O-padrão-Globo-de-manipulação

As reflexões a respeito da obra “É preciso salvar a comunicação” de Dominique Wolton, comunicólogo francês que faz uma leitura brilhante da comunicação, continuam, mesmo depois de uma longa pausa. Enquanto partilho questionamentos em torno deste livro que concluí, continuo me deliciando com outra obra “Informar não é comunicar”, que, de certa forma, é um complemento sintético do pensamento do autor.

Um dos aspectos mais importantes levantados por Wolton, na minha singela opinião, trata do estatuto do receptor. Nele, o autor discute o significado da alteridade, da aceitação do outro, essencialmente diferente.

Existe uma corrente de “comunicólogos”, principalmente de leitura marxista, que vê o receptor de uma mensagem (informação) como um indivíduo profundamente manipulado pela mídia, que produz as informações de acordo com seus próprios interesses.

Mesmo sendo uma questão complexa, eu me coloco “ao lado” de Wolton, acreditando na inteligência e autenticidade do receptor da mensagem-informação. Os indivíduos aprendem a resistir e até podem ser dominados pela comunicação e pelas mensagens, mas não são alienados. O receptor, afirma Wolton, “conserva a sua capacidade de dizer não, ainda que de maneira silenciosa”.

Essa questão, de certo modo polêmica, esbarra justamente no modo como o indivíduo é visto, dependendo dos interesses de quem promove uma determinada ideologia. Quando simples receptor de uma mensagem, ele é visto como passivo e manipulado, mas se é consumidor de um produto ou serviço, ou se a sua opinião conta em uma pesquisa IBOPE, o indivíduo é inteligente e ativo.

Dessa forma, seguindo as “trilhas” de Wolton, é fundamental redescobrir o importante papel do receptor dentro dos processos comunicativos (que não são exclusivamente relacionados à recepção da informação, mas também englobam as diferentes formas de participação política).

Nossas sociedades redescobrem a identidade de maneira relacional, isto é, no olhar para si mesmo e na abertura (e no respeito) para o outro e para o mundo. Assim, repensar o papel do receptor das informações, das imagens, dos dados, das mensagens é discutir por quem, para quem e com qual respeito à alteridade cultural eles são feitos. É repensar a democracia. Segundo Wolton, “o receptor dos países menos avançados é o contestador de amanhã. Hoje ele quer menos desigualdade; amanhã, desejará, com razão, mais respeito à diversidade”, tanto no aspecto sócio-político, quanto no aspecto cultural.