Month: September 2013 Page 1 of 4

O genocídio de professores no Brasil

professores doentes

Talvez eu vá me cansar (e cansar os leitores), mas não consigo deixar de protestar contra a truculência da Polícia Militar que, sistematicamente, tem agredido os cidadãos do país. A minha revolta não é (toda) contra o elemento singular, o policial mal pago que está na linha de frente dos protestos, mesmo ele tendo o “dever moral da desobediência”. O que mais me entristece é aceitação social de uma corporação corrupta, assassina e centrípeta como a Polícia Militar, que não existe para servir o povo, mas para a manutenção dos próprios interesses corporativos.

É uma vergonha, ainda maior, ver alguns policiais militares baterem, descaradamente, na cara dos (poucos) professores que ainda restam nesse país e que lutam por essa classe tão marginalizada. O que foi feito com os profissionais da educação na Câmara Municipal carioca é mais um episódio que nós, brasileiros, deveríamos nos envergonhar.

Como um país vai se desenvolver sem educação? Sem valorizar seus professores? Como tem sido até agora, na malandragem, no jeitinho.

O mais triste é que há anos vem diminuindo potencialmente o número de jovens interessados na profissão de professor.  De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a educação básica brasileira (que inclui a educação infantil, a especial, o ensino fundamental, o médio e a educação de jovens e adultos – o EJA), em 2007 havia 2.500.554 profissionais atuando em sala de aula. No ano de 2009, esse valor baixou para 1.977.978.

Esse verdadeiro “genocídio” de profissionais da educação, fruto das políticas públicas que parecem concorrer para a ignorância coletiva, pode ter consequências ainda mais drásticas do que aquelas que estamos vendo crescer na sociedade brasileira.

Aceitar a violência histórica contra os professores do Brasil é ser cúmplice da falta de consciência cidadã e da desvalorização dos valores morais que estão na base de qualquer Estado-Nação.

Para superar a superficialidade das “News

antropocentrismo

Para descobrir que grande parte das informações que recebemos hoje dos meios de comunicação de massa é “essencialmente superficial” não é necessário ser um especialista no assunto. A fábrica de noticias “fast food” que rodeia a sociedade contemporânea não tem vergonha de criar, constantemente, a ilusão de que, estando “conectados” ao mundo, sabemos o que está acontecendo nele.

Contudo, como explica repetidas vezes Dominique Wolton, produzir informação não é o mesmo que comunicar-se, pois, o quanto no primeiro basta um cérebro e a capacidade técnica, o outro exige “kenosis” (esvaziamento) para colher a Verdade (Alethèia) ou os fragmentos dela, que se manifesta no encontro verdadeiro entre pessoas e/ou acontecimentos.

Para Wolton “os jornalistas devem sair das News” para “buscar as chaves de compreensão dos acontecimentos, ou seja, encontrar a densidade da história por trás da força dos acontecimentos”. As dificuldades metodológicas dessa operação, em um contexto de produção que privilegia a velocidade, o “furo de reportagem”, são inúmeras.

A batalha por uma informação que comunique exige vencer inúmeras batalhas, por quem faz e quem recebe a notícia. No caso dos jornalistas, afirma Wolton, eles “têm a temível responsabilidade de informar, sem retomar sistematicamente o discurso dos atores políticos, mas também nem sempre tendo os meios para suas investigações”. Existe também o desafio de superar estereótipos, cliques e representações em que os intermediários do conhecimento “deformam muitas vezes a apreensão da realidade, e o trabalho do jornalista consiste, sobretudo, em desconstruí-los”.

No que diz respeito à sociedade, caberia, talvez, a ela exigir uma convenção internacional sobre a informação e a imagem que garantisse os direitos e deveres dos jornalistas, valorizando possivelmente a existência de códigos deontológicos comuns. “Tal convenção permitiria também definir as responsabilidade de cada um: jornalistas, editores, empresários, poder publico, políticos e etc. em um mercado da informação cada vez mais contraditório”, afirma Wolton.

Em ambos os casos é fundamental um retorno ao ser humano, na sua alteridade e ontológica “relacionalidade”. Quando se coloca o bem, individual e coletivo, dos sujeitos envolvidos no processo comunicacional, considerando-o elemento-chave da comunicação de massa, redimensionam-se todas as metodologias e as consequências em relação ao valor da informação são profundas.

Quando se deve escolher Viver

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A vida urbana é um marco na evolução da humanidade. Encontramos um modo de partilhar o espaço social, manipular os recursos naturais para o bem comum e, assim, trocamos o nomadismo e a barbárie, pela cidade e a ordem social.

O parágrafo acima poderia provavelmente ser encontrado em qualquer livro de história. É uma análise fria e, de certa forma, coerente se observamos o percurso histórico milenar do ser humano. Contudo, partindo dos parâmetros atuais, isso não significa, de maneira alguma, que estamos vivendo BEM.

A inclusão social e a sociedade digitalizada que caracterizam o contexto urbano moderno permitem (felizmente) que sejamos indivíduos. A conquista de uma concepção de ser humano que garante a sua unicidade e o direito pessoal de escolha aumenta o número de pessoas envolvidas nas dinâmicas sociais. Mas, ainda existem outros milhares de excluídos, diariamente silenciados, principalmente nas periferias.

Só por esse motivo o “bem comum” da vida urbana é questionável. Enquanto ela gera exclusão não pode ser enquadrada como última etapa do desenvolvimento humano. Existe uma “existência social”, fora dos grandes centros, mais harmônica, mesmo se talvez menos “conectada”, que têm muito a dizer a respeito do modo como vivemos.

Lembro-me que, quando estive na Indonésia pós-tsunami, viajando com um grande amigo nativo, perguntei a ele o porquê se viam tantos jovens sentados nas calçadas conversando enquanto tinham todo o país para reconstruir. “Eles já têm tudo”, respondeu-me, o que fazia sentido, pois diante de uma catástrofe, o bem maior é a própria vida. Casas e coisas materiais podem ser reconquistadas com o tempo.

Aquela lição me fez perceber o quanto é fundamental procurar um equilíbrio para a nossa vida. Dentro do contexto urbano nós aceitamos, em prol do bem estar material, um ritmo de vida homicida, que diminui a nossa expectativa de vida de maneira relevante e pior, transforma o nosso bem supremo em simples “sobrevivência cotidiana”.

Do outro lado do planeta, no imenso país do sudoeste asiático, as pessoas trabalham, seguem suas vidas, com (talvez) menos benefícios tecnológicos, enquanto nós, nas grandes cidades do Brasil, nos conformamos com o “ensardinhamento” cotidiano no transporte público, uma jornada de trabalho de 10 a 12 horas, a crescente quantidade de moradores de ruas e inúmeros outros dramas que geram ainda mais exclusão e desigualdade.

Por isso vivemos pouco. Por isso vivemos mal. Aceitando ambos sem ao menos refletir. E assim a vida se consome rapidamente.

A santidade pelos olhos agnósticos

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Santidade. Para mim, que sou católico, é já difícil entendê-la conceitualmente, mas imagine para alguém que se nega a aceitar a existência de um Ser transcendente? Claro que, quando consideramos “figurinhas carimbadas” como Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Francisco de Assis e, nos tempos de hoje, Madre Teresa de Calcutá e Karol Wojtyła, parece ficar um pouco mais fácil “acreditar” que existem pessoas especiais que, com seu testemunho de vida, transformaram a sociedade/comunidade em que estavam inseridos.

Infelizmente, hoje a santidade é ignorada por ser um conceito essencialmente religioso; por ser interpretada como um tipo de fanatismo idealista em relação a uma determinada pessoa; por ser vista como crença ingênua, irracional, de que, pedindo (rezando) para “intercessores” as situações – principalmente ruins – podem mudar.

Essa visão – ou essas visões – limitada do significado de santidade acaba ocultando aquilo de mais “gritante” que os santos carregam para todos, independentemente do credo ou mesmo na ausência dele: a radicalidade e coerência de vida, baseadas naquilo que se acredita ser bom, não só para si ou para um grupo restrito, fechado, mas para toda a sociedade. Viver dessa forma é tão difícil quanto possível e a história da jovem italiana Chiara Badano, contada pelo agnóstico Franz Coriasco, é um exemplo incontestável de “modernização” da santidade.

Francisco de Assis, Madre Teresa e Chiara Badano “se encontram” na mesma radicalidade e coerência; na mesma simplicidade e existência direcionada aos outros; sendo, contudo, cada um deles, “senhores do próprio tempo”.  Chiara, por exemplo, usava calça jeans, gostava de esportes, não era dotada de inteligência ou beleza notável, não era alguém “especial” que se destacava pelo que se poderia observar “com os olhos”, encontrando-a pela rua, mas, como diria Antoine de Saint-Exupéry: “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. Isso fez o seu testemunho silencioso, até quando milhares de pessoas de todo o mundo tiveram a possibilidade de conhecer a sua história.

A “incapacidade” de colher a “mensagem” que a vida de Chiara Badano comunicava (e ainda comunica) está nas entrelinhas do livro “25 minutos” de Coriasco. Racionalmente o biógrafo de Chiara reconhece e acredita na grandeza da sua conterrânea de Sassello, norte da Itália, mas, interiormente, não consegue assimilar a essência dela. Será?

Tenho me debruçado em inúmeras biografias. Steve Jobs, Einstein…, mas a história de Chiara, “Luce” para os católicos, exala uma beleza instigante e faz perceber que a vida é muito curta para ser desperdiçada com projetos medíocres. Isso sim é exemplo de vida, testemunho cristão, ou melhor, santidade.

PS: A SARAIVA está vendendo o livro por R$17,00.

A primeira gestação matrimonial

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Há um pouco mais de dois anos, com minha então namorada e agora esposa Flavia, decidimos nos casar. Não foi nem um momento traumático, como se pode, talvez, imaginar, nem algo mágico, romântico, como as mulheres costumam idealizar, principalmente aquelas que baseiam suas experiências de vida nos filmes hollywoodianos. Foi uma decisão simples, pensada juntos, com alegria e serenidade.

Bom, cada vez mais eu percebo que o casamento tem realmente pouco a ver com “romantismos”. Digo isso, não porque desprezo gestos sinceros, simbólicos e românticos, muito pelo contrário, sei muito bem o valor e o significado disso para grande parte das pessoas, principalmente aquelas de duplo cromossomo X. Só acho que supervalorizá-los pode criar frustrações e tirar o foco para o que realmente importa na vida a dois: o companheirismo cotidiano.

Ontem, 22 de setembro, festejamos nossos nove meses de aventura em família. Não foram só rosas e muito menos espinhos que “enfeitaram” nosso casamento até agora. As dinâmicas, descobertas, dores e alegrias, nos levaram a reconhecer o “abismo do outro” que pode ser, sim, trabalhado, mas somente se, à priori, aceitamos o “diferente” assim como ele realmente é.

Essa experiência cíclica permeou a nossa primeira “gestação” matrimonial. Foram meses de um contínuo recomeçar que, contudo, provavelmente continuará nos próximos 9 meses, 9 anos, 9 décadas….  Tudo na simplicidade do companheirismo cotidiano. No calar e escutar, no respirar e falar, no infinito amar.

Isso faz do casamento algo tão bonito porque real, simples, possível. E sem dúvidas, dia após dia, acredito que posso repetir: foi a melhor coisa que eu fiz na vida.

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