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Um modelo de protesto que gera o confronto violento

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Uma das instituições que considero mais problemáticas no contexto brasileiro é a Policia Militar. Ela sempre me faz pensar, com preocupação, se existe mesmo a necessidade de termos tantas instituições mantenedoras da ordem (polícias militar, civil, federal e exército).

Deixando de lado a minha opinião pessoal sobre o excesso de corporações policiais, a segunda coisa que mais me questiono é o teor da formação de um policial militar. A Polícia Militar, paga por nós brasileiros, ao meu ver, deveria estar preparada para manter a ordem social, protegendo o bem estar dos cidadãos do país, que  não é, porém, um sujeito abstrato; é cada um, negro, branco, índio, rico, pobre; é qualquer pessoa que adquiriu os direitos civis legalmente e que deve ser defendida, jamais agredida.

Contudo, de maneira geral, alguns representantes dessa instituição policial humilham, agridem, reprimem e até executam cidadãos que protestam, buscando exercer seu direito de expressão, de ser um ator político. A violência policial desperta o ódio e desfaz o vínculo entre cidadãos com a Corporação. Dessa forma, a Polícia Militar se torna um grupo independente, quase uma milícia, que age de acordo com as próprias ideologias e esquece de que é, acima de tudo, uma prestadora de serviços aos cidadãos brasileiros.

Enfim… meus questionamentos a respeito da Polícia Militar têm aumentado diante da atual “desordem social” em São Paulo, que faz vítimas inocentes e coloca a Corporação contra os manifestantes.

Hoje, eu pude assistir a entrevista com o jovem Caio Martins, integrante do Movimento Passe Livre (MPL), explicando o andamento dos protestos e  o crescimento de um cenário violento, devido ao modelo de reivindicação adotado. “Depois que começa a repressão a manifestação já é outra, não é mais unida e organizada como antes”, disse o jovem.

Mas, enfim, considerando que a Polícia Militar “é aquela que é”, vamos raciocinar de maneira clara e objetiva:

Os sujeitos envolvidos no conflito são: Os manifestantes – que têm o direito (e, na minha opinião, devem) de se organizar para exigir medidas que sejam favoráveis à população como um todo; e os policiais – que são PAGOS para manter a ordem social, ou seja, AGIR, quando ela esteja ameaçada.

A passeata, inicialmente, organizada pelo MPL e que ganhou proporções difíceis de controlar, é um modelo de protesto que provoca a ação da polícia, que não pode permitir o fechamento das vias públicas, principalmente no horário do rush. Por mais que a luta do Movimento seja legítima e essencialmente positiva, ela descambou para o descontrole, porque, primeiramente, ignorou o fato de que a Polícia Militar é despreparada para lidar com pessoas e, depois, pela falta de coesão e unidade metodológica dos envolvidos na manifestação. Enquanto existem muitos jovens que pregam a PAZ no ato de ocupar as ruas, outros grupos políticos, ideologicamente violentos, usam a massa para impor “na base da força” as medidas exigidas coletivamente.

Existe uma apuração manipulada da mídia destacando só o negativo? Existe. A violência descamba só depois que a polícia repressora ataca? Pode ser. O fato contudo é que o contexto mudou e esse modelo de protesto está levando seus envolvidos à iminência de uma tragédia, que precisa ser compreendida e responsabilizada.

Concordo com o jovem do MPL que a violência, gerada no contexto da passeata, acaba banalizando, ocultando, a violência cotidiana que o cidadão sofre, de maneira silenciosa e que, quase sempre, “abaixa a cabeça”.

O radicalismo juvenil, contudo, precisa ter a consciência de que nenhuma vida perdida vale uma causa. É preciso saber que as situações nos conduzem à caminhos que as vezes produzem consequências trágicas.

Eu, ainda acredito que a passeata não muda a conjuntura do problema. É preciso transformar, antes de tudo, a própria vida, a postura cidadã. A desilusão de muitos trabalhadores diante dos acontecimentos, pode se dar pelo fato de que, muitos desses jovens “revolucionários” que estão lutando (de maneira violenta) pelo direito a um transporte público com valor decente, têm seu Audi, com o qual ele se desloca cotidianamente, parado na garagem.

As transformações precisam de uma consciência coletiva e não só vontade política. Isso a história do passado e do presente nos ensinam. É só olhar para os frutos da aclamada Primavera Árabe.

A violência dos democratas primitivos

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Foi na universidade que as manifestações de caráter sindicalista começaram a me enojar. Eu não era (e ainda não sou) contra a luta pelos direitos privados pelo Estado ou por outras instituições. Isso se o protesto fosse (seja) feito de maneira pacífica.

