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Crônica Sophiana

7:15h

O tilintar do despertador decreta aquilo que a luz no quarto já havia denunciado: é hora de levantar (mesmo se o colega de quarto não esboça um mínimo sinal de vida).

Fundamentos de Economia e Seminário de Política são aquilo que me espera hoje, depois de um final de semana de futebol, festa dos estudantes e, claro, estudo.

Desço pra tomar um cafezinho rápido porque as 8:15h vem a van que busca os estudantes de “Tracolle” e leva para a universidade (impossível não pensar no privilégio que as meninas têm de morar no mesmo prédio da faculdade).

As 8:30h estamos todos lá, sentados na aula 1, esperando as atrasadas para a “condivisão”, momento que se repete três vezes na semana e que tem como objetivo refletir como os conhecimentos gerais adquiridos – à luz do Ideal da Unidade – procuram ser colocados em prática na vida cotidiana de cada membro da comunidade sophiana.

Depois da leitura de um trecho do Evangelho alguns falam espontaneamente, em seguida os avisos e logo o intervalo, regido por um bom café italiano e o bate papo informal entre todos, professores e estudantes.

As 9:30h começam as aulas. Interessante descobrir que por trás de todas as áreas do conhecimento se encontra, centralizado ontologicamente, o “homem – relação”. A nossa existência é mesmo diretamente vinculada a de um “outro”, que tantas vezes nos machuca, porque diferente de nós.

Estudando “Ethos do Mercado” é possível descobrir as diferentes estratégias antropológicas para lidar com esse drama e que encontrou, por fim, no Mercado a principal fonte de “immunitas” (imunidade).

As aulas da manhã vão até as 13:15h e o cansaço físico não se compara com o mental, o espiritual, pois tudo que se aprende em Sophia, resvala no nosso interior.

Hoje o almoço é em casa e nisso agradecemos aos estudantes do segundo ano que, por terem um horário menos apertado, fazem a comida para os “coitados” calouros.

É o tempo de comer, dormir uma meia horinha e já estar pronto para, as 15h, voltar para a faculdade. Ainda bem que o Seminário de Política é bem dinâmico, impedindo a ação eficaz, inoportuna e previsível do sono.

Naquela pequena sala, só um terço da classe. Discutimos as raízes, o desenvolvimento e as estratégias do pensamento ideológico. Profunda ênfase em um particular, que permite ser afirmado como verdade, mas que é só um aspecto dentro da multiplicidade social, manipulado por interesses específicos.

“A leitura de obras e a análise dos casos nos conduz a pensar a sociedade levando em consideração a necessidade de conceber a verdade que engloba o todo” – vou pensando de forma pedante enquanto voltamos na van pra casa.

Deixo a mochila no quarto, vejo meus emails, as notícias e as 20:30h estamos todos sentados na sala para jantar, conversar sobre o dia e dar risadas. Oportunidade concreta de verificar e discutir a teoria aprendida durante o dia.

Depois da janta, quem preparou lava, quem deu sorte de não estar na dupla responsável pela refeição vai ver um filme, ler e, claro, se tiver mais coragem que preguiça: estudar.

Lá pelas 23h, após um banho relaxante, sou um dos poucos que vai pro quarto. Leio, vejo um seriado e apago a luz pensando em Aristóteles, nos franciscanos, em Hobbes, Smith, Guy Debord.

Difícil descansar com a mente acelerada, mas é só segunda-feira. A dinâmica de “vida e estudo” precisa ser gerida de maneira inteligente, para o bem do corpo, da mente e do espírito.

Pai vencedor

Eu sempre quis ter um pai vencedor!

Alguém forte, corajoso, inteligente, cheio de talentos e de sucessos.

Mas foi preciso crescer para entender que o vitorioso da vida não pode ser definido com uma única batalha, analisando um único momento.

Perceber tudo isso me fez descobrir o tesouro único que é o meu pai; com capacidades que não podem ser contabilizadas, talentos que não estão em evidência em uma sociedade como a que me encontro.

Por isso, escrever sobre o meu pai exige primeiro as desculpas pelas besteiras que um jovem diz, pela incapacidade de entender a escolha de valores, e a virtude exercitada cotidianamente com o grande talento de amar.

Tenho, sem dúvidas, um pai vencedor, pois nunca faltou nada nem a mim, nem as minhas irmãs e mãe. Vencedor porque se manteve fiel ao sacramento do matrimônio, à família… e essas grandes vitórias, eu poucas vezes reconheci, mas nunca é tarde demais, por isso:

«Pai, sinto um orgulho imenso de ser seu filho!

Obrigado pelo seu testemunho de amor que não esconde as fragilidades, mas que é sem dúvidas uma enorme referência para mim de homem, de marido e principalmente de pai.

