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A man leans emotionally on the shoulder of a seated Pope Francis in white robes and a skullcap, surrounded by other people.

Uma Fé sem muletas: reflexões sobre o legado do Papa Francisco

É difícil defender instituições religiosas hoje. Vivemos em tempos sombrios onde a religião tem sido transformada em arma por vozes ultraconservadoras que silenciam vozes que pareçam abertas demais ou que ousem questionar os detentores do poder.

Ontem mesmo, compartilhei com amigos minhas preocupações a respeito dos grupos políticos e religiosos – incluindo católicos – que impõem seus valores de maneira fundamentalista. O que sempre me atraiu no cristianismo é a verdade do amor, da abertura e da compaixão como um profundo reconhecimento das nossas limitações humanas. Isso é o que faz de Jesus o mensageiro da Vida que supera tudo, até mesmo a própria morte.

Na minha visão, poucos cristãos demonstraram essa dimensão profunda e bela da fé como o Papa Francisco, meu argentino favorito. Ele incorporou os valores da Igreja Católica da maneira mais autêntica: através de seu sorriso acolhedor e bondade compassiva.

Tive o privilégio de vê-lo e aos outros dois papas anteriores de perto, mas nenhum me fez sentir tão conectado, como um irmão na fé, quanto o Chico. Talvez porque ele era latino-americano e compartilhava a crença comum de que o maior chamado da Igreja é viver pelos mais vulneráveis.

Devo admitir, a morte do Papa hoje aprofundou minha preocupação com o futuro da Igreja. Sinto a mesma apreensão que senti quando a fundadora da minha comunidade, o Movimento dos Focolares, faleceu. Desde então, encontrar maneiras de continuar seu legado tem sido desafiador – buscando a viver uma fé sem muletas, tentando encontrar clareza em meio as falhas e limitações humanas.

É um luto doloroso, mas que nos convida a crescer, a abrir mais nossos corações e a fazer silêncio para que possamos realmente ouvir. Francisco era exatamente o Papa que a Igreja precisava em um mundo que evita o diálogo com aqueles que pensam diferente.

Ele foi um “Papa Ponte” que acolheu outros excluídos da comunidade e ajudou as pessoas a enxergarem aqueles que mais sofrem em nosso mundo repleto de injustiças. Espero que seu exemplo guie o próximo líder da Igreja Católica.

Que Deus continue a preencher Sua Igreja com diálogo, diversidade e a bondade amorosa de Cristo.

Obrigado, Chico! Imagino uma celebração maravilhosa no céu hoje com “mate”, futebol e tango! Você me mostrou que amor significa viver pelos outros e estender a mão àqueles que veem as coisas de forma diferente.

Foto que tirei quando o Papa Francisco visitou o Centro Ecumênico em 2018 e eu me juntei à equipe de comunicação do CMI enquanto ainda servia à ACT Alliance.

Brilho nos olhos

Brilho nos olhos

“Posso te fazer uma pergunta pessoal?” Indagou-me uma senhora do Jardim de infância frequentado pela Tainá, nossa primogênita. “Sim, claro”, respondi já surpreso com a ousadia rara de vivenciar aqui na Suíça.

“Você acredita em Deus?”perguntou ela em alemão. “Como?”respondi surpreso. Ela repetiu em espanhol, o que confirmou que eu a havia entendido. “Sim”, respondi tranquilamente. “Eu sabia! Dá para ver no brilho dos seus olhos”, disse ela.

Desde que cheguei na Europa, tento não só preservar, mas também cultivar a fé-encontro, que experimentava cotidianamente no Brasil. Diante da ausência de coisas, comum na minha terra natal, o “ser“ de cada um parece mais acessível. E na beleza dos sonhos, contradições e necessidades do outro é que a vida se revela em toda sua plenitude. O tal “brilho nos olhos”, para mim, é fruto de uma busca constante em dar significado à vida, indo além da minha própria existência. É descobrir o amor em mim, para mim e pelos outros.

