Assistindo ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que esta semana entrevistou o humorista gaúcho Rafinha Bastos, eu pude perceber o porquê nutria uma certa dificuldade em aceitar alguns tipos de comportamento advindo da cultura gaúcha.

Tenho muitos amigos gaúchos, pessoas que sinto um carinho e uma grande admiração, tanto pelo caráter, quanto pelo orgulho que exprimem por fazerem parte de uma região tão rica em natureza e cultura.

Contudo sempre acreditei que o orgulho do povo do Rio Grande do Sul, traduzido em um bairrismo tantas vezes desmedido, era quase sempre sinônimo de arrogância e de um comportamento separatista, que não quer partilhar o bom que tem e tenta diminuir aqueles que são diferentes.

Assistindo ao gaúcho Rafinha Bastos, excelente humorista que ficou conhecido nacionalmente pelo trabalho no CQC e também por ter feito uma piada “sem graça” sobre uma cantora brasileira, eu pude perceber as grandes distâncias culturais que ainda existem no Brasil.

O caráter, o jeito de ser e, principalmente, o humor feito no extremo sul do país é completamente diferente do escárnio nordestino, como por exemplo o de Renato Aragão aonde o conteúdo do humor é amenizado pelo caráter brincalhão do povo nordestino e, por isso, raramente levado ao pé da letra.

Rafinha Bastos não é nordestino, mas 100% gaúcho. Tem um humor menos “infantil”, mais irônico, escrachado, pouco refinado, extremamente direto. Características que encontrei em praticamente todo cidadão gaúcho que conheci.

Apesar da admiração pelo Roda Viva, fiquei um pouco decepcionado com o programa pelo pouco interesse dos entrevistados em relação à pessoa Rafinha, com sua família, cultura. Dessa forma a discussão permaneceu nos generalismos comuns nas entrevistas de pessoas ditas públicas.

Quando perguntado se ele se acha arrogante, o humorista gaúcho negou e acrescentou “não… eu gosto de discussões. Eu sou gaúcho. De onde eu vim o meu povo é assim. Um povo que combate, briga e não aceita”. Mas a pergunta seguinte não aprofundou o assunto, ao meu ver, extremamente necessário para entender o humorista.

Assistindo ao programa me dei conta da necessidade de conhecer melhor as diferentes culturas que enriquecem o Brasil para que elas não sejam motivos de divisão e preconceito (internos ou externos).

Por outro lado, não concordo com a postura “independente” defendida por Rafinha Bastos, justificada pelo fato de ele ser humorista. Como comunicador (de massas, porque trabalha na televisão) ele precisa também assumir a responsabilidade pelo que diz e, sobretudo, aceitar o fato de não sendo compreendido (muitas vezes por culpa dele). É importante que ele conduza o público no entendimento e apreço ao seu gaúchismo, que nada tem a ver com arrogância ou separatismo, mas é um jeito diferente de fazer rir.