Nem uma semana de Brasil completada e já pude me encontrar com o mistério da morte.

Além do vazio interior por não ter participado da experiência dolorosa de perder, pouco a pouco, um ente querido e da incapacidade de comunicar palavras que suprimissem a perda, pude, pela primeira vez, vislumbrar o BEM da morte.

Devaneios a respeito do significado de uma vocação têm me feito pensar nos SIM que damos cotidianamente e que produzem frutos positivos e negativos para a humanidade.

Olhando o corpo do meu grande amigo, exemplo de pai, marido, cidadão, percebi o quanto as respostas às nossas vocações[1] têm influencia direta na vida das pessoas que encontramos.

Acredito ser pouco discutível o fato de que estamos interligados em profundas relações que nos condicionam a uma vida melhor ou pior, a uma felicidade maior ou menor, a um BEM maior ou menor.

Um jovem que decide ser médico por vocação irá se desenvolver potencialmente, criar novos tratamentos, vacinas, que trarão benefícios à toda humanidade. Um piloto de avião com o mesmo desejo procurará realizar bem seus treinamentos conduzindo com segurança os deslocamentos de vidas. Um casal que decide estar juntos para sempre, superar as adversidades da vida, não somente porque estão apaixonados, mas pensando no projeto social que existe por trás de uma família, edifica um suporte eficaz para as gerações posteriores.

Os exemplos citados de “Sim” vocacionais para as diferentes dimensões da vida, produzem um efeito direto na vida de outras pessoas e da sociedade como um todo.

Tenho identificado uma crescente, e preocupante, banalização do significado de vocação. Vejo que o termo é usado somente em âmbito religioso, diretamente relacionado às pessoas consagradas, mas qualquer ser humano precisa descobrir qual é a própria vocação, o motivo pelo qual ele é chamado a viver e como deve buscar a fundamental felicidade pessoal afim de que ela possa enriquecer não só a própria vida, mas a sociedade como um todo.

O BEM que encontrei com a morte do meu grande amigo foi perceber que os resultados desses SIM às nossas vocações ficam, independente da nossa presença corporal nesse mundo.

Vocação, vida, relação… termos que professam uma mesma realidade que nasce da resposta (e da fidelidade) que procuramos dar à nossa passagem neste mundo e que o transforma, para o BEM ou para o “menos bem”.


[1] Vocações no plural porque não acredito que um ser humano é definido e definível por uma única dimensão, mas que deve responder a um cômpito específico em diversos âmbitos da própria vida: espiritual, profissional e etc.