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Antes de escrever esse post, passei alguns dias refletindo, tentando entender o debate em relação à necessidade de mais médicos, que culminou com a vinda de profissionais cubanos para trabalhar nas “periferias” do Brasil.

Primeiramente, critico todos os jornalistas, médicos, políticos, o Dimenstein, e tantos outros que estão levando o debate para os extremos. A verdade é uma soma de fragmentos e qualquer escolha adotada, por melhor que seja, não conseguirá jamais englobar todos os aspectos que envolvem a discussão. Não adianta banalizar ou polemizar. Aqueles que se fazem “defensores dos pobres” ou “corporativistas” precisam entender que o “melhor caminho” está no diálogo construtivo, colaborativo. Não se melhora a vida de ninguém com ataques (racistas) aos estrangeiros que veem ao país para trabalhar para quem precisa e, muito menos, com o descaso perante a classe médica..

Pois bem. Ontem, acredito, a situação chegou ao limite. Pior, as hostilidades direcionadas aos médicos cubanos que chegaram para trabalhar no Brasil tiraram o brio, visível nas manifestações de julho, de um povo unido, gigante, que luta pacificamente pelos seus direitos.

Não. Ontem, infelizmente, vimos uma triste faceta do brasileiro. Racista e maquiavélica. De racismo, nem vou me estender muito. Fui vítima, na Itália, e posso dizer que esse é um mal que não se cura com simples desculpas. Os seres humanos que vieram de Cuba (e poderiam ter vindo de qualquer outro lugar do mundo) devem ser respeitados. Atacá-los, para assim atacar o governo, é fazer uso de um maquiavelismo que divide e causa sequelas em outro povo que, no futuro, será causa de arrependimento. Cuidado.

Mas, o que me causou, desde o início, certa impressão, é o fato de a classe médica estar tão uníssona na revolta contra as medidas adotadas pelo governo em relação à saúde. Entendi que é só se sentar ao lado de um médico ou ler alguns relatos nas redes sociais, para entender que o problema “é muito mais embaixo”. A formação dos médicos e as condições de trabalhos são a ponta do iceberg de um problema estrutural que se estende há muitos anos.

Posso dizer, com (certa) sanidade mental, que os médicos – na teoria – são SERES HUMANOS, dotados de uma vocação e formação especial para lidar com VIDAS. Mesmo que alguns ainda acreditem o contrário: eles não são super-heróis. Para trabalhar, os médicos precisam de hospitais, laboratórios, equipamentos, pessoal capacitado, isto é, um contexto adequado. Sem isso, mesmo que ele seja branco, preto, brasileiro, estrangeiro, bem formado ou mal formado, nada vai adiantar. Repito, eles não são super-heróis.

Digo isso, porque acho um absurdo algumas pessoas chamarem de corporativista a luta dos médicos por medidas complexas, mudanças efetivas, um projeto À LONGO PRAZO para o sistema de saúde no Brasil, que dessa forma, beneficiaria realmente todos. Isso deveria acontecer em todas as esferas da sociedade, mas talvez só na próxima onda de manifestações.

Porém, como tudo na vida, essa situação também tem “outro lado”, o do doente, que precisa do médico. E diante deles, o que fazer? Bom. Se alguém tiver uma solução simples para um problema tão complexo, por favor, se manifeste. Pois, as ineficiências englobam, desde a formação técnica (e humana) dos médicos, até o descaso de um projeto político que há décadas não se importa com Norte e Nordeste do país.

O descaso do governo, olhando da perspectiva do doente, tem nome, família, história. Não dá para fechar os olhos para quem precisa. É fundamental procurar alternativas, um esforço conjunto que procure dar assistência para os mais necessitados.

Não dá para ignorar que existe, sim, uma dose de heroísmo, de solidariedade, que é capaz de superar as dificuldades materiais. “Largar mão” e esperar um contexto perfeito promovido pelo Estado é uma omissão que irá sacramentar ainda mais vidas. E se, mesmo assim, um médico não se achar pronto para enfrentar tamanhas dificuldades, que ao menos respeitem e aceitem que, de fora, outros médicos façam algo para quem precisa.

Acredito que, no final, é sempre uma escolha. Quem aceita enfrentar as dificuldades sempre dá um passo decisivo em relação ao outro, ás vezes com requintes de martírio. Mas, nesse país, tão carente de tudo, devo dizer que este não é um privilégio da classe médica.