Com a minha vida, quero buscar fazer com que você sempre se orgulhe de quem é e saiba que o mais simples dos meus sucessos até hoje, eu nunca conseguiria, sem o seu apoio, a sua ajuda (concreta ou silenciosa), a sua confiança.

Te agradeço por tudo e te desejo um FELIZ ANIVERSÁRIO.

Do seu filho e admirador

Homenagem pelos 63 anos do meu pai, Valter Tenório.

Homenagem ao noivado de Carol e Fausto: Pilares do casamento e o sustento comunitário

O passar dos anos evidencia em uma família a sua vocação de estar sempre crescendo e assim “transmitir” ás gerações sucessivas, o grande privilégio de viver e poder encontrar-se pessoalmente com a almejada felicidade.

Só que um elemento imprescindível para o crescimento de uma família é a necessária união entre duas pessoas que, atraídas pelo amor recíproco, desejam encontrar essa felicidade juntas.

Porém, até ter certeza que é esse o caminho, essa é a pessoa, passam-se anos de um “fadigoso” auto-conhecimento e conhecimento do outro. Inúmeros encontros, reencontros e desencontros, processo de criação colaborativa que define o futuro dos dois amantes.

Todas as conquistas desse período são, sobretudo, etapas da preparação para o verdadeiro desafio que é a vida a dois.

Nós, muitas vezes, impulsionados pelo amor-sentimento, esquecemos que viver plenamente o “até que a morte os separe” envolve também outros dois pilares que vão além da simples vontade de ser feliz “pra sempre” acompanhado.

O primeiro desses pilares é o amor que é compromisso social, onde, formando uma célula comunitária nos tornamos partícipes da composição orgânica da sociedade. O filósofo grego Aristóteles afirmava que a família é a comunidade política fundamental, onde se fundam e são vividos os laços sociais de fraternidade que depois são reafirmados entre os vizinhos até chegar a polis, cidade.

Vemos que hoje a humanidade vive uma forte crise de valores que descaracterizou e quase exterminou a “instituição” família. Desta forma, sustentar a convivência familiar é permitir que muitos dos valores positivos sobrevivam também no contexto social.

O segundo pilar que evidencia a importância da união entre duas pessoas tem a sua origem no livro dos Gênesis. “E Deus criou o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (Gn 27). Esse homem criado a Sua imagem e semelhança, é homem e é mulher, é humanidade.

Através do estudo antropológico dessa história, que se assemelha a outros diferentes contos mitológicos da antiguidade, é possível perceber que, acima de tudo, a união entre homem e mulher é constitutiva da humanidade.

Esse texto, divinamente inspirado e revelado na bíblia, mostra que a união entre um homem e uma mulher é a realização plena, é encarnação do amor divino, que se exprime desde o início e que continua a ecoar na sociedade, sempre que novas uniões “no nome Dele” se repetem, quando um novo sacramento do matrimônio é celebrado.

Então, casar passa a ser também co-criação, manifestação do divino no humano. É possibilidade de levar Deus – amor as pessoas, e ser a verdadeira divina humanidade.

Além desses dois pilares, social e divino, existem um outro, tão imprescindível como os demais, mas que optei por citar por último, pelo seu aspecto claro, evidente, sensível: o amor erótico.

Esse sentimento fundamental nos faz amar exclusivamente uma única pessoa e encontrar nela uma realização que se manifesta de forma única, gerando o desejo de uma fusão completa.

Porém a sua natureza, exclusiva e não universal, se não é vivida juntamente com outros dois pilares constitutivos da vida “à dois”, pode se tornar a mais egoísta forma de amor que existe.

Amor social, amor vocacional, amor exclusivo. São os meus votos para o presente, meus votos para o futuro de vocês dois.

 

Antes de concluir essa reflexão, gostaria de ressaltar a importância da comunidade para a sobrevivência e a fidelidade aos votos que uma nova família faz.

Para mim, o noivado, é a festa comunitária que celebra a vontade de dois jovens que juntos decidiram percorrer os últimos passos que levam ao SIM definitivo.

O que as vezes é difícil de entender é admitir é que nenhum casal é capaz de sustentar esse SIM sozinho. Sem a comunidade um relacionamento não sobrevive por muito tempo, não consegue viver plenamente todas as dimensões “matrimoniais” necessárias.

Por isso, é responsabilidade da comunidade, sobretudo das famílias, apoiar, ajudar, orientar, na Verdade, o que os dois filhos decidiram. Da mesma forma é imprescindível que eles escutem, valorizem e acolham os conselhos das famílias.

