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29 dias no país do Tsunami – Parte 36: Em Banda Aceh

Acordar cedo faz parte da rotina, mas hoje realmente acordamos MUITO CEDO para participar de uma cerimônia em uma pequena vila destruída pelo Tsunami, onde a AMU (Azione Mondo Unito) – Ong que nos trouxe à Indonésia para trabalhar -, ajudou a construir barcos para pesca.

Ali, depois da celebração, comemos arros doce e cocada no café da manhã e logo em seguida uma parte do grupo voltou pra Medan, capital da grande ilha de Sumatra, enquanto eu e o Leonardo ficamos com o Nicolas, Jean Paul, Lambok e um outro indonésio, além de Evy, uma jovem muçulmana de Banda Aceh. Junto deles fomos visitar outras vilas onde eles haviam prometido, quando fosse possível, prover algum tipo de ajuda.

Durante a viagem pude ver lugares realmente destruídos. É muito difícil descrever aquilo que o Tsunami fez… o mar engoliu as praias, dividiu montanhas… Inesquecível.

Almoçamos no caminho e como sobremesa comemos uma “jack fruit” (Jaca) fedida mas muito boa.

Passeamos mais um pouco, fomos à missa e a noite com Evy fomos jantar. Comida deliciosa e depois outra experiência nova: café com um moído de marijuana… estranho e delicioso.

Fiquei feliz de poder conhecer melhor Evy. Uma jovem simpática, divertida… Interessante que, mesmo sendo uma dezena de anos mais velha, não colou obstáculos para que pudéssemos construir um bom relacionamento com ela.

Forte a sua experiência pessoal quando o Tsunami arrasou com a sua cidade, destruiu a universidade e matou grande parte dos seus amigos.

Evy nos contou que passou semanas jogando pessoas mortas no riacho, pois o governo se viu impossibilitado em reconhecer todos os corpos. O cheiro “azedo” de cadáver que ainda se sentia 6 meses depois do Tsunami, me fez imaginar como seria a situação nos dias posteriores às ondas gigantes.

_ Como vocês conseguiam comer com esse fedor insuportável de cadáver? – perguntei inocentemente à minha amiga muçulmana.

_ Não sei explicar. Nesses momentos vivemos quase de maneira inconsciente. Eu só pensava que já haviam muitas pessoas mortas e se eu não comesse algo, me juntaria a elas, o que não ajudaria muito. – respondeu-me com uma simplicidade assustadora, decretando logo em seguida o fim da janta.

Voltando para casa depois desse dia maravilhoso fui dormir imediatamente, procurando me preparar físico-psicologicamente para a longa viagem que faremos amanhã.

29 dias no país do Tsunami – Parte 35: Laços familiares

Hoje acordamos tarde e não fizemos nada de muito importante. Fui antes do almoço com Arckan e os ingleses ver meus emails.

Quando voltamos, almoçamos rápido e depois fomos jogar com as crianças em uma creche perto de casa.

Foi realmente outro dos muitos momentos especiais. Estar com todos aqueles meninos mulçumanos sem nem perceber.

Uma coisa que realmente me impressionou é que os intensos laços familiares dessa cultura permitiram que quase todas as crianças que perderam seus familiares no Tsunami fossem acolhidas em uma “nova casa”. Provavelmente de um tio ou tia de segundo ou terceiro grau.

No final da tarde fomos para casa e esperamos até a hora da missa. A segunda desde que chegamos na Indonésia e em uma igreja totalmente destruída, vazia, verdadeiro sentimento de “abandono”.

Logo depois, para festejar a nossa presença fomos convidados pelas focolarinas a comer na KFC e a minha fome “ocidental” me fez comer que nem doido.

Voltamos para casa bem cansados, sobretudo interiormente, conversamos um pouco e fomos dormir.

 

28 dias no país do Tsunami – Parte 34: o inacreditável em Aceh

Hoje foi um dia inesquecível.

Depois de acordar e tomar café fomos ver como tinha ficado a cidade de Banda Aceh, capital da região e lugar mais próximo das ondas gigantes que engoliram o sudoeste asiático.

Toda a beleza que tinha visto nos dias precedentes tinha desaparecido.

Ver aquilo que o Tsunami havia destruído me transformou profundamente, ma um acontecimento em especial é difícil de esquecer.

Enquanto percorríamos com o carro os poucos quilômetros de distância que nos separavam do centro da cidade, a vegetação cobria como um véu tudo aquilo que nem em sonho imaginávamos ver.

