Tag: ACT Alliance

De volta à Ásia

Mais uma viagem. Mais um país. Mais uma cultura.

No percurso em direção à Bangkok, onde eu e meus colegas de ACT Alliance de todo o mundo estávamos reunidos para o nosso encontro anual, foi difícil não sentir o coração apertar ao sobrevoarmos Iraque e Síria.

Desde que comecei a trabalhar nessa ONG que se ocupa, entre outras coisas, de responder ao clamor dos povos mais vulneráveis do nosso tempo, tenho relativizado novamente muitas coisas na minha vida. Não me basta mais a ingênua satisfação de ter uma vida equilibrada e estável, é preciso também fazer algo para aqueles quer tiveram a dignidade roubada pela guerra.

Poder doar meu tempo, energia e talentos para diminuir um pouco do sofrimento desses povos, me faz sentir – talvez egoisticamente – orgulho. Quero pertencer a um grupo de pessoas que procura fazer algo de bom para os outros, mesmo se, no fundo, quase irrelevante de tão pequeno.

11 anos depois visito novamente o continente asiático e, de novo, tragicamente, presencio meus irmão de Aceh (Indonésia) chorar mais vidas perdidas devido a uma catástrofe natural. Esse e outros acontecimentos de 2016 não têm me deixado esquecer que a vida é uma dádiva. Cabe a cada um vivê-la plenamente, não só para si mesmo, pois estamos todos de certa forma ligados uns aos outros.

Reflexões pós COP22

Daqui a pouco pego o avião de volta para casa após ter vivido minha segunda COP (conferência global onde governos discutem as estratégias para combater as mudanças climáticas). Diferentemente da primeira experiência, dessa vez estava mais por dentro das negociações e da importância em dar prosseguimento ao processo potencializado pelo Acordo de Paris, no ano passado. Porém, como grande parte dos jovens da minha geração, tive dificuldade de não projetar minhas expectativas de sucesso nos negociadores reunidos em Marrakesh.

As conferências organizadas pelas Nações Unidas são em si mesma uma excelente escola. Esses espaços políticos de diálogo permitem SIM decisões importantes, mas eles não passam do terraço de um edifício que precisa ser construído com as bases nas comunidades e no protagonismo individual de cada cidadão desse planeta.

Recentemente escrevi em um blog para organização em que trabalho onde enfatizei que, quando você entra em contato direto com as comunidades que já estão sendo afetadas pelo pelos efeitos da mudança climática, é bem mais fácil entender o senso de urgência, pois se tratam, acima de tudo, de seres humanos como todos nós. Consumir desenfreadamente, acumular, não partilhar, desperdiçar, são verbos que têm construído a preocupante narrativa que estamos escrevendo para o nosso planeta. Contudo, a natureza não perdoa e, cedo ou tarde, ela vai nos obrigar a mudar nosso estilo de vida.

Novos paradigmas precisam nascer do indivíduo, encontrar força na comunidade local/regional, até chegarem aos governantes como parte de um movimento crescente. Não dá para achar, burramente, que o mundo vai mudar graças a boa vontade de alguns engravatados reunidos por duas semanas em algum canto do mundo. Coexistência sustentável é um processo difícil e desafiador. É uma luta que exige o esforço conjunto de todos, onde ninguém pode ser deixado para trás.

Volto para casa mais consciente do meu papel individual, mas também da minha responsabilidade comunitária. Quero continuar trabalhando na sensibilização de pessoas e governos para alertá-los que a mudança climática ainda vai ter um impacto dramático em nossas vidas. Agora é uma questão de justiça para com as comunidades mais vulneráveis. Em alguns anos será uma questão de sobrevivência para todos nós.

COP21: A primeira vez que experimentei um mundo unido

Raríssimas vezes eu tive a possibilidade de presenciar, fisicamente, um momento histórico. Entretanto, daqui a alguns anos, quando olhar para o passado, vou lembrar com um sorriso gostoso o dia 12 de dezembro de 2015, dia do Acordo de Paris em relação as mudanças climáticas. A COP21 foi a primeira ocasião na história moderna que se chegou a um acordo realmente global.

A preocupação internacional em relação ao futuro do planeta levou os representantes de quase todas as nações da terra a se reunirem na Cidade Luz em ocasião da  21a Conferencia do Clima. Há exatamente um mês Paris chorava as vítimas de um terrível atentado. O que parecia ser o começo de um período de « sombras », um mês depois se transformou em alegria, entusiasmo, esperança de um melhor melhor. Um precedente histórico fundamental em um ano marcado pela violência e o descaso com as vidas inocentes.

12339468_10153716831764831_5517811692552098286_oE eu estava lá, com a delegação da ACT Alliance , organização que tinha como principal objetivo garantir que o acordo respeitasse as pessoas mais vulneráveis, principais vítimas das mudanças climáticas. Vídeos e mais vídeos, entrevistas, partilhas. Sei que a minha participação não foi a grande responsável pelo inédito consenso, mas nenhuma ação individual bastaria.

Um dos meus professores de mestrado dizia que uma verdadeira revolução necessita de duas coisas: líderes com vontade e coragem de mudar e uma sociedade civil consciente e participativa, capaz de dar legitimidade as possíveis mudanças politicas. Foi isso o que aconteceu nas ultimas duas semanas em Paris. O clima na minha delegação, mas também em toda a Conferência era de uma serenidade alegre, de respeito e escuta, elementos-chave que, segundo eu, nos levaram ao tão sonhado acordo.

Ele não é perfeito. Ninguém esperava que fosse, mas é uma vitória que não pode ser desprezada. Fiquei emocionado ontem ao ouvir os discursos e sorrisos dos representantes dos países ao final da COP21. De alguma forma me senti parte daquela conquista. Doei meus talentos, energia e horas de sono porque acredito no diálogo como instrumento em prol do bem comum. Por duas semanas pude experimentar, pela primeira vez fora do ambiente religioso, que um mundo melhor é possível. No entanto, ele vai sempre depender da vontade de cada um querê-lo e buscá-lo.

Powered by WordPress & Theme by Anders Norén