Eu, nós, pessoalmente, estarei fisicamente longe mas, com a Flavia, antes de tudo quero agradecer a Deus e aos noivos de poder estar presente nesse momento especial para eles e para as nossas famílias; depois me comprometo a viver, rezar e oferecer cada alegria, cada desafio, dor, por essa preparação ao casamento.

Tenho a profunda convicção de que, se vocês procurarem viver, já agora, respeitando todos os aspectos que procurei descrever, tanto o presente, quanto o futuro de vocês será testemunho e manifestação plena do amor de Deus por vocês.

Tamo junto!

 

Sophia più Karina

Quale dei tuoi molteplici volti

rimarranno impronta sicura nei corridoi sophiani?

Indescrivibile sensibilità

che scorre in paradossali lacrime e sorrisi;

Sguardo profondo.

Insaziabile sete di Dio

Semplicità e concretezza avvolta

nel vero amore all’Abbandonato

Stare con te è privilegio,

magnifico dono

Anche se tante volte ci siamo trovati

e tu ci sorridevi con faccia di sonno

Parti e lasci segnata la tua presenza mariana

Torni a casa e porti in te noi tutti,

e noi che poi rimaniamo

cerchiamo di rimanere fedeli

a questa bella comunitaria sfida

È vero, Sophia si è scoperta

in questi due ultimi anni,

più profonda, più Karina!

 

 

O amor que a Páscoa anuncia

Passadas as festividades da Páscoa o que sobrevive dentro de mim são as chaves de leitura oferecidas pelos evangelistas Mateus e João sobre qual tipo de amor o cristianismo anuncia.

Conversando com a viúva do fundador do Conselho Ecumênico das Igrejas, Lukas Vischer, pude refletir sobre a necessidade de “re-encarnar” o aspecto universalista do amor que o apostolo Paulo descobriu e testemunhou, e isso me serviu de Luz para uma nova compreensão das “verdades evangélicas”.

Interessante é que durante esse período de descoberta de Paulo e de reflexão sobre o que significa ser cristão no mundo contemporâneo, me reencontrei no coração do Magistério da igreja, no estado pontifício (Vaticano), que infelizmente ainda respira de uma concepção vertical do cristianismo.

Foi essa sucessão de encontros, primeiro com o Magistério e depois com a Sagrada Escritura no período pascoal, que me ajudou a perceber que a resposta é única: o tal amor cristão, defendido e buscado pela comunidade crista é o Serviço.

Na quinta-feira santa João deixa claro O TIPO DE AMOR que é o cristão, quando Jesus lava os pés dos seus apóstolos, evidenciado o paradoxo da grandeza do homem que está no servir, no doar a si mesmo. O ato de Jesus repete o mesmo feito anteriormente pela prostituta com ele (Lc 7:36-50) e que foi discriminado pelos apóstolos, como pelos fariseus no episódio com a “pecadora”, mas que simbolicamente deixa claro que o amor não olha nada além do presente.

Esse amor que se doa, alcança o ápice na sexta-feira santa, com Mateus que mostra A MEDIDA DO AMOR em Jesus que dá a sua vida. A morte do Filho de Deus não é só redenção dos pecados, mas proporciona uma nova compreensão do que é o verdadeiro amor: doação profunda e consciência de que é necessário “morrer” para encontrar a verdadeira Felicidade. O sofrimento, a dificuldade e a dor são passagens necessárias para o crescimento de todo ser humano e que o convida a estar sempre mais EM DEUS.

Porém é na ressurreição do sábado de aleluia O VERDADEIRO NATAL dos cristãos. O nascer para uma nova vida, alcançada por meio da dor onde se conclui a catequese do amor, que não termina na dor, mas na alegria, na festa algo que extrapola a pseudo-felicidade que o mundo contemporâneo insiste em tentar nos convencer.

Se cada cristão vivesse esses três passos com radicalidade o anúncio evangélico não permaneceria culturalmente estático, como tantas vezes se vê hoje.

A crença na Verdade cristã nada tem a ver com a ilusão romântica ou ingenua que muitas vezes o catolicismo prega, e se afirma “condicionante”. Acreditar e viver o amor cristão é praticar o necessário exercício de reconhecimento de Deus que atua hoje no mundo, por meio de cada um de nós. Convite UNIVERSAL que não se limita a raça, cor, crença ou status social.

Com a DEI VERBUM, documento do Concílio Vaticano II, o Magistério se coloca à serviço do Amor e não como possuidor do mesmo. Na leitura desse documento pude sentir o mesmo espirito de abertura que Paulo questionou no Concilio de Jerusalém, que culminou com o respeito aos hábitos pagãos, colocando como única condição à salvação:

a Fé no Verdadeiro e “pascoal” amor cristão.

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