Month: June 2013

A violência dos democratas primitivos

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Foi na universidade que as manifestações de caráter sindicalista começaram a me enojar. Eu não era (e ainda não sou) contra a luta pelos direitos privados pelo Estado ou por outras instituições. Isso se o protesto fosse (seja) feito de maneira pacífica.

Uma linha ideológica da “pseudo esquerda” que ainda sobrevive neste país de Terceiro Mundo, no que diz respeito ao pensamento (e a prática) político, defende a violência dialética como única forma de fazer ouvir a própria voz . Esse tipo de comportamento primitivo destrói os avanços democráticos e mostra que a (minha) geração pós ditadura, mesmo tendo crescido em um ambiente “livre”, pena para promover um debate maduro em prol da melhoria do país.

Os representantes dessa “pseudo esquerda” também lutavam por bolsas na universidade onde eu estudava, sem, contudo, frequentar 50% das aulas. Abdicavam do direito que eles tinham de estudar e lutavam, de maneira incoerente, por um direito que, na prática, eles mesmos desprezavam. Isso sem contar o consumo irresponsável de drogas de alguns dos seus “representantes”. Uma incoerência que causava espanto.

Pois bem… ontem São Paulo foi agredida por esses jovens “revolucionários” que acreditam que a transformação só pode ser feita com o choque violento de realidades. Que a síntese, a melhoria da situação social, exige o confronto. Assim, os mártires são parte do processo, porque uma vida singular é pouco, se comparada À CAUSA.

Essa ideia VELHA de revolução precisa acabar, principalmente em um país que sonha ser grande. É fundamental lutar pelos direitos, estar atento aos desmandos do Governo e outras instituições, mas não é a violência incoerente que irá solucionar os problemas de todos.

Sempre fui o primeiro a detestar as ações violentas e repressoras da polícia, sobretudo o Choque, despreparada para lidar com pessoas. Porém, as imagens do vandalismo ontem na Avenida Paulista me impressionaram… Parece que existe um sindicalismo profissional que se articula para manipular “às massas” em prol dos seus interesses.

A juventude paulistana vândala, presente no protesto ontem, envergonhou seus concidadãos.  Destruindo o patrimônio público eles não prejudicaram o Estado, mas o povo, que precisa do metrô, dos ônibus, das ruas, para exercer seu direito de trabalhar, ir e vir…

É interessante, contudo, perceber que a incoerência também gera consequências simbólicas em seus atores. Alguns jovens que protestavam, reclamando não ter 20 centavos à mais para pagar uma viagem de transporte público, por conta dos atos de vandalismos, foram presos. Para se libertarem, tiveram que pagar 3000 reais… o valor que cobriria o aumento do preço de 15.000 viagens.

Quem vai pagar o prejuízo (pessoal e coletivo) dessas manifestações violentas? A revolução?

Não. Todos nós!

O bem em temer as diferenças

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Muitas pessoas acreditam que o Amor é capaz de equilibrar as diferenças. Por ter vivido (e viver em família) experiências significativas a esse respeito, posso afirmar, com certeza, que é uma crença verdadeira.

Contudo, por mais potente que possa ser, o Amor não anula as diferenças, não as supera. Em uma relação verdadeira, transparente, com qualquer “outro”, continuamos sempre os mesmos, com traumas, caráteres, experiências e, principalmente: somos frutos da nossa cultura natal.

Na verdade, o Amor nos ajuda a superar nós mesmos… nossos limites pessoais, esquemas psicológicos que, tantas vezes, nos bloqueiam, nos afastam do “outro”, profundamente diferente.

Descobrir isso, o quanto antes, em uma relação é talvez o aspecto mais importante, principalmente quando ela é transcontinental. As diferenças, nesse caso, são abissais, pois a distância geográfica (que pode ser aplicada também entre as regiões do Brasil) produzem dinâmicas culturais muito variadas, contrastantes, que, na vida cotidiana, podem naturalmente gerar problemas.

Assim, é recomendado TEMER AS DIFERENÇAS. Um temor positivo, um respeito delicado, pois elas aparecem aos poucos, criam impasses que nem sempre são superáveis imediatamente, por isso é fundamental ter paciência.

Esse temor também nos ajuda a ser realistas. Caso o “outro” não esteja disposto a mergulhar na difícil e aventurosa jornada da “inculturação” isso, com certeza, é um mau sinal. Claro que, por outro lado, nem sempre estamos prontos no momento em que somos exigidos. Às vezes fracassamos por falta de força, preparação ou coragem. Contudo as oportunidades de viver essa experiência reaparecem,  principalmente se o relacionamento persevera

O silêncio e a palavra: uma relação com potencial de iluminar a sociedade

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Uma das lições mais ricas que aprendi nos meus estudos teológicos é que a Verdade se revela (Alétheia) de maneira ternária: no silêncio interior (kenosis), nas manifestações exteriores (fenômenos naturais ou sociais) e na relação com Outro. Essa descoberta fundamental  me ajudou a entender melhor o meu papel como jornalista profissional e comunicólogo pois, no universo da comunicação de massa, a relatividade da Verdade é defendida como pilar pragmático.

É a partir dessa leitura pessoal que me debrucei na obra do “massmidiólogo” italiano, diretor da editora Città Nuova e professor do Instituto Universitário Sophia, Michele Zanzucchi. “Il silenzio e la parola. La luce. Ascolto, comunicazione e mass media” é um ensaio sobre essa relação ternária como lógica da comunicação.

A obra de Zanzucchi apresenta o silêncio e a palavra como “sujeitos” do ato comunicativo. Sem um verdadeiro silêncio “kenótico” e uma palavra que se relaciona com ele, a comunicação não é capaz de gerar/transmitir/revelar a Luz que nasce (ou pode nascer) dessa relação.  Na linguagem “comunicativa”, escutar e comunicar são dois pilares que constroem a identidade da communicatio.

Algumas críticas do autor ao fazer comunicativo (de massas), na minha opinião, não procedem. Muitas vezes ele também se mantém na análise demasiada dos “meios”. O grande buraco teórico está nos capítulos conclusivos da obra, que sofrem para sustentar, com argumentos sólidos, a teoria principal. Mesmo assim, o livro tem leituras transdisciplinares essenciais para entender profundamente a comunicação de massas na lógica ternária.

Muitas das intuições de Michelle eu não tenho agora presente, algumas delas geniais, mas irei explorá-las depois de concluir a primeira parte do estudo aplicado de Dominique Wolton, a partir da análise da obra “É preciso salvar a comunicação”.

Contudo, este é um livro que vale a pena ler e meditar.

Quando o futebol nos cega

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Hoje o país parou para falar do jogador Neymar. Novo Pelé, Neymar’s Day… é assim que a Espanha intitulou seus jornais esportivos.

Contudo, o “triste” em meio à festa que deve, contudo, ser sempre acenado, é a fabricação “artificial” de ídolos – maiores no nome que no futebol – que sustenta o “pão e circo” e  acalma os ânimos em momentos de crise socioeconômica.

Esse fanatismo futebolístico, movido especialmente pela mídia mundial,  coloca Brasil e Espanha, as duas nações que envolvem a transferência do jogador Neymar à Europa, em situações parecidas.

Enquanto a Espanha vive uma crise socioeconômica sem precedentes, as suas duas maiores equipes de futebol do país, Barcelona e Real Madrid, gastam, ano após ano, milhões de euros em transações futebolísticas. Um desprezo ético que a mídia local parece ignorar.

Desta parte do Atlântico, a situação não está nada melhor. Crescimento econômico irrisório, aumento preocupante da violência e, enquanto isso, estamos esperando as Copas, a Olimpíada e festejando a ida do, já milionário, Neymar à Europa. Momentos como esse último sugerem uma verdadeira reflexão ética de um modelo (atual) de futebol que, acima de tudo, desvaloriza os benefícios que o esporte traz para a huma(comu)nidade.

Modelo alemão

A Alemanha, grande vencedora do principal campeonato Europeu,  parece ter um modelo a ser seguido. Privilegiando a formação de novos jogadores e na sua profissionalização, o país, que também tem sofrido com a crise econômica mundial, adota uma austeridade econômica que reflete nos seus clubes de futebol, obrigando-os a provar que têm saúde financeira para competir nas ligas profissionais.

As muitas regras da federação alemã de futebol, além de impedir os times de contrair dívidas, diminuindo os riscos de falência, transforma o esporte em um “produto lucrativo ético”, além de um importante capital para a formação humana dos jovens do país.

70.000 pessoas aguardam Neymar no Camp Nou, estádio do Barcelona. Milhões em todo mundo – principalmente no Brasil – acompanham a transmissão midiática do acontecimento. O “Pão e circo” nos move, nos ajuda a esquecer os problemas cotidianos, as dificuldades da vida, mas ele não deveria JAMAIS “cegar” nossas consciências.

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