Tag: futebol Page 2 of 3

Copa fora do Brasil: Patriotismo sufocado e seleção decepcionante

Patriotismo

AFP PHOTO / YURI CORTEZ

A pior coisa de vivenciar uma Copa fora do Brasil é ter de se contentar em, talvez, assistir os jogos da seleção sozinho, sem poder exprimir plenamente o próprio patriotismo esportivo. Como chegamos há pouco tempo em Genebra e aqui os jogos do Brasil são as 21h , muita gente prefere assistir às partidas em casa, para não perder valiosas horas de sono, fato que prejudicaria o trabalho no dia seguinte.

Contudo, uma coisa positiva é que, aqui no nosso bairro, aos poucos outras bandeiras começam a despontar nas janelas dos apartamentos, talvez estimuladas pela nossa decisão de torcermos “à brasileira”. O problema é que as duas maiores comunidades estrangeiras na cidade, os portugueses e os espanhóis, tiveram suas seleções massacradas em seus jogos, o que torna o patriotismo esportivo ainda mais difícil.

Passada quase uma semana de Copa, o tom das críticas em relação ao evento esportivo no Brasil diminui bastante por aqui. Na TV não se fala mais dos protestos e as pessoas comuns parecem ter começado a comentar os jogos. Enfim, a Copa do Mundo finalmente se tornou algo do cotidiano.

Patriotismo sufocado

patriotismoUma conversa com um amigo, também estrangeiro, que vive aqui em Genebra,  me fez refletir sobre as causas de não ver, nesta Copa em especial, tantas manifestações de patriotismo, como as bandeiras enfeitando casas e apartamentos de Genebra. Um fato considerável, mencionado por ele, é que aqui na Suíça, no último ano, foram votadas algumas medidas duras contra os estrangeiros, criando um certo impasse com a comunidade internacional e deixando os “não suíços” que vivem aqui em Genebra (que são um percentual muito alto) em uma situação desconfortável.

Eu acredito que isso possa sim “sufocar” o patriotismo – o orgulho de mostrar as próprias raízes, no caso aqui, estrangeiras. (Não que eu ache que patriotismo se resuma a pendurar uma bandeira na janela de casa, claro). Minha esposa, que é Suíça, diz que não.

Para resolver essa dúvida, talvez eu tenha que perguntar a outros estrangeiros, que vivem aqui há mais tempo, se essa “intuição” é, em parte, um pouco verdadeira. Eu, por exemplo, procuro naturalmente evitar “mostrar” que sou brasileiro (mesmo que fenotipicamente seja evidente). Não por vergonha, ou medo, mas porque, como estrangeiro, somos sempre vistos – em qualquer lugar – como “semi-cidadãos”.

Minha análise do jogo

Comecei a assistir ao jogo do Brasil sozinho, o que, devo dizer, não é uma das coisas mais divertidas. Como disse anteriormente, a Copa é uma oportunidade de encontrar amigos, se divertir e não se resume as partidas de futebol.

Dentro do campo, a seleção jogou mal. Não foi péssima, mas frustrou as (sempre enormes) expectativas. Fred, Paulinho e Daniel Alves deveriam esquentar o banco, porque parecem não terem chegado à Copa. Contudo, o destaque vai para o goleiro Ochoa que, literalmente, salvou a seleção mexicana.

Historicamente a seleção do México sempre foi uma pedra no sapato do Brasil. Sempre incomodou. Então, nada de surpresa! O que surpreendeu foi a apatia de alguns jogadores, provavelmente esquecidos de que, para ganhar a Copa, é preciso jogar (e de preferência bem).

Os dois jogos, muito fracos, da seleção na Copa tiram dela, absolutamente, o tal favoritismo. Alemanha e Holanda despontaram como os grandes protagonistas. Costa Rica e Suíça, as surpresas. Mas, como diz o poeta: futebol é estranho. E nem sempre quem joga melhor, tem o melhor time, levanta o caneco no final. Existem situações e interesses que vão além dos gramados.

[CLIQUE AQUI para mais Copa fora do Brasil]

Copa fora do Brasil: A emoção de torcer pela Suíça

torcer pela Suíça

©Pierre Albouy

Quando a gente casa, leva junto com a esposa: sua família, suas qualidades, defeitos e, no meu caso, também a nação. E ontem, pela primeira vez na Copa, minha segunda nação – a Suíça –  jogou. Quanta emoção!

A Suíça, os suíços e o futebol

Desde que cheguei à Suíça fui acolhido pelo Estado e pelo povo da melhor forma possível. Mesmo, geralmente, bastante fechados, os suíços são maravilhosos. Respeitam uns aos outros e, de maneira discreta, se alegram com aquilo que têm de bom.

Neste período aqui na Confederação[i], com todas as dificuldades e sofrimentos que uma readaptação causa, tenho continuamente me apaixonado por esse país, descobrindo suas qualidades e aceitando seus defeitos.

torcer pela Suíça

©Pierre Albouy

Um país de 8 milhões de habitantes que, na sua grande diversidade, consegue manter-se unido e preservar suas riquezas com auxílio da política. Uma unidade sólida, que não é baseada em discursos ideológicos ou justificativas sentimentais.

Aqui, as crianças também adoram o futebol. A grande diferença, contudo, é ausência de uma referência, de um jogador específico que carregue a “Nati”, como chamam os suíços, como um embaixador futebolístico do país em todo o mundo.

Não! Aqui as crianças conhecem, sobretudo, o Neymar, Cristiano Ronaldo, Messi e torcem timidamente pela própria seleção.

Respeito, trabalho e resultados expressivos

Orgulhosos e contentes em serem uma prazerosa surpresa entre as tradicionais seleções de futebol, os suíços não são eufóricos, não esperam demais de sua seleção e nem pressionam seus jogadores. Tudo é feito com equilíbrio e também com uma verdadeira autocrítica.

Esse comportamento comedido, discreto, respeitoso, parece ter ajudado a levar a Suíça, em termos futebolísticos, aonde ela está hoje: a sexta seleção entre aquelas que mais se destacam na atualidade, com uma produtividade que a tornou cabeça de chave desse mundial.

Mesmo sem tanta tradição no futebol, a Suíça merece estar lá. Não tem um time mágico, nem uma grande estrela, mas com trabalho, respeito e união na diversidade (os jogadores suíços são de três línguas maternas diferentes) vem ganhando destaque.

Minha avaliação do jogo contra o Equador

torcer pela SuíçaA seleção Suíça não é conhecida pelo seu poder ofensivo. Assistindo aos jogos eu, quase sempre, tive a impressão que o maior objetivo dos jogadores não era fazer gols, mais evitá-los. Porém, desde as últimas eliminatórias, a Suíça adotou um novo estilo de jogo, ofensivo e verticalizado, aproveitando do talento de promessas como Shakiri, Seferovic e outros.

O que se viu no primeiro tempo, porém, foi um time tenso, estático, muito porque o (antipático) técnico alemão, Ottmar Hitzfeld, armou mal o time e preferiu, equivocadamente, Drmic no lugar do jovem Seferovic, um atacante com faro de gol. A seleção helvética terminou o primeiro tempo perdendo, mas logo no início do segundo conseguiu o empate. A pressão, contudo, não dava resultado até que entrou Seferovic e, no último minuto, conseguiu a virada.

A festa aqui em Genebra foi grande. Buzinas, gritos, um clima de alegria geral, pois foi superado o primeiro desafio. Não acredito que a Suíça irá ganhar a Copa mas, tenho que admitir que foi muito mais emocionante ver minha segunda nação ganhar um jogo do mundial de futebol, que o Brasil.

Parece que nós brasileiros só aceitamos a vitória. Queremos conquistá-la a todo custo (até de maneira ilícita). Aqui, na pequena Suíça, vencer no futebol é “lutar” sem grandes jogadores, mas com trabalho, perseverança e união. Como nós, brasileiros, buscamos fazer na vida. Nesses momentos, tenho a impressão que a vitória vale bem mais.

 [CLIQUE AQUI para mais Copa fora do Brasil]

 

[i] Confederação Helvética é um dos nomes da Suíça

Copa fora do Brasil: Com sofrimento sim, mas sem a ajuda do juiz!

Copa fora

Ontem, acordei ansioso. Mesmo se todo o exterior me dizia que seria só mais um dia normal, no fundo, eu sabia que não era. Parece que, quanto mais tempo passo longe do meu país, mais me dou conta da “mística” em ser brasileiro, principalmente quando se trata de futebol.

Botei minha camisa da seleção “à lá Palmeiras” e, encorajado pela minha esposa, mesmo com vergonha, decidi colocar as bandeiras na sacada do nosso apartamento. Afinal de contas, alguém tem que começar a decorar a cidade!

Copa fora=Depois de arrumar a casa, fui para o curso de francês. Na minha sala: um peruano, dois chineses, uma marroquina, uma polaca, uma boliviana e uma malauiana (para quem não sabe, o Malawi é um país no sudeste africano).

Entre os meus colegas de classe, um fator em comum: nenhum deles vai torcer pela sua seleção durante a Copa do Mundo. Isso me torna, em linhas gerais, o único realmente interessado pelo evento esportivo e me deixa sem ninguém para conversar, zuar e provocar.

Durante as três horas de curso, a ansiedade foi aumentando e, junto com ela, o desejo de estar vivendo este dia especial do outro lado do Atlântico.

Copa fora do Brasil: especialistas em futebol ou em política brasileira?

Voltando para casa, já com a cerveja esfriando no congelador, ligo a televisão para o “esquenta” pré-jogo. Contudo, ao ouvir os comentaristas da televisão suíça (RSI2) discursando sobre a situação atual do Brasil, percebi que talvez era melhor ter deixado a TV desligada.

Aqui na Europa, de maneira particular na Suíça, parece que existem milhares de especialistas em Brasil. Toda a nossa situação sociopolítica, com origens e desenvolvimento complexos (muito além dos atuais protestos contra o governo e a FIFA), tem sido comentada por gente despreparada e, como era de se esperar, acaba reproduzida pela massa.

Alguém precisa avisar os comentaristas das TVs de todo o mundo que a Copa é um evento futebolístico e eles foram contratados para falar de futebol. Não de política! Porque, sobre isso, eles não têm muito a acrescentar.

Minha análise conclusiva sobre o jogo de ontem

Enfim. As horas passaram e finalmente a hora do jogo chegou. Lá fora, alguns bares transmitiram o jogo, mas nada de gritaria, festa, rojões, afinal de contas, não é o Brasil. Eu, por outro lado, já fiquei rouco no primeiro gol da seleção e, depois, festejei com minha esposa e amigos a vitória polêmica contra a Croácia.

Bom. O juiz japonês interferiu diretamente no jogo? Interferiu. O Brasil jogou mal? Jogou. Mas isso não quer dizer que a seleção brasileira não mereceu ganhar. Fizemos todos os gols do jogo (um contra) e, mesmo de forma desorganizada, buscamos a vitória.

A Croácia deve ter dado uns 4 ou 5 chutes a gol e, mesmo com um meio de campo muito habilidoso, não conseguiu ser um perigo real para o Brasil. Não adianta agora ficar culpando o arbitro! O Brasil, por pior que tenha jogado, mereceu a vitória, mas espero que seja a última vez, com a ajuda do juiz. Nós não precisamos disso.

E… e… se o Brasil ganhar o hexa de maneira injusta, eu já disse à minha esposa: nunca mais irei assistir uma Copa do Mundo.

[CLIQUE AQUI para mais Copa fora do Brasil]

Copa fora do Brasil: será que o pessoal vai mesmo assistir?

copa

Amanhã começa a Copa do Mundo. Bandeiras enfeitando as ruas, as janelas das casas, a entrada dos edifícios; o asfalto sendo pintado de verde e amarelo; os “bolões” nas empresas, universidades, condomínios que talvez nos deixem um pouco menos pobres no dia 13 de julho. Isso tudo, só se você estiver no Brasil neste exato momento!

Aqui, a 9.400 km de distância do País do Futebol, mais exatamente no País do Tênis ou do Chocolate, não vai ter nada disso! Faltando um dia para a partida de abertura do evento esportivo mais importante do mundo, não se sente por aqui nem um mínimo entusiasmo de “Copa do Mundo”.

Nada de bandeira na janela

Há algumas semanas atrás, fui alegremente comprar minha bandeira tupiniquim (e outra da Suíça, afinal de contas somos uma família binacional) na esperança de pendurá-la na sacada do nosso pequeno apartamento. Decidi esperar alguns dias para ver se haveriam outras na nossa rua, mas nada.

Ninguém! Nenhum habitante da nossa rua, ou melhor, do nosso bairro inteiro, colocou a bandeira do próprio país na janela de casa! Os únicos lugares que têm decoração de Copa do Mundo são os supermercados, que querem aproveitar a ocasião para enfiar “goela abaixo” os produtos diretamente relacionados ao evento.

Dessa forma, tenho de admitir, fiquei com vergonha de colocar minha bandeira na janela.

O pessoal vai mesmo assistir à Copa?

Pelo fato de gostarmos muito de viver bons momentos com nossos amigos (e não querendo uma resposta negativa para a pergunta acima) eu e minha esposa decidimos convidar a “gringaiada” para assistir conosco Brasil x Croácia aqui de casa. Cerveja, chips de feijoada (dá pra acreditar????), guaraná antártica. Tudo pronto para a festa de amanhã (espero!).

Copa

Festa? Bem, sinceramente, não acredito que vai ter muita festa por aqui. Talvez eu até tenha que tomar cuidado para não gritar demais e acordar os vizinhos que, provavelmente, estarão dormindo. (Pois, afinal de contas, depois de amanhã é dia de trabalho!)

Enfim… vamos ver como vai ser assistir mais uma Copa fora do Brasil. Espero que dê mais sorte que na Copa passada. Entretanto, dessa vez, vou contar tudo para quem quiser saber.

Quando as escolhas convêm… tudo bem | Valter Hugo Muniz

escolhas convêm

Escolha. Uma palavra carregada de consequências, às vezes boas para nós e ruim para os outros; ou o contrário; ou boas pra ambos, ou ruins para os dois. Enfim, escolher é vivenciar, ao mesmo tempo, o maior drama e a maior graça da existência humana: a liberdade. Pensei nisso enquanto lia a matéria sobre o jogador hispano-brasileiro, de 25 anos, Diego da Silva Costa.

A polêmica, em resumo, é a seguinte: Em busca do sonho de ser jogador de futebol, Diego deixou o Brasil ainda muito jovem para seguir carreira no futebol da Europa. Depois de jogar em vários clubes de Portugal e da Espanha, ele chegou, com 19 anos, ao Atlético de Madri, time que joga até hoje. Ali, conquistou respeito profissional, fama e dinheiro.

Com gols e jogadas brilhantes, o futebol de Diego começou a despertar interesse da seleção espanhola, que precisa urgentemente de um jogador com as suas características em seu plantel. Não se sabe se por coincidência ou temor, Felipão convocou Diego para os amistosos do Brasil, este ano, contra a Itália e Rússia, mas ele quase não jogou. Essa evidente falta de espaço no grupo brasileiro fez com que a Espanha fizesse uma proposta profissional irrecusável a Diego: sendo naturalizado espanhol ele poderia, em vez de jogar pelo Brasil – algo improvável – optar por atuar pela atual campeã mundial, onde teria espaço praticamente garantido.

E o sergipano Diego Costa escolheu jogar pela Espanha, explicando: “Foi uma decisão bastante complicada porque estive entre o país no qual nasci e o país que me deu tudo, que é a Espanha. Pensei e decidi jogar pela Espanha. Foi aqui que alcancei os meus objetivos e tive um crescimento em minha vida pessoal. Então eu tenho um carinho especial pela Espanha e sinto o carinho das pessoas diariamente”.

Assustei-me com a decisão, pois como disse o Felipão, “ele virou às costas para um sonho de milhões de jovens jogadores brasileiros”. Isso é fato. Só que a afirmação do técnico brasileiro soou ridícula, porque ressaltou o dilema, sem que se fosse pensado no Diego que existe ALÉM do profissional do futebol.

Não existe causalidade direta no fato do jogador ter optado em representar outra seleção (que não tem valor diplomático qualquer), com a renúncia de sua cidadania ou negação/menosprezo de seu país. Seguindo esse raciocínio, devemos incluir nesse “bando de renegados” todos os profissionais das mais diferentes áreas que trabalham em multinacionais estrangeiras (dentro e fora do Brasil), que vão morar em outro país por motivos vários, como fez também o próprio Felipão.

Diego é e nunca deixará de ser brasileiro. Mas o jogador, Diego Costa, pode jogar por qualquer time, qualquer seleção, pois é um profissional e o futebol é um esporte, nada mais. Ele não define quem somos ou a nossa nacionalidade. Como também não é “traidor da nação” quem decide imigrar por trabalho, estudo ou até mesmo por condições melhores de vida.

Na verdade, o que deveria ser discutido, é se a Espanha trata bem ou valoriza, como está fazendo com Diego Costa, os outros jogadores e profissionais brasileiros que atuam no país. O que acho mais triste, e isso acontece em quase TODOS os países europeus, é a instrumentalização desses jovens jogadores. Se são bons, são suíços, alemães, franceses, holandeses, espanhóis… se não, são senegaleses, argelianos, brasileiros, argentinos, kosovares e etc.

A decisão e a liberdade de decidir é toda do Diego e deve ser respeitada. O que deve ser discutido é o tratamento que os profissionais estrangeiros, do futebol ou não, tem sido praticado pelas instituições e povos que os recebem. Para refletir ainda mais, fundamental a entrevista deita pela UOL esporte com o comediante e ex jogador na Espanha, Marco Luque e o caso dos médicos cubanos no Brasil que escrevi neste post.

Page 2 of 3

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén