Author: Valter Hugo Muniz Page 12 of 241

Valter Hugo Muniz - Formado em Comunicação Social com ênfase em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) em 2009, concluiu em 2012 a “laurea magistrale” em Ciências Políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália. Com experiência em agências de comunicação, multinacionais, editoras e televisão é, atualmente, consultor de comunicação na ONG Arigatou International, em Genebra, Suíça. Com vivência de mais de cinco anos na Europa (Itália e Suíça), participou de trabalhos voluntários em São Paulo e na Indonésia pós Tsunami (2005), além de uma breve estadia na Costa do Marfim (2014). É fundador do escrevoLogoexisto.

O ser é no caminhar

Faz quase cinco anos que deixei o Brasil para me aventurar, com minha família, em outro continente, outra cultura. Nesses anos como estrangeiro, a mais incrível revelação que a vida me presenteou foi o entendimento de que deixar tudo é, primeiramente, aprender a deixar-se. É estar disposto a negociar a própria existência e a bagagem acumulada pelas experiências anteriores para crescer, dilatando o próprio coração.

Quando esse desafio de “perder-se” faz parte de um percurso gradual de abertura e descobertas, parece que sentimos menos o peso daquilo que se deixa. Não é ausência de sofrimento, porém. Mas com serenidade e discernimento a gente aprende a fazer do tempo um valioso companheiro no processo de ressignificação de quem somos em um ambiente novo.

Alguns dias atrás, conversando com uma amiga sobre a dificuldade dos jovens (europeus) de tomar decisões em um contexto repleto de alternativas, percebi que a ânsia pelas respostas acaba concentrada nas faculdades intelectuais. Durante aquele bate-papo, revisitei espontaneamente a minha história e me dei conta de muito pouco daquilo que forjou minha identidade até aqui foi fundado em sínteses intelectuais. Foram as experiências, os encontros e as relações que me fizeram descobrir o propósito da minha vida, que se traduz naquilo que eu sou. 

“Nossa cultura ocidental se configurou de modo em que muita gente se interessa e se preocupa mais com o ser do que o acontecer”. Essa frase do teólogo espanhol José M Castillo me fez pensar justamente na metodologia que me foi apresentada pela Fé cristã e que me impulsionou a sair de mim e ir ao encontro do outro. Dessa forma, edifiquei minha juventude no partilhar, no encontrar diferentes pessoas, de diversas culturas e com distintos ideais. E no acontecer desses encontros, fui forjando quem eu sou, amadurecendo valores fundamentais. 

Por meio das relações, encontrei a direção, o calçado apropriado para percorrer os longos caminhos, cheios de desafios, decisões, frustrações, alegrias, surpresas que dão sentido à minha vida. 

Back to humanity

Violations of human rights, ultra-conservative parties rising into power, inequality and the extreme individualism that triggers the loss of common references: Many people might agree that this is a pretty realistic view of what is happening in the world right now. I must admit that often when I am reading the news, I feel hopeless about humanity.

When people ask me what I do, I am proud to answer that I use my skills to promote Humanity. It could be enough to just live a decent and honest life, find my happiness, but I always feel that I should do more.

Some weeks ago, I started to reflect and review my convictions. Are my actions coherent with my beliefs? Am I doing things just for habit or because they fit my routine? If Love is the power that drives me, why am I accepting to live a meaningless life to remain comfortable? Answering these questions made me understand that it was time for me to change.

When you understand that altruistic love feeds happiness, it is hard to be satisfied. It seems impossible to believe that achieving socioeconomic self-sufficiency is the end of the game. Life cannot finish with people looking in the mirror.

Embracing humanity seems the only way to overcome the emptiness of individualism. Empathy helps to keep us united. It makes us family, despite personal stories and beliefs. We need to elevate Creation to an unnegotiable status that encourages us to look more at each other and to make impactful decisions, especially in favour of those in vulnerable conditions.

