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Copa fora do Brasil: Celebrando o futebol

Fale o que quiser, mas eu sou sim um entusiasta da Copa do mundo! Para falar a verdade, me entristece o discurso que tenta politizar o futebol de maneira reducionista, sem uma profunda reflexão sobre o potencial transformador que existe intrinsecamente nessa “plataforma”.

Para mim, futebol e política não se misturam. Jogadores, dirigentes até podem usar de suas posições no esporte para emitir declarações políticas, para serem embaixadores de uma causa – e respeito quem decide por essa postura. Contudo, o esporte tem um papel social que transcende tudo isso.

Desde pequeno, o futebol tem me proporcionado experiências e aprendizados que carrego sempre comigo. Muitas vezes ainda me vejo lendo os fatos e as dinâmicas da vida como se estivesse dentro da quadra de futsal ou dos gramados onde joguei. E não estou me limitando ao entendimento do espírito de equipe. O futebol também me ajudou a entender a importância de ser – quando necessário – o protagonista, de respeitar o adversário, acolher e aprender com a derrota, partilhar o sucesso e o fracasso, e tantas outras coisas. Como aconteceu comigo, no simples jogar, muitos jovens aprendem a partilhar, colaborar, respeitar, vencer e perder.

Não tenho dúvidas de que o futebol precisa permanecer primordialmente uma plataforma de educação, além de um instrumento de coesão social, de encontro. Hoje, quando penso no esporte, tenho em mente a seleção islandesa. É impressionante a energia positiva que ela tem gerado nos últimos dois anos. Sem tradição, o time foi buscar na identidade do seu povo o motor e a sinergia necessária para vencer as partidas. Dessa forma, time e torcida passaram a ser uma coisa só, ensinando e encantando o planeta, além de conquistar resultados históricos e, acima de tudo, nos ajudar a conhecer um pouco mais da cultura viking islandesa.

Que o futebol seja plataforma de aprendizado e de encontro! É isso o que eu desejo para essa Copa do Mundo. Em um planeta cada vez mais repleto de muros e barreiras, o futebol pode ser uma verdadeira ponte entre povos.

Para além da Copa – Revista Cidade Nova – maio 2010

Por Valter Hugo Muniz

AFRICA DO SUL:  Uma festa popular recheada de alegria, música e dança junto a um grande espetáculo esportivo são os ingredientes que a primeira Copa do Mundo de futebol na África tem a oferecer para todo o planeta. Mas será que é só isso?

O que a África faz você lem­brar? O que além de animais selvagens, savana, fome, des­nutrição, milícias e pobreza?

As respostas a estas perguntas es­tão, muitas vezes, ligadas ao que vemos em filmes e pela TV. Contudo, mesmo diante da visão caricaturada que se construiu sobre o continente africano, teremos, durante um mês, a oportuni­dade de ver, como explica a jovem an­golana Ivete Maria, que a “África não se resume a coisas negativas, se você se interessa em conhecer a beleza que existe no nosso continente”.

A primeira Copa do Mundo FIFA em solo africano, que acontecerá do dia 11 de junho a 11 de julho próxi­mos, será, principalmente, um con­vite ao planeta para ver o continen­te de maneira diferente.

Do sonho à realidade

Durante mais de 80 anos, a África do Sul passou por uma terrível es­tratificação social. No regime co­nhecido como Apartheid, a minoria branca (cerca de 10% da população) submetia o restante da população a um governo de leis segregacionistas que, entre outras coisas, impedia o casamento “entre raças”, estipulava locais onde alguns grupos negros poderiam habitar, além de formalizar a discriminação racial no em­prego e reduzir o nível de educação da população negra.

A Copa do Mundo de futebol existe desde 1930. Durante as 18 edi­ções já realizadas, o continente afri­cano nunca pôde sediar o evento. A África também jamais organizou uma edição dos Jogos Olímpicos, que acontecem há mais de cem anos.

Guardadas as devidas propor­ções, o anúncio de que a África do Sul seria o país-sede da Copa do Mundo de 2010, feito no dia 15 de maio de 2004, gerou a mesma ex­plosão de alegria daquele dia 10, do mesmo mês, mas dez anos antes, quando Nelson Mandela fez o jura mento como presidente da África do Sul diante de uma eufórica multidão, decretando o fim do Apartheid. Nos dois momentos fo­ram derrubados os “muros da se­gregação”.

“A Copa do Mundo é um mo­mento único para a África do Sul, mas também para os outros países africanos. Nosso povo sempre trouxe um ‘sabor especial’ a esse evento e é a hora de também nós termos esse privilégio de sediar uma Copa. Afi­nal não vai ser uma ‘Copa do Mun­do’ se a África estiver excluída, certo?”, comenta o técnico de in­formática, João Ladeira, morador de Johanesburgo, cidade mais popu­losa da África do Sul.

Para a alta comissária dos Direi­tos Humanos da Organização das Nações Unidas, Navi Pillay, “o simbolismo da Copa do Mundo de 2010, que se realiza pela primeira vez em um país africano e, especialmente, em um país que foi, durante muitos anos, sinônimo de racismo institu­cionalizado, é importante”.

Um novo olhar

O primeiro impacto da Copa na África do Sul será na maneira como o resto do planeta olhará para o con­tinente africano durante os jogos.

As grandes multinacionais têm usado artistas e jogadores africanos em seus comerciais televisivos, além de explorar visualmente a imensa riqueza da fauna, da flora e a alegria do povo para apresentar o conti­nente. Também a indústria cinema­tográfica lançou neste ano, o filme “Invictus” (que indicamos na re­vista do mês de abril), história que mostra como o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela, fez uso do rúgbi, esporte que é uma paixão nacional, para construir a unidade em um país que estava di­vidido há muitos anos.

Contudo, muitos cidadãos afri­canos estão preocupados com o fato de que, às vezes, as estratégias comerciais acabam por caricaturar ainda mais a vida no continente. Mesmo assim, o fotógrafo brasileiro Cristiano Burmester, que trabalhou por muitos anos na África, acredita que a Copa será “uma ótima oportu­nidade para o mundo ter um olhar diferente e menos formatado sobre o continente”.

Diversidade cultural

“Com a Copa, o mundo vai co­nhecer o outro lado da África que nunca quis conhecer, vai entender que a África não é um país, mas sim um continente, rico em cultura e em diversidade”. Esse comentário da angolana Ivete aponta para as­pectos importantes como: a cultura, a história e a tradição africana. O povo zulu é uma expressão signifi­cativa da diversidade que constitui o continente.

Entre essas riquezas, destaca-se o papel que os jovens exercem na sociedade sul-africana e o senso de solidariedade presente no país. A juventude sempre desempenhou um papel fundamental na vida po­lítica e cultural da África do Sul. Os sul-africanos de 14 a 35 anos, das diversas etnias que compõem o país, exercem uma influência con­siderável na sociedade e no cotidiano da nação.

A expressão “ubuntu”, usada no país da Copa, resume a ideia de que “um ser humano se faz humano através dos outros seres humanos”. Este termo, que está intimamente relacionado à ideia de solidariedade coletiva, assumiu grande importân­cia durante o processo de constru­ção nacional da África do Sul.

Mas, afinal de contas, qual é a África que queremos ver? E qual é a África que os africanos querem mostrar?

“Eu não diria que essa Copa tem algo de missionário. Apenas que­remos devolver algo ao continente africano por tudo o que ele já fez e ainda faz pelo futebol mundial, sobretudo o europeu”, disse o presi­dente da FIFA, Sepp Blatter, quando questionado sobre o evento. Mas se olharmos para trás, para a histó­ria das nações, talvez seja todo o mundo que deve devolver à África a dignidade e o respeito por tudo o que o povo africano fez e ainda faz para o restante da humanidade. E o mundo não pode perder a excelente oportunidade que a Copa oferece. •

O mascote da Copa

A escolha de um mascote oficial da Copa do Mundo é uma tradição que existe há mais de 40 anos. O escolhido para homenagear a primeira copa em solo africano é o leopardo “Zakumi”. “ZA” significa África do Sul e “kumi”, em vários idiomas africanos, quer dizer “10”, relacionado ao ano da Copa: 2010. Criado por artistas africanos, Zakumi representa o povo, a

geografia e o espírito da África do Sul. “Ele nasceu em 1994, no mesmo ano em que também nasceu a democracia do país. Ele é jovem, cheio de energia, esperto e am­bicioso. Uma verdadeira inspiração para pessoas de todas as idades, não apenas no nosso país”, explicou Danny Jordaan, principal executivo do Comitê Organizador da Copa da África.

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