O passar dos anos evidencia em uma família a sua vocação de estar sempre crescendo e assim “transmitir” ás gerações sucessivas, o grande privilégio de viver e poder encontrar-se pessoalmente com a almejada felicidade.

Só que um elemento imprescindível para o crescimento de uma família é a necessária união entre duas pessoas que, atraídas pelo amor recíproco, desejam encontrar essa felicidade juntas.

Porém, até ter certeza que é esse o caminho, essa é a pessoa, passam-se anos de um “fadigoso” auto-conhecimento e conhecimento do outro. Inúmeros encontros, reencontros e desencontros, processo de criação colaborativa que define o futuro dos dois amantes.

Todas as conquistas desse período são, sobretudo, etapas da preparação para o verdadeiro desafio que é a vida a dois.

Nós, muitas vezes, impulsionados pelo amor-sentimento, esquecemos que viver plenamente o “até que a morte os separe” envolve também outros dois pilares que vão além da simples vontade de ser feliz “pra sempre” acompanhado.

O primeiro desses pilares é o amor que é compromisso social, onde, formando uma célula comunitária nos tornamos partícipes da composição orgânica da sociedade. O filósofo grego Aristóteles afirmava que a família é a comunidade política fundamental, onde se fundam e são vividos os laços sociais de fraternidade que depois são reafirmados entre os vizinhos até chegar a polis, cidade.

Vemos que hoje a humanidade vive uma forte crise de valores que descaracterizou e quase exterminou a “instituição” família. Desta forma, sustentar a convivência familiar é permitir que muitos dos valores positivos sobrevivam também no contexto social.

O segundo pilar que evidencia a importância da união entre duas pessoas tem a sua origem no livro dos Gênesis. “E Deus criou o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (Gn 27). Esse homem criado a Sua imagem e semelhança, é homem e é mulher, é humanidade.

Através do estudo antropológico dessa história, que se assemelha a outros diferentes contos mitológicos da antiguidade, é possível perceber que, acima de tudo, a união entre homem e mulher é constitutiva da humanidade.

Esse texto, divinamente inspirado e revelado na bíblia, mostra que a união entre um homem e uma mulher é a realização plena, é encarnação do amor divino, que se exprime desde o início e que continua a ecoar na sociedade, sempre que novas uniões “no nome Dele” se repetem, quando um novo sacramento do matrimônio é celebrado.

Então, casar passa a ser também co-criação, manifestação do divino no humano. É possibilidade de levar Deus – amor as pessoas, e ser a verdadeira divina humanidade.

Além desses dois pilares, social e divino, existem um outro, tão imprescindível como os demais, mas que optei por citar por último, pelo seu aspecto claro, evidente, sensível: o amor erótico.

Esse sentimento fundamental nos faz amar exclusivamente uma única pessoa e encontrar nela uma realização que se manifesta de forma única, gerando o desejo de uma fusão completa.

Porém a sua natureza, exclusiva e não universal, se não é vivida juntamente com outros dois pilares constitutivos da vida “à dois”, pode se tornar a mais egoísta forma de amor que existe.

Amor social, amor vocacional, amor exclusivo. São os meus votos para o presente, meus votos para o futuro de vocês dois.

 

Antes de concluir essa reflexão, gostaria de ressaltar a importância da comunidade para a sobrevivência e a fidelidade aos votos que uma nova família faz.

Para mim, o noivado, é a festa comunitária que celebra a vontade de dois jovens que juntos decidiram percorrer os últimos passos que levam ao SIM definitivo.

O que as vezes é difícil de entender é admitir é que nenhum casal é capaz de sustentar esse SIM sozinho. Sem a comunidade um relacionamento não sobrevive por muito tempo, não consegue viver plenamente todas as dimensões “matrimoniais” necessárias.

Por isso, é responsabilidade da comunidade, sobretudo das famílias, apoiar, ajudar, orientar, na Verdade, o que os dois filhos decidiram. Da mesma forma é imprescindível que eles escutem, valorizem e acolham os conselhos das famílias.

Eu, nós, pessoalmente, estarei fisicamente longe mas, com a Flavia, antes de tudo quero agradecer a Deus e aos noivos de poder estar presente nesse momento especial para eles e para as nossas famílias; depois me comprometo a viver, rezar e oferecer cada alegria, cada desafio, dor, por essa preparação ao casamento.

Tenho a profunda convicção de que, se vocês procurarem viver, já agora, respeitando todos os aspectos que procurei descrever, tanto o presente, quanto o futuro de vocês será testemunho e manifestação plena do amor de Deus por vocês.

Tamo junto!