O jovem e Deus

Deus é Jovem

Quais são as características que nunca devem faltar em um jovem? “Entusiasmo e alegria. E a partir disso se pode começar a falar de outra característica que não deve faltar: o senso de humor. Para poder respirar, é fundamental o senso de humor, que está ligado à capacidade de se alegrar, de se entusiasmar”.

Essa é uma das passagens conclusivas do livro-entrevista « Deus é Jovem », assinado pelo Papa Francisco. No diálogo com Thomas Leoncini, Francisco dirige-se não apenas aos jovens do mundo inteiro, dentro e fora da Igreja, como também a todos os adultos que por esta ou aquela razão são detentores de um papel educativo e de orientação no seio da família, nas paróquias e nas dioceses, na escola, no mundo do emprego, no associativismo e nas mais diversas instituições.

A esperança deve passar necessariamente pela fé em Deus? “Não necessariamente (…) Basta que exista uma pessoa boa para existir esperança (…) Os muros são colocados por terra com o diálogo e o amor. Se você está falando com alguém, fala de cima do muro. Então você falará mais alto, e aquele que está do outro lado do muro vai ouvir melhor e poderá lhe responder. Se você faz o bem, não tenha medo de gritar”.

Difícil não se encantar com as muitas passagens inspiradoras desse diálogo que revelam um pouco mais desse homem tão admirado. A simplicidade do discurso, as escolhas intelectuais, mas acima de tudo a humanização da Fé, faz de Francisco mensageiro de um cristianismo realmente universal. Sem fugir das perguntas, dos exemplos pessoais e de uma análise realista da sociedade em que vivemos, o Papa acredita que esperança no futuro está no encontro entre jovens e velhos. Na relação entre o entusiasmo original e liberdade adquirida pelas experiências vividas.

saudades

Saudades do abraço

Saudades do abraço

constantes percalços

do ritmo no caminhar

e o gostar de dançar

 

Saudades do abraço

da falta de espaço

do arroz com feijão

e risoto de camarão

 

Saudades da Fé, da esperança

do brincar com crianças

 

Do pouco que é muito

e o furtar dos minutos.

When I experienced pain and brotherhood

I have been thinking whether now is the right time to challenge myself and start to share my experiences in English. For over ten years I’ve been writing in Portuguese and Italian to the escrevoLogoexisto.com (I write, therefore I am) audience and now I feel comfortable to amplify the range of potential readers.

Firstly, I must say that writing has been a way to not keep my existence with me. It is a tool to share and not to promote myself. It is also a sort of auto-therapy. Every time I look back I realise how different I was and how much I’ve learnt through the experiences I lived. So, let’s do it.

—–

Being in contact with different cultures is one of my passions. It is not a coincidence that my wife is not Brazilian and I had lived, for long or short periods of time, in countries on four different continents. As a result of these experiences, I met a wide range of people that made me realise how incredible the world is.

My life changing experience happened in 2005, in Indonesia. I stayed in Sumatra island for 29 days with a group of youth visiting projects in response to the tragic Tsunami that hit South East Asia six months before I was there.

Every time I share this experience a striking moment comes into my mind. We have just arrived in Aceh, the closest city of the earthquake’s epicentre, and an old man came to us saying that he would like to share his story. “I had to leave Aceh for one week to buy some stuff for my family. When I went back, my town was hit by the Tsunami. I run to see whether my family was safe, but no one was there anymore. All my close family, my extended family, my neighbours, my boss, my work colleagues, everyone was gone. I lost everything. In my neighbourhood with a few hundreds of inhabitants, only 30 people survived”.

I have been spared from close contact with real pain until that moment. However, listening to peoples stories made me understand the real value of empathy. I didn’t have to find solutions when there was nothing to change. I only needed to be there, silent, and (sometimes) cry together.

My presence in Indonesia, so far away from my homeland, triggered many smiles from those who were suffering. “Are you Brazilian? Why are you here?”. I just wanted to be there with them. It was the first opportunity I had to feel that, despite borders, walls, distances, we can be brothers and sisters.

Page 12 of 241

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén