Month: April 2014 Page 1 of 2

Pequenas gentilezas podem transformar – Karina Gonçalves

amor e gentileza

“Com os olhos toldados e incrédulos, não vemos, com muita frequência, que cada um e todos foram criados como um dom para nós e nós como um dom para os outros. Mas assim é. E um misterioso vínculo de amor liga homens e coisas, conduz a história (…)”. Chiara Lubich

Voltando do trabalho, dia cansativo, ônibus lotado, pessoas que se esbarram umas nas outras pela falta de espaço, uma hora e meia em pé… Em minha frente observo um homem ficando vermelho e em seguida arroxeando-se, percebo que não está passando bem. Sem pensar ofereço-lhe a minha garrafinha de água. E fico ali ao seu lado, sem dizer nada. Quando voltou a sentir-se melhor agradeceu-me muito e disse ‘você salvou minha vida’. Palavras fortes para um gesto tão simples. Depois daquele dia sempre que ele me encontra no ônibus me cumprimenta, ainda com um sorriso de gratidão.

Saindo de uma Igreja no centro da cidade de São Paulo, fim de tarde, vontade de chegar logo em casa. Na porta encontro uma mulher chorando. Observo e passo rapidamente por ela. Após alguns passos, algo me impulsiona a voltar. Aproximo-me dela, a olho, pergunto como está, se posso ajudar de algum modo. Entre lágrimas me conta sua dor daquele momento: havia sido demitida. Pergunto se posso dar-lhe um abraço e digo que a recordaria em minhas orações. Suas lágrimas cessam um pouco, me olha e um sorriso tímido lhe ilumina a face e diz: “estava aqui desacreditada do mundo e das pessoas, mas encontrar pessoas como você me faz ainda ter esperança”. Nunca mais nos encontramos, mas algo naquele momento nos uniu. Por semanas lembrei-me de rezar por ela.

Em uma noite chuvosa, saí de casa já atrasada para um compromisso. No caminho avisto uma senhora caminhando sob a chuva com uma criança. Dentro de mim, penso: “poxa, coitadas! Queria fazer algo, mas estou atrasada”. E logo em seguida: “mas o que importa?” Faço o retorno com o carro e ofereço a elas carona. Sem pensar entram em meu carro e rapidamente chegamos até a casa delas. Antes de descerem pergunto o nome da criança, Tamires. Ao me agradecer a senhora exclama: “Você foi um anjo que nos apareceu!”

Pequenas gentilizas com um grande significadoFlorGentil1

Alguém poderia questionar, mas a que servem essas gentilezas? São suficientes para realizar uma transformação social? Com certeza seria necessário muito mais! Talvez eu precisaria conhecer aquele homem no ônibus, encontrar um trabalho para aquela jovem, visitar Tamires e sua avó…

No entanto, os simples gestos do dia a dia, que poderiam ser relatados por tantas pessoas, parecem-me revelar a incrível possibilidade de comunicar-se com outros seres humanos, aparentemente distantes que, de maneira improvisa, tornam-se próximos, e provocam em nós um movimento de saída da esfera do egoísmo e das próprias necessidades, para estar atento àqueles que nos circundam.

Caminhando juntos rumo a verdadeira transformação

20111113114608508303aA alegria pessoal experimentada realizando pequenas gentilezas é enorme, preenche o dia de um sentido, difícil de ser vivenciado de outro modo, senão àquele da doação de nós mesmos. Ser presença gentil e solidária, paciente e respeitosa, sinal do amor que pode transformar nosso cotidiano. Entretanto, a mudança só pode ser realizada por pessoas em ação. Muitos homens e mulheres que, sendo capazes de irem além de si mesmos, encontram o espaço onde se sentem unidos. É justamente nele que uma verdadeira transformação pode ser desencadeada!

Não é bonito pensar que também, na correria do dia a dia, ao caminharmos pelas ruas das nossas cidades, podemos construir momentos de fraternidade?

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 Acessibilidade e inclusão social: preocupação real ou moda? | Karina GonçalvesKarina Gonçalves da Silva Sobral – Formada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) em 2007, motivada por questões existenciais e busca de respostas em como lidar com o sofrimento do outro, dos tantos outros que já tinha encontrado nas recentes mas, intensas, práticas como terapeuta ocupacional, concluiu em 2011 a “laurea magistrale” em ciências políticas no Instituto Universitário Sophia, na Itália.  Possui experiências, principalmente, no Serviço Público, na área de saúde mental,  e, atualmente, é terapeuta ocupacional com atuação na educação especial.

Os caminhos de Mandela: testemunho de liderança, de perdão e de amor

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Olhar os tempos atuais e perceber um vazio de lideranças políticas não exige MBAs ou outros estudos de pós graduação. Em um “ocidente” feito, sobretudo, de interesses individuais, não me espanta a ausência de “alguém” capaz de fazer sínteses politicas coletivas eficazes.

Testemunho de liderança

Enquanto a maioria dos políticos se aproxima de seu “povo” ancorados em instrumentos tecnológicos e com a publicidade, um homem fez da sua vida um “testemunho de liderança”: Nelson Mandela.

