Linha Vermelha

Madalena, Iguatemi, Itaim. O que te vêm à mente quando ouve ou lê essas três palavras? Provavelmente os barzinhos da Vila Madalena, as baladas do Itaim Bibi e as compras no caríssimo Shopping Iguatemi.

E quanto ao Parque Santa Madalena? E Jardim Iguatemi? Ou sobre Itaim Paulista? Pois é, esses três locais de fato existem e são bairros da zona leste de São Paulo. E embora sejam bem menos famosos que os badalados points de entretenimento e consumo do lado oeste da cidade, concentram centenas de milhares de pessoas vivendo neles.

Esse exemplo simples mostra o quão diversa e contraditória é a cidade de São Paulo. Ostentação e simplicidade; riqueza e pobreza; condomínios de luxo e moradias em áreas de risco; grifes internacionais e pequenas lojas de produtos a R$ 1,99; arranha-céus e chácaras que lembram o começo do século XX.

A capital paulista vai muito além dos locais midiáticos. E nem é preciso ir muito longe. Basta ir além da linha vermelha, por exemplo. Sim, aquela mesma que vai da Barra Funda até Itaquera. Como praticamente todo o trecho leste corre em superfície, é bem interessante notar como a paisagem vai mudando conforme o trem avança zona leste adentro. As grandes torres residenciais pouco a pouco dão lugar a casas mais modestas, prédios mais baixos até chegar ao terreno ainda pouco ocupado nos arredores da estação Itaquera – o novo estádio do Corinthians já muda a paisagem local

Essa complexidade não pode – ou ao menos não deveria – ser ignorada ou desprezadas por aqueles que vivem na metrópole. Infelizmente ainda é possível notar certo “bullying” contra quem vive fora dos locais “top” de São Paulo.

Causou espanto para mim, por exemplo, quando cheguei à faculdade de Jornalismo na PUC-SP, em 2006, e contava nos dedos as pessoas que sabiam o que era a região do ABC Paulista. Ou então que já tinham ido além da estação Sé do metrô de São Paulo.

Enfim, se quisermos entender a complexidade que nos rodeia em uma cidade que é um verdadeiro minimundo, é preciso conhecê-la, sair dos círculos tradicionais. É preciso ir além da linha vermelha, mas também da azul, verde, lilás (em referência às linhas de metrô da cidade). Para começar, basta virarmos a esquina.

rodrigoRodrigo Borges Delfim, formado em jornalismo pela PUC-SP em 2009, trabalha atualmente na área de Novas Mídias do portal UOL. Interessado em Mobilidade Humana, Políticas Públicas e Religião, desde outubro de 2012 mantém o blog MigraMundo para debater e abordar migrações em geral. É também participante da Legião de Maria, movimento leigo da Igreja Católica, desde 1999.