Esse Amor que preenche e dá sentido a quem eu sou, nasce do encontro com Jesus (ou “algo maior”) a quem eu procuro fazer espaço para que Ele faça parte do meu dia-a-dia.

É bom demais perceber que, de alguma forma, esse Amor ainda transborda e consegue tocar o coração de pessoas que nem me conhecem. Com o passar do tempo e vivendo em um país em que os bens materiais parecem ocupar o espaço dos relacionamentos, eu achava que esse brilho já tinha se apagado. Que alívio!

Otto luminoso rastro

Rastro infinito.

Ao me tornar pai
descobri um Amor que toca o infinito.
Um sentimento tão genuíno, divino,
que dá sentido aos caminhos tortuosos percorridos anteriormente.
Sempre que um filho é gerado,
uma faísca de Amor transcendente ilumina o nosso céu,
deixando um rastro luminoso, inesquecível.
Aceitamos acompanhar a sua trajetória, como a nossa, passageira.
E juntos, não importa o quanto tempo,
experimentarmos a presença Deus e o significado desse Amor.
Com o Otto foi assim, ele me deu Deus, na oração, no cotidiano oferecer.
Otto, oito, infinito.
Luminoso rastro deixará

Poesia escrita para o pequeno Otto. Filho de um casal amigo, o menino teve uma breve mais marcante passagem terrena, levando Deus e a oração para todos os cantos do mundo.

amem-se

Amem-se

Partiu para o Paraíso um dos pilares mais importantes da minha história. E é impossível não olhar para traz com lágrimas nos olhos, admiração e profunda gratidão pelos momentos que, por intercessão dela, eu pude viver!

O seu amor “direto e reto”, o senso de justiça fruto do seu suor e lágrimas moldaram a imagem que construí dela. Uma mulher forte, concreta e imensamente enraizada na Fé de que Deus é Amor. Até o fim.

Nos últimos anos nossos encontros foram raros, mas simples e profundos. Em sua última mensagem para mim, o Deus que ela tanto amava está vivamente presente, abençoando a minha família, com alegria profunda.

É assim que vamos permanecer sempre unidos ! No imenso amor a Deus. No desejo de sermos agentes ativos de uma nova humanidade. Na certeza de que quando nos amamos, dinificamos o nosso agir e transformamos o mundo. Começando pela nossa família e pela comunidade em que vivemos.

Amem-se.

O jovem e Deus

Deus é Jovem

Quais são as características que nunca devem faltar em um jovem? “Entusiasmo e alegria. E a partir disso se pode começar a falar de outra característica que não deve faltar: o senso de humor. Para poder respirar, é fundamental o senso de humor, que está ligado à capacidade de se alegrar, de se entusiasmar”.

Essa é uma das passagens conclusivas do livro-entrevista « Deus é Jovem », assinado pelo Papa Francisco. No diálogo com Thomas Leoncini, Francisco dirige-se não apenas aos jovens do mundo inteiro, dentro e fora da Igreja, como também a todos os adultos que por esta ou aquela razão são detentores de um papel educativo e de orientação no seio da família, nas paróquias e nas dioceses, na escola, no mundo do emprego, no associativismo e nas mais diversas instituições.

A esperança deve passar necessariamente pela fé em Deus? “Não necessariamente (…) Basta que exista uma pessoa boa para existir esperança (…) Os muros são colocados por terra com o diálogo e o amor. Se você está falando com alguém, fala de cima do muro. Então você falará mais alto, e aquele que está do outro lado do muro vai ouvir melhor e poderá lhe responder. Se você faz o bem, não tenha medo de gritar”.

Difícil não se encantar com as muitas passagens inspiradoras desse diálogo que revelam um pouco mais desse homem tão admirado. A simplicidade do discurso, as escolhas intelectuais, mas acima de tudo a humanização da Fé, faz de Francisco mensageiro de um cristianismo realmente universal. Sem fugir das perguntas, dos exemplos pessoais e de uma análise realista da sociedade em que vivemos, o Papa acredita que esperança no futuro está no encontro entre jovens e velhos. Na relação entre o entusiasmo original e liberdade adquirida pelas experiências vividas.

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