Uma linha ideológica da “pseudo esquerda” que ainda sobrevive neste país de Terceiro Mundo, no que diz respeito ao pensamento (e a prática) político, defende a violência dialética como única forma de fazer ouvir a própria voz . Esse tipo de comportamento primitivo destrói os avanços democráticos e mostra que a (minha) geração pós ditadura, mesmo tendo crescido em um ambiente “livre”, pena para promover um debate maduro em prol da melhoria do país.

Os representantes dessa “pseudo esquerda” também lutavam por bolsas na universidade onde eu estudava, sem, contudo, frequentar 50% das aulas. Abdicavam do direito que eles tinham de estudar e lutavam, de maneira incoerente, por um direito que, na prática, eles mesmos desprezavam. Isso sem contar o consumo irresponsável de drogas de alguns dos seus “representantes”. Uma incoerência que causava espanto.

Pois bem… ontem São Paulo foi agredida por esses jovens “revolucionários” que acreditam que a transformação só pode ser feita com o choque violento de realidades. Que a síntese, a melhoria da situação social, exige o confronto. Assim, os mártires são parte do processo, porque uma vida singular é pouco, se comparada À CAUSA.

Essa ideia VELHA de revolução precisa acabar, principalmente em um país que sonha ser grande. É fundamental lutar pelos direitos, estar atento aos desmandos do Governo e outras instituições, mas não é a violência incoerente que irá solucionar os problemas de todos.

Sempre fui o primeiro a detestar as ações violentas e repressoras da polícia, sobretudo o Choque, despreparada para lidar com pessoas. Porém, as imagens do vandalismo ontem na Avenida Paulista me impressionaram… Parece que existe um sindicalismo profissional que se articula para manipular “às massas” em prol dos seus interesses.

A juventude paulistana vândala, presente no protesto ontem, envergonhou seus concidadãos.  Destruindo o patrimônio público eles não prejudicaram o Estado, mas o povo, que precisa do metrô, dos ônibus, das ruas, para exercer seu direito de trabalhar, ir e vir…

É interessante, contudo, perceber que a incoerência também gera consequências simbólicas em seus atores. Alguns jovens que protestavam, reclamando não ter 20 centavos à mais para pagar uma viagem de transporte público, por conta dos atos de vandalismos, foram presos. Para se libertarem, tiveram que pagar 3000 reais… o valor que cobriria o aumento do preço de 15.000 viagens.

Quem vai pagar o prejuízo (pessoal e coletivo) dessas manifestações violentas? A revolução?

Não. Todos nós!

Quando o futebol nos cega

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Hoje o país parou para falar do jogador Neymar. Novo Pelé, Neymar’s Day… é assim que a Espanha intitulou seus jornais esportivos.

Contudo, o “triste” em meio à festa que deve, contudo, ser sempre acenado, é a fabricação “artificial” de ídolos – maiores no nome que no futebol – que sustenta o “pão e circo” e  acalma os ânimos em momentos de crise socioeconômica.

Esse fanatismo futebolístico, movido especialmente pela mídia mundial,  coloca Brasil e Espanha, as duas nações que envolvem a transferência do jogador Neymar à Europa, em situações parecidas.

Enquanto a Espanha vive uma crise socioeconômica sem precedentes, as suas duas maiores equipes de futebol do país, Barcelona e Real Madrid, gastam, ano após ano, milhões de euros em transações futebolísticas. Um desprezo ético que a mídia local parece ignorar.

Desta parte do Atlântico, a situação não está nada melhor. Crescimento econômico irrisório, aumento preocupante da violência e, enquanto isso, estamos esperando as Copas, a Olimpíada e festejando a ida do, já milionário, Neymar à Europa. Momentos como esse último sugerem uma verdadeira reflexão ética de um modelo (atual) de futebol que, acima de tudo, desvaloriza os benefícios que o esporte traz para a huma(comu)nidade.

Modelo alemão

A Alemanha, grande vencedora do principal campeonato Europeu,  parece ter um modelo a ser seguido. Privilegiando a formação de novos jogadores e na sua profissionalização, o país, que também tem sofrido com a crise econômica mundial, adota uma austeridade econômica que reflete nos seus clubes de futebol, obrigando-os a provar que têm saúde financeira para competir nas ligas profissionais.

As muitas regras da federação alemã de futebol, além de impedir os times de contrair dívidas, diminuindo os riscos de falência, transforma o esporte em um “produto lucrativo ético”, além de um importante capital para a formação humana dos jovens do país.

70.000 pessoas aguardam Neymar no Camp Nou, estádio do Barcelona. Milhões em todo mundo – principalmente no Brasil – acompanham a transmissão midiática do acontecimento. O “Pão e circo” nos move, nos ajuda a esquecer os problemas cotidianos, as dificuldades da vida, mas ele não deveria JAMAIS “cegar” nossas consciências.