No final de 2013 escrevi um post falando das virtudes e do significado de Mandela para a história da África do Sul, do continente africano e do mundo inteiro. Mandela não foi um homem comum, um simples revolucionário que se sacrificou pelo seu povo e se tornou uma espécie de herói para seus conterrâneos. Não! Mandela foi um transformador, um pacificador, um negociador, um verdadeiro político.

Os caminhos de Mandela

Photo 29-04-14 00 00 54Depois da morte de Nelson Mandela e da minha (breve) passagem pelo continente africano, decidi que era a hora de me aprofundar um pouco mais sobre este personagem tão intrigante. Foi assim que me encontrei com o livro de Richard Stengel “Os caminhos de Mandela – Lições de vida, amor e coragem”.

Stengel é um jornalista e escritor estadunidense da revista Time que teve o privilégio de passar dois anos auxiliando Mandela a escrever sua autobiografia “Longo caminho para a liberdade”. Enquanto isso, decidiu escrever sobre o relacionamento pessoal construído com o líder sul-africano, desvendando o homem – político. Em setembro de 2013, muitos anos após a conclusão do seu livro, Stengel foi nomeado pelo Presidente Obama, Sub-Secretário do Departamento de Estado do governo, para a Diplomacia e Assuntos Públicos.

O desejo de conhecer mais

Terminei o livro de Stengel querendo mais. Desejando conhecer com maior profundidade Nelson Mandela e entender de onde vinham suas motivações.

É noto que Mandela não é um homem religioso, no sentido confessional. Ele, de maneira puramente humana, desejava a paz, a igualdade de direitos, a dignidade de seu povo, mas sem odiar seus opressores. Com a razão e seus sentimentos mais genuínos ele parece ter descoberto novo modo de fazer política e de superar o mal, que muitos creem inerentes ao ser humano.

 O que percebi em todos os africanos que encontrei e perguntei sobre Mandela é um profundo respeito e admiração. Mandela se foi, mas ficou o modelo de homem, capaz de gerar uma espécie de síntese da razão ocidental, com o coração comunitário que permeia a cultura africana.

Racismo, medo e a reação inesperada de Daniel Alves

Já aceitei que vivo em uma sociedade racista. Como diz o Houaiss, racismo nada mais é que o “conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias”. Outro significado é “doutrina ou sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerada pura e superior) de dominar outras”. Ou então “preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a uma raça ou etnia diferente, geralmente considerada inferior”.

Teorias e crenças. Doutrina ou sistema político. Preconceito com o diferente. As explicações são variadas, mas acredito que faltou um elemento essencial na definição do racismo: O MEDO.

Racismo e o medo do outro

campanha_somostodosmacacos_racismo_danielalves_rep_690O racismo é fruto do pré-conceito em relação ao outro. Com ele, emerge a necessidade de teorizar crenças, com o objetivo de justificá-las de maneira racional (por isso as teorias, doutrinas e sistemas políticos) e assim adquirir a credibilidade que tenha status de “verdade”.

Contudo, o racismo não é fruto da razão. Permanece sempre crença. Crença de que o outro é diferente e por isso inferior, crença que o outro age diferente, por isso é inferior. Que o outro pensa diferente e por isso é inferior.

Porém, o que na verdade o contato com o outro, essencialmente diferente, causa em nós é o medo de que percebamos as nossas fraquezas, que somos nós, em muitas ocasiões, os “inferiores”. E, para não deixar que isso seja comprovado teoricamente, sabotamos qualquer pensamento que denuncie nossos limites. Atacamos para não sermos atacados! Tudo por medo.

Lição que vem da cultura africana

Na minha recente e breve passagem pelo continente africano, fiquei impressionado com a estrutura física e a capacidade de sobrevivência dos meus irmãos marfinenses, camaroneses, congoleses e etc. Os filhos do “Berço da Humanidade” não têm os instrumentos tecnológicos que nós temos para facilitar a vida e, mesmo assim prosperam, geração após geração, tornando-se indivíduos mais fortes e capazes de sobreviver às adversidades do contexto em que provêm.

Os africanos mostram o quanto somos frágeis. O quanto apoiamos-nos, como sociedade “ocidental”, em conceitos de cultura e desenvolvimento questionáveis, pois eles não nos tornam pessoas mais racionais ou física e psicologicamente estáveis. Vivendo em harmonia com a natureza, a sociedade africana (principalmente rural/tradicional) dá uma lição ao mundo do como viver bem (não necessariamente FELIZ) com pouco.

Racismo cultural e o show de Daniel Alves

O caso do racismo no futebol é um espelho do racismo cultural que borbulha no “Ocidente”, de maneira especial no Velho Continente. Por aqui, defender as diferenças é garantir a própria identidade, sem deixar que as raízes culturais morram no contato com o outro, essencialmente diferente.

No Brasil, parece que o racismo é fruto de uma ignorância estúpida, de uma cultura que se aceita “colônia cultural”, reproduzindo ideias de outros contextos e que não consegue aceitar-se, essencialmente, uma “raça de raças”. No Brasil ninguém é puramente índio, africano ou europeu.