Assim que passamos a fileira de palmeiras uma visão curiosa. Um barco enorme, em meios as casas, no centro da cidade. “Cadê o mar?”, pensei, temeroso de não transformar em palavra meus pensamentos por não saber o que poderia receber como resposta.

Nos aproximamos e aquilo que parecia ilusão se materializava diante dos nossos olhos. Um enorme navio,  de dimensões desconhecidas para mim, no meio da cidade, sobre 4 casas e 7 quilômetros de distância do mar.

Aquela cena de filme se transformou em Thriller quando soubemos que em cada uma dessas casas havia uma família, que não pôde ser salva à tempo.  Aquele grande navio que, disseram, se transformaria em memorial ao Tsunami, era a tomba daqueles indonésios.

Contar essa experiência parece banalizar aquilo que meu coração sentiu. Vemos esporadicamente em filmes e nas “pseudo-ficções” dos telejornais em todo mundo catástrofes naturais e o sentimento é quase de indiferença. Olhar com os próprios olhos, sentir o choro desesperado das pessoas, o cheiro da putrefez dos corpos, transforma essa visão e o valor que damos a cada coisa de nossas vidas.

Paro por aqui, pois em vez de escrever, explicar, tanto, prefiro meditar sobre tudo aquilo que vi.

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29 dias no país do Tsunami – Parte 33: Rumo à Banda Aceh

Existem algumas experiências particulares que fazemos durante a nossa vida que de certa forma ficam marcadas, pela profundidade ou pela estranheza.

Uma dessas experiências estranhas eu vivi  em Aceh, naquela noite em que chegamos na cidade.

Depois de comer bem, afinal de contas sentia um certo merecimento depois de quase doze horas de viagem com Ponty dirigindo pelas estradas de Sumatra, no caminho de Medan à cidade que sofreu com os catastróficos Tsunamis de dezembro passado.

Mas enfim, depois daquela “buonissima” refeição no KFC fomos a um mercadinho comprar algo que não havia entendido o quê.

Estranhei ao ver Ponty cochichar algumas palavras no ouvido do vendedor e tive um lapso de medo ao pensar o que ele poderia tera pedido (Ponty sempre foi imprevisível).

Depois de alguns minutos o vendedor chegou com passos apressados e um saco preto na mão que em alguns segundos já estavam no porta-malas do nosso carro.

O que será que tinha nele? Preferi parar de pensar!

No caminho para casa Ponty começou a explicar que estávamos em uma cidade di tradição muçulmana e que teríamos de ter alguns cuidados especiais para respeitar aquele ambiente.

Foi interessante ouvir tudo aquilo. Saber que a Indonésia era o país mais muçulmano do mundo e fazer o esforço cultural de entrar em um ambiente que não estava acostumado.

De qualquer forma continuava curioso em saber o que havíamos comprado com tantos cuidados.

Chegamos em casa, Ponty tirou cuidadosamente o saco preto do porta malas, levou até a mesa da cozinha da casa em que estávamos hospedados e quando abriu…

… Um susto e muitas risadas!

Aquilo que havíamos comprado ilegalmente, no contexto muçulmano, eram somente algumas garrafas de cerveja.

29 dias no país do Tsunami – Parte 32: Amigos pernilongos

Como poderia contar às pessoas tudo aquilo que vivi hoje?

Depois de tentar dormir com uma infinidade de pernilongos que mi picavam durante toda noite partimos em direção à Banda Aceh.

Chegamos em uma pequena vila e ajudamos os moradores na construção de barcos e pela primeira vez avistei o mar do Tsunami.

Tenho que admitir que imaginava ver uma situação mais catastrófica, cenas de verdadeira destruição, mas não, felizmente aquela região não sofreu tanto com as ondas gigantes. Tudo ainda era muito verde e bonito.

A grande aventura, na verdade, foi entrar nos barcos que ajudamos a construir e fazer um passeio, depois de ter participado de um verdadeiro banquete que foi preparado para nós.

Em seguida pegamos de novo a estrada e viajamos em direção à Banda Aceh, a capital da província.

Depois de uma longa e muito perigosa viagem com Ponty chegamos e fomos diretamente à Igreja para assistir à missa. Foi realmente um momento especial poder receber a Eucaristia dois dias seguidos na Indonésia.

Após a missa fomos comer no famoso KFC local. Há muito tempo não comia tanto… dois “chicken burgers”, batata frita, Pepsi e sorvete.Tudo ENAK (“delicioso” em Bahasa).

Agora estamos em casa, alugada pela comunidade dos Focolares. Muito bonita e grande. Tomamos banho e agora vamos dormir.

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