Cúmplices do genocídio africano

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Vou explicar porque acho que somos cúmplices do genocídio africano:

Experimente encontrar na internet, fazendo uma “busca google” mesmo, notícias sobre a Serra Leoa. Você irá perceber que o país da África Ocidental é pouco mencionado pela mídia internacional.

Os motivos e interesses são muitos e, um deles, é possível descobrir assistindo ao fantástico filme estrelado por Leonardo di Caprio, Blood Diamond (Diamante de Sangue, em português).

No país africano, na década de 90, Danny Archer (mercenário sul-africano) e o pescador Solomon Vandy, apesar de terem nascido no mesmo continente, têm histórias completamente diferentes. Eles se encontram por conta da busca de um raro diamante cor-de-rosa, encontrado em Serra Leoa e, a partir de então, as suas vidas nunca mais serão as mesmas.

A base econômica de Serra Leoa ainda é a mineração, especialmente diamantes. A riqueza que satisfaz o luxo de milionários no Norte do planeta, contudo, não se converte em resolução à triste situação socioeconômica do país que, apesar da vasta riqueza natural, tem 70% de sua população vivendo na extrema pobreza.

Eu, particularmente, respeito a indústria cinematográfica que se preocupa somente em entreter, mas acredito que o cinema precisa ter sempre um viés de engajamento, de denúncia, visando o despertar das consciências, principalmente no que diz respeito ao consumo de artigos produzidos por meio da exploração da miséria dos mais “fracos”.

Blood Diamond” faz referencia à Guerra Civil de Serra Leoa, que durou 11 anos, de 1991 à 2002, e contabilizou dezenas de milhares de pessoas mortas e mais de um terço da população de refugiados. O conflito no país africano tornou-se conhecido internacionalmente pelos massacres, amputações de membros, uso massivo de crianças-soldado e, sobretudo, pelo tráfico de diamantes, como método de financiamento das forças rebeldes.

Em outro filme, “O Senhor das Armas”, Yuri Orlov (interpretado por Nicolas Cage) vende armas às milícias durante a Guerra Civil de Serra Leoa. Já no universo literário, o livro do jovem Ismael Beah, “Muito longe de casa: memórias de um menino-soldado”, conta a sua comovente história na Guerra Civil do país.

Diante da tragédia em Serra Leoa, uma consequência positiva foi Processo de Kimberley (Kimberley Process Certification Scheme), criado em 2003 (um ano após o fim do conflito), e que visa certificar a origem de diamantes, a fim de evitar a compra de pedras originárias (e financiadoras) de áreas de conflito.

Quando o mal é justificável

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Uma manhã como todas as outras. Difícil de levantar por conta do frio. Tomar banho, um cafezinho, escovar os dentes, beijo na esposa e já estou pronto para mais um dia de trabalho.

Contudo, hoje, nem tudo ocorreu de maneira pacífica. No caminho para o metrô, um grupo de pessoas olhando atentamente um senhor de idade, correndo atrás de um homem, segurando um pedaço de pau na mão, gritando, por motivos a mim desconhecidos, mas que me causaram evidente estranhamento.

Já no metrô, “ensardinhado”, duas mulheres, uma jovem e uma idosa, deferindo ofensas recíprocas porque uma empurrou, a outra não pediu licença e transformando o silêncio paulistano em um clima hostil. Como é possível que alguém não aceite ser empurrado em um metrô superlotado? É preciso aprender a arte de ser “conduzido pela massa” sem achar que o motivo dos “empurradores” sejam pessoais.

Há uma semana venho acompanhando pela mídia os inúmeros e, aparentemente, frequentes casos de violência banal cotidiana. Não a violência presenciada hoje, na rua, no metrô, mas aquela capaz de tirar vidas, por um celular, pelo incômodo do barulho, por 30 reais…

A barbárie crescente, para mim, não é surpresa. Somos constantemente violentados pelo Estado, pela lógica “Capitalista” da exploração e, assim, é impossível que a violência não se dissemine socialmente. Mas, o que antes era aceitação do “rebanho humano”, hoje é cada vez mais reação coletiva violenta. Socar, esfaquear, assassinar é um mal que se justifica, que exprime a revolta dos explorados. Será?

As justificativas em relação a violência podem ser muitas. Históricas, sociais, psicológicas… até mesmo a união entre duas ou três dessas, mas o que vale, ou parece que vale, em meio a barbárie, é aprender a olhar humanamente quem está ao nosso lado.

Tanto o mal, quanto o bem, tem uma capacidade de difusão surpreendente e, ambos, se plasmam nas nossas atitudes, na nossa cotidiana capacidade de amar, tolerar (que não é acomodar-se) o contexto em que estamos inseridos.

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