Na Europa é diferente. O racismo é a maneira encontrada para se defender do outro: do vizinho do outro lado da fronteira e, principalmente, dos que vêm de longe. Mas a causa é sempre a mesma: medo. E as justificativas eu já acenei nos parágrafos acima. O que faltava, porém, era uma reação nova, marcante. E foi isso o que Daniel Alves, jogador brasileiro do Barcelona fez.

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Um gesto simples, mas cheio de significado. Ao ser atingido por uma banana, clara alusão (porque feita repetidas vezes aqui na Europa) a um macaco (o que, simbolicamente, o faz ser inferior) Daniel Alves simplesmente descascou e comeu a banana, desqualificando o gesto racista.

O estúpido torcedor que atirou a banana para Daniel recebeu uma lição digna de aplauso. O jogador brasileiro mostrou que é possível transformar uma agressão em algo Maior, mostrando que a fraqueza, a inferioridade, como podemos constatar, está no ator do gesto racista.

Beijo

 Beijo

Esperei-te tanto para dar-Te este beijo.

Dia após dia pensando em Ti,

procurando entender em mim

os ecos interiores do Teu grito.

Passam-se os anos e ainda estou a amar-Te loucamente.

A beijar-Te entre lágrimas.

Um amor, porém, renovado, partilhado no amar o Outro.

E hoje, beijando-Te renovo esse “absolut’amor” por Ti.

Mortificado pelas minhas crucificações ,

a inesperada dor.

Com meu beijo quero dizer que Te amo.

Consciente que as lágrimas de hoje,

Serão, inevitavelmente, sorrisos pascais.

 

Sobre o beijo na cruz

BeijoPara os cristãos, a Sexta-feira Santa é o dia do beijo na cruz. Não é um beijo de adoração masoquista pela dor de um homem. Para mim, o beijo na cruz é, antes de tudo, o compadecimento pelo sacrifício do Filho de Deus, que deu a sua vida para que encontrássemos um significado eterno para a Felicidade.

Contrariamente ao que a maioria pensa, a morte de Jesus não estava predestinada. Ela é, na verdade, um “improviso artístico do Criador” que, na sua mais importante lição, nos fez entender que o mal, a dor, até mesmo a Morte, nunca poderão superar a potência transformadora do Amor.

O beijo é dado entre lágrimas, pela tristeza da nossa humanidade pecadora, mas coberto de uma esperança, fruto do Amor divino, que não olha nossas falhas, mas perdoa e nos dá SEMPRE a possibilidade de recomeçar.

Santo e homem. João Paulo II nos relatos de um homem comum

Na nossa vida, inúmeras pessoas passam, mas só algumas, mesmo sem um contato constante, permanecem presentes. Entre essas, pode acontecer também de alguma nem estar mais “neste mundo”, mas continuar viva dentro de nós, promovendo um sentimento interior difícil de explicar por meio da razão instrumental. Pois bem, na minha vida, e na vida da minha família, o falecido (e futuro santo) Karol Wojtyła é uma dessas presenças formidáveis que sempre nos acompanhou em momentos chaves.

Foi graças à visita do então Papa João Paulo II que eu pude conhecer aquela que se tornaria minha futura esposa. Foi também no seu funeral, em 2005, em Roma, que nos reencontramos depois de muito tempo distanciados e decidimos, juntos, reatar a amizade, que após muitos anos nos levou ao casamento.

Santos ou ídolos?

Santo e HomemPara quem não é católico será sempre complicado entender o significado da palavra “santo”. Na “mística popular” ela é constantemente relacionada a uma perfeição idealista ou, de maneira simplificada, alguém que está sempre seguindo com extrema retidão suas obrigações morais/religiosas.

Porém, a santidade cristã pouco tem a ver com uma perfeição romântica. Os santos são pecadores comuns que, durante a vida, praticaram inúmeros erros e acertos, como qualquer outra pessoa, mas que, aceitando a própria humanidade falha, foram além, transformando-se em um testemunho marcante, considerado exemplo para os outros cristãos.

Santo e homem

Justamente devido a minha admiração pessoal e pela presença de Wojtyła na história da minha família decidi, como primeiro livro de 2014, debruçar-me em “Santo e Homem”, livro que conta o relacionamento do Papa João Paulo II, com Lino Zani, um homem comum, instrutor de esqui nas montanhas do norte da Itália.

Santo e HomemA beleza do livro, para mim, não está nos relatos “místicos” das suas últimas páginas, que tentam justificar/relacionar os segredos de Fátima, com a vida do papa polaco. Na verdade, o que mais me tocou foram os relatos da simplicidade e da humanidade de Wojtyła. Apaixonado pelas montanhas, segundo os relatos de Zani, ele parecia encontrar especialmente nelas o Transcendente que exprime a grandeza do seu Deus.

Um ser humano excepcional que vale a pena ser conhecido, independentemente da sua profissão de Fé. E “Santo e Homem” é uma boa leitura para descobrir um pouco do homem por trás do famoso Papa.

(Caso alguém tenha o desejo de adquirir o livro, vi que ele está disponível no site da editora Algol)

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