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No final de semana que passou, pude reencontrar pessoas queridas. Uma ótima oportunidade para partilhar experiências da vida e visões do mundo diante dos últimos acontecimentos que a mídia “escolhe” divulgar.

Em uma dessas conversas identifiquei uma diferença antagônica entre visões de mundo que sempre me incomodou. Enquanto os “pensadores”, sentados em suas cadeiras, constroem, usando a ratio, explicações abstratas, mas verdadeiras, da realidade, os “ativistas”, vivem essa “realidade” de maneira tão intensa, que não conseguem se distanciar criticamente dela. A meu ver, a Verdade é a soma dos fragmentos que habitam em cada ser humano e que emerge do diálogo, da partilha, do equilíbrio, ou mesmo, da negociação entre eles.

Esse antagonismo perturbador veio em evidencia enquanto conversávamos a respeito das decisões políticas do atual governo brasileiro.  O que entendi, pensando nas polêmicas das últimas semanas, é que enxergar essas decisões identificando a sua dimensão “ontologicamente” ideológica é ter a capacidade (e a maturidade) de perceber que, por trás de um aparente desejo de transformação da sociedade, existem sempre interesses específicos, voltados para a manutenção do status quo e do poder de quem está com ele em mãos. Essa é uma característica da política que precisa ser observada, sem ingenuidade ou exageros. Ela existe e pode ter consequências graves, principalmente porque se fecha ao pensamento “oposto”.

Por outro lado, a política (e suas decorrentes decisões) não é feita só de “ideologias”. Existe uma dimensão humana, fundamental, que não pode jamais ser esquecida e, arrisco dizer, que carrega em si a sua derradeira finalidade: o povo.

Muitas vezes, incomodados com os movimentos ideológicos de um governo, nos esquecemos de quem, no final das contas, será favorecido, mesmo que “em curto prazo”. Mais médicos, Bolsa família, Prouni são alguns programas sociais que, mesmo questionáveis, oferecem oportunidades e soluções (parciais, mas existem soluções definitivas?) para cidadãos carentes.

Não acredito que a dimensão humana suprime o questionamento (necessário) das ideologias, de um governo. Mas, acho que, diante de qualquer decisão política, deve-se, antes de tudo, considerar o significado humano, o legado social, que ela possa ter. Uma opinião madura é a média ponderada entre a consciência e o entendimento das ideologias por trás de um governo e do alcance social das decisões políticas. Nenhuma delas é isenta de juízos de valor, mas ambas precisam ser consideradas.