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Eu sempre achei que o casamento era sinônimo de família. A maior “revolução” na vida de uma pessoa é unir-se a uma “outra”, igual em dignidade, mas profundamente diferente. Talvez, por isso, o casamento seja algo tão grande; por isso que muitas pessoas têm medo ou, por outro lado, romantizam, se iludem, achando que ele, por si só, já basta para ter/ser uma família.

Contudo, na prática, é tudo “outra coisa”. Descobrir que a família não se limita à simples união física entre duas pessoas foi, para mim, perceber que o casamento é só o primeiro passo.

Família, se constrói no dia a dia, na harmonização de sonhos, exigências, manias, projetos… no respeito mútuo, no investimento contínuo de caminhar em direção ao outro. Tudo isso gera muito desgaste, exige muito mais investimento de energia, mas sem viver essas dinâmicas “difíceis” não se constrói uma família “de verdade”.

Bom! É essa também a minha leitura sobre a incrível “Revolução do vinagre”.

Hoje eu acordei cedo, como tantas outras terças. Tomei café da manhã e saí de casa, rumo ao metrô.  Chegando lá, nenhuma surpresa: a passagem ainda custava R$3,20 e o metrô ainda estava lotado.

Imediatamente me veio a imagem da linda manifestação de ontem… milhares de pessoas em São Paulo, que “contaminaram” o país, mostrando visivelmente uma insatisfação com o “status quo” e exigindo mudanças.

Indo, hoje, para a 6ª manifestação em três semanas, qual o balanço positivo de tudo isso? A situação mudou? O governo voltou atrás? Não!

Contudo, neste caso, não valem só as questões materiais. O “movimento” instituiu uma nova cidadania entre os paulistanos. Renovou a consciência e a esperança de que “o povo unido” é a explicação para estarmos vivendo em uma democracia.

Mas, desculpa a sinceridade: esse é só o primeiro passo!

Como o casamento não é sinônimo de família, manifestação não é sinônimo de revolução. As mudanças que já acontecem na cidade, estão sendo feitas por grupos menos “visíveis”, que procuram, de maneira séria e organizada, dialogar com o poder público e exigir dele uma postura cidadã.

Um exemplo, que eu conheço e acompanho de perto, é o movimento dos ciclistas. Já no período das eleições ele fez os candidatos assinarem um termo de compromisso com as causas que ele defende. Atualmente, após alguns casos tristes de violência contra ciclistas na cidade, o movimento se organizou, elaborou propostas e se encontrou com o prefeito Haddad e a Secretaria de Transporte para exigir mudanças.

O sucesso desse diálogo são algumas garantias importantes, como a ciclovia no percurso da linha de monotrilho da zona leste de São Paulo e a campanha por respeito aos ciclistas que será lançada brevemente.

Isso é “grande coisa”? Não. Resolve o problema da mobilidade na cidade? Também não. Mas é uma mudança concreta, é nasceu do esforço de estabelecer a mesma harmonização de sonhos, exigências, projetos… e, principalmente, do respeito mútuo.

Estou torcendo para que, quem tem participado das passeatas, se dê conta da dificuldade que é ser um SUJEITO POLÍTICO ATIVO e os grandes desafios de transformar concretamente a cidade. Não é fácil trabalhar em conjunto, “politicamente”, em prol dos direitos coletivos, por meio do diálogo e não na gritaria.

Contudo, desta consciência, que nasceu das passeatas, eu acredito que podem surgir coisas maravilhosas para todos, mas é importante não “se bastar” e ter a coragem de dar o segundo passo.