Responder a pergunta que intitula o livro de Luís Sá Martino é mergulhar na sua tese sobre o momento em que a comunicação de massa se encontra atualmente.

Para Martino, a partir da década de 90, a geração de universitários “tem dificuldade de sair da crítica ao senso comum”. Dessa forma o autor sugere um estudo da comunicação que aprenda “a encontrar referências na filosofia, sociologia, antropologia” entre outras disciplinas.

Tentando superar essas dificuldades geracionais e iniciar um estudo transdisciplinar, comecei recentemente a trilhar um percurso de estudos que busca resgatar a dimensão relacional (normativa, segundo Dominique Wolton) da comunicação, para superar o drama do “transmissionismo” que ignora o sentido ontológico de “troca” que define a “communicatio”.

A obra de Luís Sá Martino se situa dentro de duas escolas importantes do estudo da comunicação: A Escola de Frankfurt e a escola de Estudos Culturais.

Dedicando-se primeiramente aos Estudos Culturais Martino apresenta as principais características da escola e a importância que a mesma dá em identificar a comunicação de massa como prática cultural, envolvendo-se porém diretamente com as relações de poder.A escola de Estudos Culturais – que não é formalmente uma escola, mas uma corrente de estudos – tem pressupostos relacionais, buscando sobretudo revolucionar o método de investigação científica, adaptando-o a diferentes contextos e assim, abrindo-se aos diferentes receptores.

Em seguida Martino se ocupa da Escola de Frankfurt evidenciando as consequências da imagem como mercadoria e o cotidiano “espetacularizado” pela comunicação de massa. Walter Beijamin, Debord, Morin, ilustram os questionamentos do autor em relação aos aspectos levantados e dão uma visão geral do problema, propositalmente não aprofundado na obra.

O último capítulo se ocupa da crise da liberdade, onde a comunicação, dentro do cenário de manipulação, serve hegemonicamente para impor uma escolha. Ela – a comunicação – transforma-se em instrumento de dominação, não de troca, que repercute também na concepção do que é real.

Um livro interessante que introduz o leitor as problemáticas correntes da comunicação, mas que, ao meu ver, se limita a perspectiva frankfurtiana, historicamente condicionada a uma visão majoritariamente critica e pouco produtiva.

Contudo, a obra consegue evidenciar a necessidade (urgente) de construir um novo modelo de comunicação, que leve em consideração o processo comunicacional como troca, que recupere o importante papel do receptor, na sua complexidade tridimensional[1].


[1] O conceito de ser humano tridimensional emergiu da tese no Instituto Universitário Sophia que buscava entender os aspectos  fundamentais do ser humano, que o identifique universalmente e singularmente. Baseado na antropologia filosófica chegou-se  concepção de homem que se relaciona consigo mesmo (intelecto), com o outro (essencialmente diferente) e com o mundo (que permite as questões fundamentais sobre a sua existência – Deus, a morte).