas (e futuras) gerações sejam ouvidas, envolvidas no debate, mas é necessário que esses jovens se esforcem para fazer ecoar a própria voz.

A sensibilidade em direção ao desenvolvimento social parece bem mais viva na América Latina, lugar em que a miséria e a desigualdade é bem mais VISUAL. Na Europa, o consumismo e o bem estar que “esconde” os problemas sociais, desfoca o olhar em relação as diferenças e inibe o crescimento da consciência que leve à uma ativa participação política.

Por isso, efetivamente, é necessário um intercâmbio cultural entre o aspecto reflexivo do jeito “europeu” de comunicar e o modo “latino-americano” de produzir informação, participar do debate público, que vai de encontro com a demanda (urgente) de uma ação efetiva que caminhe em direção ao bem estar comum.

Pessoalmente, temo que a vida urbana no Brasil, excessivamente ocidentalizada (no sentido de incorporação cultural do consumismo capitalista), sobretudo no que diz respeito aos “valores”, nos leve como sociedade e no modo de produzir informação, aos mesmos tristes rumos em que se encontra a Itália atualmente.

[Seminario NetOne 2010] Monitores da informação tecnológica

Post original: http://netonebr.wordpress.com/2010/06/12/monitores-da-informacao-tecnologica/

Imagine-se entrando em um museu que expõe as obras, algumas inéditas, do pintor italiano Caravaggio. Porém, você é brasileiro (a). Não conhece os pormenores da arte italiana e por isso, sem auxílio, não conseguirá efetivamente vivenciar uma experiência plena.

Aqui é possivel perceber a importância dos monitores, que conhecem bem e estudam as obras de arte e assim podem orientar melhor os visitantes do museu.

Essa imagem se formou na minha cabeça após a apresentação do especialista em internet, de origem francesa, Xavier Debanne, que me fez entender a importância dos profissionais de Teconlogia e Informação (TI), no processo de entendimento da comunicação por meio das Novas Mídias.

Jornalistas são especialistas em comunicação verbal, textual e até mesmo visual, mas o universo WEB precisa de monitores, dos arquitetos do sistema, que traduzem as formas tradicionais de comunicação em uma linguagem acessiva, eficaz, objetiva (e por que não transformadora?) nesse Novo Mundo.

As “tentativas de diálogo” precisam ser constantes entre esses dois aspectos da comunicação, tradiconais e tecnológicas, sobretudo em um mundo onde a relação entre ambos é imprescindível.

Só assim a comunicação na pós modernidade poderá levar ao esclarecimento, desenvolvimento, à experiência plena de quem absorve a informação comunicada por meios tecnológicos.

Page 29 of 64

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén