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Ensino da comunicação: o desafio de estimular a partilha

Ensino da comunicação

A questão pedagógica, relacionada ao ensino das disciplinas ligadas ao universo da comunicação, sempre me “moveu” de alguma forma. Desde em que coloquei o pé na faculdade de jornalismo percebi que, mesmo estudando em dos cursos mais renomados do país, ainda faltava espaço, no ensino da comunicação, para uma reflexão que superasse a unilateralidade do pensamento político-ideológico.

Sinto-me privilegiado por, dentro do contexto formativo, ter encontrado sábios “mestres” que me estimularam a transcender à simples questão técnica, para olhar o jornalismo como instrumento de mobilização social, que pode sim operar transformações, para melhor ou, como tem majoritariamente acontecido, para pior. Contudo, faltou uma reflexão etimológica do que significa “comunicar”.

“O vocábulo ‘comunicação’, em latim communicatio, é derivado de communicare e significa ação (actio) de comunicar, partilhar, pôr em comum. Contudo, para que essa partilha ocorra efetivamente são necessários alguns pressupostos mínimos, como um mesmo idioma ou sistema de signos, valores, entre os sujeitos comunicantes, capazes de tornar similar e simultâneas afecções presentes em duas ou mais consciências”. (Comunicação e centralidade do ser humano. Aspectos éticos relacionais da comunicação jornalística em uma sociedade de massas |tese de “laurea magistrale” no Instituto Universitário Sophia)

A definição acima aponta para uma dimensão da comunicação, inclusive aquela “de massas”, que se atenta ao seu caráter fundamentalmente relacional. Saí da universidade um expert em observar e julgar os detentores do poder midiático, ancorado em uma visão excessiva dos postulados da Escola de Frankfurt. Mas, passados alguns anos da conclusão do meu curso, percebo que a práxis jornalística transcende essa visão maniqueísta da realidade e se encontra, definitivamente, com o “homem relacional”.

O ensino da comunicação interdisciplinar

Ensino da comunicaçãoSegundo comunicólogo francês Dominique Wolton, a universidade deve abraçar “a questão das relações entre as diferentes formas de cultura e a comunicação” refletindo “os problemas didáticos, deontológicos, sociais e políticos ligados à interação maior entre conhecimento, cultura, economia e comunicação”. De um ponto de vista científico, afirma Wolton, “a comunicação sempre levanta a difícil questão da interdisciplinaridade. Ela é um objeto cientifico novo a ser construído, convocando varias disciplinas, e, ao mesmo tempo, obriga cada disciplina a reexaminar suas ferramentas e seus conceitos”.

Ampliar conhecimentos que transcendam tanto o aspecto técnico, quanto a questão ideológica, enriquecendo-se do contributo fundamental de outras disciplinas, coloca o ensino da comunicação diante de seu principal protagonista, meio e finalidade: o ser humano. É nele que todas as questões de “práxis” e pedagógicas se encontram, para fazer com que a comunicação de massa tenha uma positiva ressonância social.

Assim, o retorno à etimologia do termo “comunicação” – que sublinha a sua dimensão relacional – pode dar pistas importantes para a compreensão e a atuação dos sujeitos comunicacionais. Cabe, contudo, que as propostas pedagógicas existentes tenham a coragem de superar o doutrinamento tecnicista e ideológico, para mostrar que, acima de tudo, a comunicação – da pessoal à “de massas” – é um instrumento de encontro e promoção de valores comuns.

A manipulação dos meios de comunicação de massa

comunicação de massa

Que a mídia, no geral, é um instrumento de manipulação das elites econômicas, isso qualquer “pseudo-marxista” de plantão afirmaria de olhos fechados. Em uma sociedade em que as dinâmicas sofrem cada vez mais influência dos meios de comunicação de massa, faz sentido o imenso interesse que os detentores do poder têm sobre esses meios.

Contudo, independentemente do seu uso, a comunicação é um instrumento que, na sua ontologia, leva, indiscriminadamente, à partilha, mesmo se não de maneira plenamente gratuita e integral. Em defesa da comunicação de massa e da sua vinculação com a ideia de progresso, o comunicólogo francês Dominique Wolton, recorda o quanto ela “contribuiu par expandir os quadros da sociedade, para democratizar os gostos, os comportamentos, os julgamentos e, de certo modo, para relativizar o domínio das elites sobre a sociedade”.

Wolton não afirma, de jeito algum, que este domínio das elites tenha acabado (mesmo considerando uma diminuição perceptível em relação ao passado não tão distante). Para ele, as elites são hoje mais numerosas e heterogêneas e mídia desempenhou um importante papel de democratização. “De um modo geral”, afirma Wolton, as elites “nunca defenderam muito a democracia de massa”.

manipulacao051Em uma geração as elites se converteram à comunicação de massa para, ás vezes sem pudor, usar a mídia em prol se seus interesses, mas sem jamais questionar a sua essência. Para essas elites, explica Wolton, “a comunicação é ruim, perigosa, discutível, mas vamos usá-la em nosso beneficio”. Porém, essa instrumentalização da comunicação acabou reforçando a ideia de que ela se reduz à transmissão de informação, em que o espectador simplesmente aceita o que lhe é transmitido.

Na contramão do conceito de comunicação de massa, reforçados pelas elites, está o fato de que, mesmo que manipulada, selecionada, condicionada, essa, e qualquer outro tipo de comunicação, transforma. Principalmente por conta do processo de interpretação, que age no processo comunicacional de forma independente, estando profundamente vinculado àqueles que recebem uma informação.

Essa explosão das relações fundadas em um contexto de comunicação de massa tornou, inevitavelmente, a sociedade, hoje, culturalmente mais aberta. O grande desafio que emerge, neste cenário, parece levar a comunicação de massa (como instrumento social) a percorrer um novo caminho, que não se limite à expansão da transmissão de informação, nem se baseie exclusivamente na interpretação da mesma, mas reencontre os sujeitos comunicacionais que fazem uso desse instrumento, para, com eles, redescobrir o fator comum, centrípeto, que os faz, essencialmente iguais e, ao mesmo tempo, profundamente diferentes.

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Somos se aparecemos: a responsabilidade comunitária do comunicador

Somos se aparecemos

Uma das reflexões mais importantes que um comunicador, ao meu ver, deve SEMPRE fazer diz respeito a sua responsabilidade perante a comunidade em que ele está inserido. Em uma sociedade em que o espaço público é totalmente midiatizado “tudo o que é importante está na mídia, então aqueles que estão na mídia são importantes”, explica o comunicólogo francês, Dominique Wolton. Essa dinâmica social promove uma legião de narcisistas, que parecem viver para “aparecer”, pois isso (infelizmente) define a sua relevância perante os outros. Enfim, somos se aparecemos.

Nesse contexto, não é necessário explicar muito sobre o poder que está nas mãos, tanto de quem comunica, como daqueles que gerenciam as empresas de comunicação.

Contudo, deve ser impedida, a todo custo, a subversão vergonhosa dos meios de comunicação de massa, em que a forma suplanta o conteúdo. A responsabilidade dessas empresas e seus operadores precisa ser socialmente regulamentada, para que, em vez de servir como pedestal funcional para que os detentores do poder (politico e econômico) “apareceram”, as mesmas busquem valorizar aquilo que impulsiona à consciência coletiva, o bem comum.

Segundo Wolton, a “estrelização” da sociedade, que iniciara com o cinema e a imprensa de grande público, vem explodindo a mais de meio século, ilustrando a crise de valores que atravessou nossas sociedades. “Ontem, haviam outros valores: a política, a ciência, a religião etc., enfim, uma diversidade de legitimidades concorrentes. Hoje, tudo se alinhou à logica midiática que se torna a principal legitimidade”.

Fratemídia sai da rede para partilhar experiências e projetos

Fratemídia
No dia 19 de outubro, sete “frat&comunicadores” se reuniram na Livraria Cultura do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, para retomar a série de encontros presenciais, uma exigência que tem crescido entre os membros do grupo Fratemídia.

Participaram do evento: Aline Muniz (Rádio e TV), Mariana Assis (TI), Mariele Prévidi (Jornalismo), Tatiana Yoshizumi (Tradução), Carla Cotignoli (Jornalismo), Vagner Cordeschi (Relações Públicas) e Valter Hugo Muniz (Jornalismo).

A partilha enriquecedora de experiências, elemento fundamental dos encontros realizados pelo grupo, “abriu os trabalhos” dos participantes. Destaque importante para a apresentação feita pela Aline Muniz do projeto “Os inconformados”, iniciado pelos frat&comunicadores de Rádio e TV, e que, por meio de breves vídeos, assumiu o desafio de promover a ideia de fraternidade aonde ela ainda é ausente.

Além de “Os incorfomados”, o jornalista Valter Hugo Muniz apresentou o novo projeto do seu site/blog colaborativo escrevologoexisto.com, que agora conta com novos colaboradores, de diversas áreas, mas que juntos têm em comum o desejo de propor a centralidade e relacionalidade do ser humano, por meio de reflexões propostas a partir de múltiplas perspectivas.

A também jornalista Mariele Prévidi contou experiências de promoção do jornalismo colaborativo, feitas por meio da sua assessoria de imprensa, Attuale Comunicação, especializada em assuntos ligados à agropecuária.

Em um segundo momento do encontro, foi feita uma profunda reflexão a respeito dos desafios que o Fratemídia vive atualmente.

  • Carla Cotignoli, remetendo-se à atual presidente do Movimento dos Focolares, que está na origem do grupo, ressaltou a importância de antes de pensar o que se tem para dar, é fundamental buscar descobrir o que o mundo anseia, as demandas do presente.
  • Vagner Cordeschi acenou a respeito da dificuldade de “vender” a fraternidade para o mercado da comunicação. Segundo ele, “Ser um verdadeiro comunicador é transformar, criar espaços atuais, usando os meios de comunicação”.
  • A tradutora Tatiana Yoshizumi acrescentou a importância de que todos os membros do grupo precisam sentir que são parte deste grande e audacioso projeto.

Interessantissima a explanação conclusiva da analista de sistemas, Mariana Assis, que partilhou suas descobertas a respeito do papel dos membros da área da tecnologia no grupo. Para ela, a essência da tecnologia é ser uma ferramenta a serviço das necessidades do ser humano. No Fratemidia este serviço, aparentemente tecnicista, pode ser feito de maneira diferente, procurando humanizar as metodologias de produção e combater o individualismo dos operadores.

Na conclusão do encontro dois aspectos principais, concretos, ficaram em evidência: A importância de SEMPRE comunicar as atividades e projetos feitos, mesmo que de forma “setorizada”, por áreas, ou individual, pelos membros do grupo e a necessidade de elaborar um manifesto em que todas as dimensões profissionais do grupo se encontrem essencialmente.

Mais informações sobre o grupo CLIQUE AQUI ou entre em http://netonebr.wordpress.com/

Algumas consequências da sociedade do espetáculo

sociedade do espetáculo

Não existe, espero, um estudante de jornalismo do mundo que nunca ouviu o termo Sociedade do Espetáculo (para ler o livro clique aqui), que intitulou o livro do escritor francês Guy Debord em 1967. Com um pessimismo envolvente, emerso no contexto da Guerra Fria, o escritor critica tanto o espetáculo de mercado “ocidental capitalista” (o espetacular difuso) quanto o espetáculo de estado do bloco socialista (o espetacular concentrado).

A importância desta obra é inquestionável, sobretudo pelo seu valor histórico. Além disso, é importante mencionar que os textos de Debord serviram de base teórica para as manifestações do Maio de 68 na França. Mas, considerando o contexto atual em que a sociedade e a crítica da comunicação de massa se encontram, arrisco a dizer que a sua grande obra exprime um anarquismo retrógrado que vai “na contramão” do estimulo em prol de uma reflexão “construtivista”.

Bom. Pensando em uma leitura que “aceita” a “vitória” do modelo econômico capitalista e aplicando este modelo ao universo da comunicação, como afirma Wolton, “é compreensível que a informação e a comunicação tenham se tornado mercadorias”. Contudo, o que precisa ser pensado, urgentemente e de maneira profunda, é “até que ponto o ideal, o normativo (da comunicação como partilha entre diferentes) é respeitado e a partir de quando, inversamente, é instrumentalizado ou mesmo pervertido”.

Seguindo o raciocínio, é fundamental pensar na difusão das diferentes ideologias pela comunicação e, frequentemente, sustentadas por aqueles que as “fazem”: jornalistas, publicitários, as personalidades midiáticas. Para que a comunicação (de massa) preserve a sua essência como “troca entre alteridades” ela, comenta Wolton, “deve atingir todos os públicos e tornar-lhes compreensíveis aos grandes desafios da sociedade e do mundo”, superando a espetacularização e a escolha editorial que expresse unicamente seus interesses ideológicos.

Isso não quer dizer que ela não pode ser simples, para ganhar clareza para um grande número de receptores! Certamente não se pode correr o risco de entediar o espectador, mas do simples ao simplista existem propósitos distintos. Deve-se, porém, exercer um grande zelo para não criar caricaturas em que a forma suplanta o conteúdo.  “Ganha (audiência) quem é mais rápido na invenção de frases curtas e das formulas”, como podemos observar diariamente na televisão. É questionável, porém, se esse modelo tem promovido “encontros”, consciência, desenvolvimento.

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