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Terra Santa

Devaneios sobre o absurdo na Terra Santa

Terra Santa

AP

Já há algumas semanas tenho procurado ler os horrendos acontecimentos na Terra Santa, usando os instrumentos intelectuais que adquiri ao longo do tempo.

Dia após dia os jornais do mundo inteiro vêm estampando um dos genocídios mais impunes da história recente. O governo israelense e os grupos que reivindicam a soberania palestina se digladiam há anos, em um conflito armado que disseminou o ódio entre dois povos e que tem a ignorância e a omissão irresponsável dos governos estadunidense e europeu como grande promotor.

Quais leis defendem os civis da Terra Santa?

A recente escalada da violência, segundo a UNESCO, tirou a vida de mais de 400 crianças palestinas. Não acredito que valha a pena perder tempo debatendo as causas atuais, pois elas são menores se se olha o conflito em linhas gerais. Uma premissa, porém, é fundamental considerar: os responsáveis pelas mortes de agora e das últimas décadas provavelmente não serão punidos!

A resposta para a questão proposta acima é simples: a legislação internacional reconhece “legalmente” dois tipos de conflito armado: o internacional (entre duas nações internacionalmente reconhecidas) e o não internacional (entre um ou mais grupos rebeldes e um Estado soberano). O conflito Israel-Palestina não se encaixa em nenhum deles e essa situação não só admite a impunidade, mas contribui decisivamente para distanciamento do tão sonhado fim do conflito.

Reconhecimento do Estado Palestino

Terra SantaPara que seja dado um verdadeiro passo concreto rumo a paz na Terra Santa, acredito que seja imprescindível reconhecer o Estado Palestino. Contudo, infelizmente esse é um processo muito mais complexo do que aparenta. Além da multiplicidade de vozes que reivindicam o reconhecimento político palestino, sendo algumas delas moderadas, outras fundamentalistas, há interesses estratégicos e econômicos de outros países em jogo na região.

A falta de uma voz única fragmenta a causa palestina e permite que Israel justifique seus ataques impunes aos civis da Faixa de Gaza como “combate ao terrorismo” (que, até um certo ponto, é mesmo) promovido pelo Hamas.

Não vou ousar, de forma alguma, tentar dar respostas ou soluções para uma realidade muito mais complexa do que as minhas capacidades analíticas. Contudo, acredito que, enquanto não houver uma proporcionalidade entre as forças políticas, teremos dificuldades para encontrar uma solução diplomática e, dessa forma, continuaremos a ver um desesperador massacre de inocentes.

A mídia constrói ou destrói?

O que posso fazer, sem medo de errar, é analisar o papel da mídia nesse terrível conflito. Sinceramente, eu sou completamente cético a respeito da força da opinião pública na pacificação de um conflito. Sendo estratégico e lucrativo, mesmo que o mundo inteiro esteja contra, que o Papa, Gandhi, Dalai-Lama se pronunciem, um Estado não abrirá jamais mão do uso da força para conquistar seus objetivos. Isso diminui muito a força direta da mídia no que diz respeito a simples divulgação “pura” dos fatos.

Mas então o que a mídia pode fazer? A minha resposta é propor perguntas!

É notável, principalmente no universo acadêmico, que toda verdade (ou fragmento dela) nasce da pergunta certa. Nós percebemos o mundo. Vemos inúmeras situações e, a partir delas, criamos nossas teses, nossos julgamentos, que devem contudo serem verificadas e partilhadas para que tenham valor. Entretanto, uma boa tese, um bom julgamento, nasce de uma boa pergunta. É esse também o DEVER do jornalismo.

Contudo, o que tenho visto, em geral, é a tal fixação nos fatos, que só têm sentido se feita com profundidade e não de maneira fragmentada como os jornais têm feito de maneira corrente. As perguntas certas nos ajudam a pensar com profundidade. Por exemplo: Quem vende as armas para o Hamas? São os mesmos Estados que condenam publicamente conflito? Por que eles não são punidos? Por que não existe um maior esforço para unificar os grupos de interesse palestinos para então reconhecer a soberania do Estado Palestino? Pelo medo do fundamentalismo? Talvez. Ou então… Quais justificativas o governo israelense dá ao bombardear escolas da ONU? O Hamas está jogando seus mísseis a partir delas?

Tenho tantas perguntas! Só não entendo o porquê não existe uma força tarefa para propor outras e, no exercício de tentar respondê-las, nos ajudar a pensar alternativas, encontrar as verdadeiras causas e, principalmente, punir os verdadeiros culpados.

Mas, como eu disse anteriormente, existem muitos outros interesses em jogo. A vida dos civis – termo quase banalizado nos conflitos recentes – parece ser pouco relevada. Por que?

Sour Cristina e o testemunho de uma Igreja que quer se renovar

Sour Cristina

Estando dessas partes do Atlântico, pude acompanhar ao vivo a final do programa The Voice Itália. Essa edição, em particular, ficou famosa em todo o mundo pela presença inusitada de uma jovem freira que, com seu talento, conquistou a simpatia dos italianos ao ponto de vencer o programa musical.

A humanidade dos consagrados

Sour CristinaComo católico, admito que fiquei contente em ver uma freira participando de um programa leigo e de grande audiência. Parecia-me uma ótima oportunidade para a quebra dos estereótipos atribuídos àqueles que abdicam de “controlar”, individualmente, a própria vida para viver, em comunidade, por Algo Maior.

Por sorte, além do contato constante com os consagrados do Movimento dos Focolares, durante meus estudos na Itália, tive a oportunidade de conviver com uma freira burundiana que me fez experimentar o afeto e amizade de alguém que se tornou, profundamente, minha “irmã”.

Freiras, padres, consagrados em geral são seres humanos como todos nós. Sonham, desejam, conquistam, sacrificam e perdem. Talvez a “santificação” que lhes é conferida – principalmente por quem não os conhece pessoalmente – é consequência do estupor diante da renúncia consciente e do testemunho de vida que eles promovem.

Suor Cristina: o fenômeno midiático

Suor Cristina é a prova concreta da surpresa coletiva ao ver na mídia uma jovem freira feliz e, acima de tudo, talentosa. Geralmente, atribui-se à vida consagrada pessoas feias, infelizes, fracassadas. A jovem italiana quis mostrar que isso não é verdade, mas a maneira como tudo aconteceu foi bem constrangedora.

Talvez por ingenuidade, Sour Cristina e suas coirmãs não imaginavam que hoje o mundo inteiro estaria falando delas. Por isso, provavelmente, aceitaram participar de um programa como o The Voice. Da mesma forma, a produção do programa musical pareceu não mensurar as consequências de terem aceitado a participação freira.

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Contudo, ao abrir sua boca, Suor Cristina não só mostrou seu grande talento com o microfone em mãos, mas começou uma experiência inusitada, que só terminaria ontem, na final da competição musical.

Pessoalmente, sempre que assistia a uma das apresentações da jovem freira, ficava feliz com o seu testemunho midiático. No fundo, acreditava que a sua presença iria estimular o apreço respeitoso pela escolha de vida da jovem consagrada.  Erro meu. Ontem, mesmo depois de mais de um mês convivendo com os treinadores e o staff do programa, não faltaram colocações preconceituosas, estereotipadas e até ofensivas relacionadas à freira.

Erros e acertos de uma experiência nova

Suor CristinaDe certa forma, acredito que, em linhas gerais, a participação de Suor Cristina no The Voice foi um movimento mal calculado, equivocado, pois, no fundo, a freira italiana estava participando de uma competição sem querer competir, sem o – aparente – desejo de ganhar.

A jovem Sour Cristina queria, acima de tudo, testemunhar, com seu talento, a alegria da sua escolha como consagrada; mostrar que escolher Deus não é abdicar dos prazeres e alegrias pessoais. Ambos são potencializados no doar-se aos outros. Mas, o The Voice é uma competição. É um programa feito para dar a oportunidade a cantores talentosos de começar a própria carreira.

O fato de Suor Cristina abdicar da vitória ocultou o motivo pelo qual o programa realmente existe. Isso ficou evidente no seu último episódio: a freira, ao receber o troféu de vencedora, nem sequer quis segurá-lo por muito tempo. Parecia que uma exaltação pessoal esconderia o verdadeiro motivo pela qual ela estava ali cantando. Em seguida, de maneira inesperada, ela recitou um Pai Nosso “ao vivo” com aqueles – poucos – que se dispuseram a acompanhá-la.

O momento um pouco constrangedor na “apoteose” do The Voice me fez pensar no modo como o mundo religioso deseja se fazer presente na sociedade. A mesma Suor Cristina disse, inúmeras vezes, que a sua decisão de participar do programa era impulsionada pelo convite do Papa Francisco aos cristãos para “saírem dos conventos” e evangelizaremo mundo.

Aparentemente, foi isso o que Suor Cristina fez, só não sei se era a maneira correta. Isso só o tempo poderá dizer. Mas, como o Papa Francisco disse:

“prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar as próprias seguranças”.

Racismo, medo e a reação inesperada de Daniel Alves

Já aceitei que vivo em uma sociedade racista. Como diz o Houaiss, racismo nada mais é que o “conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias”. Outro significado é “doutrina ou sistema político fundado sobre o direito de uma raça (considerada pura e superior) de dominar outras”. Ou então “preconceito extremado contra indivíduos pertencentes a uma raça ou etnia diferente, geralmente considerada inferior”.

Teorias e crenças. Doutrina ou sistema político. Preconceito com o diferente. As explicações são variadas, mas acredito que faltou um elemento essencial na definição do racismo: O MEDO.

Racismo e o medo do outro

campanha_somostodosmacacos_racismo_danielalves_rep_690O racismo é fruto do pré-conceito em relação ao outro. Com ele, emerge a necessidade de teorizar crenças, com o objetivo de justificá-las de maneira racional (por isso as teorias, doutrinas e sistemas políticos) e assim adquirir a credibilidade que tenha status de “verdade”.

Contudo, o racismo não é fruto da razão. Permanece sempre crença. Crença de que o outro é diferente e por isso inferior, crença que o outro age diferente, por isso é inferior. Que o outro pensa diferente e por isso é inferior.

Porém, o que na verdade o contato com o outro, essencialmente diferente, causa em nós é o medo de que percebamos as nossas fraquezas, que somos nós, em muitas ocasiões, os “inferiores”. E, para não deixar que isso seja comprovado teoricamente, sabotamos qualquer pensamento que denuncie nossos limites. Atacamos para não sermos atacados! Tudo por medo.

Lição que vem da cultura africana

Na minha recente e breve passagem pelo continente africano, fiquei impressionado com a estrutura física e a capacidade de sobrevivência dos meus irmãos marfinenses, camaroneses, congoleses e etc. Os filhos do “Berço da Humanidade” não têm os instrumentos tecnológicos que nós temos para facilitar a vida e, mesmo assim prosperam, geração após geração, tornando-se indivíduos mais fortes e capazes de sobreviver às adversidades do contexto em que provêm.

Os africanos mostram o quanto somos frágeis. O quanto apoiamos-nos, como sociedade “ocidental”, em conceitos de cultura e desenvolvimento questionáveis, pois eles não nos tornam pessoas mais racionais ou física e psicologicamente estáveis. Vivendo em harmonia com a natureza, a sociedade africana (principalmente rural/tradicional) dá uma lição ao mundo do como viver bem (não necessariamente FELIZ) com pouco.

Racismo cultural e o show de Daniel Alves

O caso do racismo no futebol é um espelho do racismo cultural que borbulha no “Ocidente”, de maneira especial no Velho Continente. Por aqui, defender as diferenças é garantir a própria identidade, sem deixar que as raízes culturais morram no contato com o outro, essencialmente diferente.

No Brasil, parece que o racismo é fruto de uma ignorância estúpida, de uma cultura que se aceita “colônia cultural”, reproduzindo ideias de outros contextos e que não consegue aceitar-se, essencialmente, uma “raça de raças”. No Brasil ninguém é puramente índio, africano ou europeu.

Na Europa é diferente. O racismo é a maneira encontrada para se defender do outro: do vizinho do outro lado da fronteira e, principalmente, dos que vêm de longe. Mas a causa é sempre a mesma: medo. E as justificativas eu já acenei nos parágrafos acima. O que faltava, porém, era uma reação nova, marcante. E foi isso o que Daniel Alves, jogador brasileiro do Barcelona fez.

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Um gesto simples, mas cheio de significado. Ao ser atingido por uma banana, clara alusão (porque feita repetidas vezes aqui na Europa) a um macaco (o que, simbolicamente, o faz ser inferior) Daniel Alves simplesmente descascou e comeu a banana, desqualificando o gesto racista.

O estúpido torcedor que atirou a banana para Daniel recebeu uma lição digna de aplauso. O jogador brasileiro mostrou que é possível transformar uma agressão em algo Maior, mostrando que a fraqueza, a inferioridade, como podemos constatar, está no ator do gesto racista.

Santo e homem. João Paulo II nos relatos de um homem comum

Na nossa vida, inúmeras pessoas passam, mas só algumas, mesmo sem um contato constante, permanecem presentes. Entre essas, pode acontecer também de alguma nem estar mais “neste mundo”, mas continuar viva dentro de nós, promovendo um sentimento interior difícil de explicar por meio da razão instrumental. Pois bem, na minha vida, e na vida da minha família, o falecido (e futuro santo) Karol Wojtyła é uma dessas presenças formidáveis que sempre nos acompanhou em momentos chaves.

Foi graças à visita do então Papa João Paulo II que eu pude conhecer aquela que se tornaria minha futura esposa. Foi também no seu funeral, em 2005, em Roma, que nos reencontramos depois de muito tempo distanciados e decidimos, juntos, reatar a amizade, que após muitos anos nos levou ao casamento.

Santos ou ídolos?

Santo e HomemPara quem não é católico será sempre complicado entender o significado da palavra “santo”. Na “mística popular” ela é constantemente relacionada a uma perfeição idealista ou, de maneira simplificada, alguém que está sempre seguindo com extrema retidão suas obrigações morais/religiosas.

Porém, a santidade cristã pouco tem a ver com uma perfeição romântica. Os santos são pecadores comuns que, durante a vida, praticaram inúmeros erros e acertos, como qualquer outra pessoa, mas que, aceitando a própria humanidade falha, foram além, transformando-se em um testemunho marcante, considerado exemplo para os outros cristãos.

Santo e homem

Justamente devido a minha admiração pessoal e pela presença de Wojtyła na história da minha família decidi, como primeiro livro de 2014, debruçar-me em “Santo e Homem”, livro que conta o relacionamento do Papa João Paulo II, com Lino Zani, um homem comum, instrutor de esqui nas montanhas do norte da Itália.

Santo e HomemA beleza do livro, para mim, não está nos relatos “místicos” das suas últimas páginas, que tentam justificar/relacionar os segredos de Fátima, com a vida do papa polaco. Na verdade, o que mais me tocou foram os relatos da simplicidade e da humanidade de Wojtyła. Apaixonado pelas montanhas, segundo os relatos de Zani, ele parecia encontrar especialmente nelas o Transcendente que exprime a grandeza do seu Deus.

Um ser humano excepcional que vale a pena ser conhecido, independentemente da sua profissão de Fé. E “Santo e Homem” é uma boa leitura para descobrir um pouco do homem por trás do famoso Papa.

(Caso alguém tenha o desejo de adquirir o livro, vi que ele está disponível no site da editora Algol)

Segunda temporada de Newsroom: continuando a desvendar o telejornal

segunda temporada de Newsroom

Em setembro de 2012 eu fiz um post sobre a série televisiva “Newsroom”, uma das mais interessantes obras a respeito da vida e dos dilemas da produção telejornalística.

Há poucos dias, terminei de ver a segunda temporada de Newsroom e, novamente, me surpreendi com a capacidade do diretor Aaron Sorkin de mostrar tão bem alguns aspectos que só são possíveis de perceber “de dentro” de um jornal.

Segunda temporada de Newsroom

The-Newsroom-1a-temporada-14Na segunda temporada de Newsroom as questões importantes do jornalismo ainda são debatidas, mas com uma diferença: elas não estão mais diluídas em contextos interessantes e por natureza da profissão, variáveis.

Um (novo) protagonista da série é Jerry Dantana, ambicioso produtor sênior de Washington que recebe uma dica que pode “fazer carreiras e acabar com presidências”. A dica é que na operação Genoa, o governo americano usou Gás Sarin em civis para uma extração de soldados capturados

Na série, a investigação sobre a operação Genoa toma toda a segunda temporada e mostra como um fato polêmico precisa ser profundamente apurado, antes de ser noticiado. Mesmo assim podem ser noticiadas mentiras.

Os personagens de The Newsroom são dotados de uma inteligência sem par, de um idealismo e de um respeito profundo pelo jornalismo. Todos eles possuem uma leveza que contrasta com a gravidade daquilo com que eles lidam no dia a dia, fato que, porém, foi alvo de críticas por ser considerado um retrato hipócrita do jornalismo.

O fim de Newsroom

The-Newsroom-1a-temporada-10Mesmo com Jeff Daniels, que interpreta o âncora Will McAvoy, ganhando neste ano um Emmy de melhor ator em série dramática, a HBO anunciou, na última semana, o cancelamento da aclamada série dramática de Aaron Sorkin, após sua terceira temporada.

Acho uma pena porque a série é realmente um interessante modo de conhecer o que existe por trás das câmeras televisivas. Como profissional ligado ao mundo da comunicação de “massa” vibrei com cada capítulo da série, mesmo se, para os críticos, alguns deles não faziam muito sentido. De qualquer forma, indico muito aos interessados no jornalismo televisivo.

Vídeo do site Omelete sobre a série:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=J6l5evItnY0#t=209]

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